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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->31. FERNANDO -- 23/06/2002 - 07:01 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desde pronto, Fernando percebeu que não iria ficar sossegado com Dolores fora. Ficara estático com a intempestiva arremetida. Quando deu com a concretização do fato, era tarde para correr-lhe atrás. Para onde poderia ir? Certamente para a casa de Maria. Ou da irmã. Estava habituando-se a ficar longe do lar.

Que diria ela ao chegar à casa da viúva? Fernando não atinava com as explicações. No caso da irmã, ambas poderiam amparar-se. Havia laços de sangue. Na casa de Maria, o transtorno do passamento recente. Resolveu ligar para Judite:

— Pronto!

— Judite?

— Sim.

— É o Fernando. Olha, se Dolores aparecer por aí, me avise. Tá?!

— Que aconteceu?

— Briguinha de casal. Nem discutimos. Ela resolveu sair, talvez para que não houvesse nada sério. Não quer que eu vá ao centro espírita. Sentiu-se abandonada, sozinha em casa. Pode perguntar a ela. Está querendo dar uma “dura” em mim.

— Vou deixar nas mãos dela...

— Mas, pelo menos, me avise. E se acontecer alguma coisa na rua?

— Vou ver o que será possível arranjar.

— O que você puder fazer, eu lhe agradeço.

— Até mais.

Fernando desconfiou de que Judite não iria esforçar-se por remeter de volta a irmã. Que fazer? Estava indeciso. Claro que, se ligassem, iria imediatamente em busca da esposa. As coisas estavam saindo-lhe das mãos. Era preciso controlar-se. Jesus bem que avisara que não viera para unir. Mas não constava que iria separar os casais. Os pais dos filhos. A sogra do genro. Os irmãos entre si. Mas marido e mulher...

Começou a admirar certos casais que admitiam religiões diferentes. Bem pensando, até ouvira Dolores, certa vez, estimulando que se unissem os casais e que discutissem os pontos divergentes de suas religiosidades. Quem estivesse com a verdade, venceria. Agora era ela quem partia...

Passou-lhe pela idéia que iria ser apenas testado. Não gostou. Preferiu adivinhar na atitude da esposa sinceridade absoluta. Estava cansada de sua ausência. Dar-lhe-ia uma lição. Assim que pedisse, voltaria.

Tilintou o telefone. Era Judite.

— Dolores chegou mas não quer falar com você. Diz que vai passar a noite aqui. Manda avisar que está muito sentida. Que vai pensar muito na separação definitiva. Diz que se sente tão viúva quanto Maria.

— Passe o telefone para ela.

— Não adianta. Ela não quer falar-lhe. Está triste mas está bem. Não vai fazer nenhuma bobagem. Amanhã vai procurar um advogado...

Fernando desligou o telefone. Não adiantava ouvir a irmã. Parecia-lhe que estava pondo mais lenha na fogueira. Viu as horas. Onze. Não era tão tarde. Iria buscar a esposa.

O frescor da noite punha-lhe as idéias no lugar. Não se enervara. Mas não julgava correto deixar a mulher longe de casa. No tempo em que ia à jogatina, ela não se importava. Fora até a certas boates comprometedoras. Não reclamara. Que mal tinha, agora, ir a centro espírita? Parecia que o motivo era muito fraco para atitude tão drástica. Será que havia algo mais?...

O restante do caminho perdeu-se em conjecturas.

Judite morava em prédio de apartamentos. Para poder entrar, tinha o porteiro que receber ordem de dentro. Era dificuldade que não medira. Judite foi inflexível. Não permitia a entrada. O porteiro ameaçou com a polícia. Mas Fernando não estava disposto a escândalos. Quis conversar com a mulher pelo interfone. Não atendeu. Deixaram fora do gancho. Fora rompido o canal de comunicação.

Havia telefone público. Comprou as fichas do porteiro. Fez a ligação. Inútil.

Restava regressar para casa. Em outros tempos, talvez procurasse distrair-se em algum bar, com amigos de ocasião. Estava muito maduro para essas coisas. Daria uma noite para que as mentes se tranqüilizassem.

No caminho da volta, consultou o plano espiritual. Nenhuma resposta. Aliás, vinha-lhe à mente a idéia de que era o momento de aplicar os ensinos de Jesus. Mas isso era muito vago. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo?” Era o que podia recordar-se, naquela situação. Mas como unir-se de novo a uma pessoa que se recusava a atendê-lo. Será que a idéia do advogado era para valer? Se se mantivesse no apartamento da irmã, somente com ordem judicial iriam poder voltar a conversar. Ou se ficasse de tocaia, para eventual saída. Dolores não trabalhava. Judite era auto-suficiente financeiramente. Daria para sustentarem-se indefinidamente, até a partilha dos bens. Mas estaria o Padre Timóteo de acordo com a separação? A Igreja não proibira o divórcio? Sabia de casos de casais católicos separados judicialmente. O que não conseguiam era casarem-se com outras pessoas. A separação se consumava.

Fernando evitava enfrentar o tema. Temia a idéia de viver sozinho. Acostumara-se à esposa. Lembrava-se das conversas que tinham antigamente a respeito da gravidez que não vinha. Faziam planos. Começou a rememorar a vida sexual. Era um relacionamento difícil. Como desejavam que engravidasse, se eram tão poucas as conjunções carnais? Fora a razão de ela ter procurado o analista. Sentia dores durante o ato. E ele fora perdendo o entusiasmo, com a frigidez da mulher. Jamais abandonara o hábito da masturbação. Às vezes, fazia-o acintosamente. Na cama. Enquanto a mulher dormia. Ou fingia. Nunca tiveram conversa muito franca a respeito. Estaria aí o centro da questão?

Em casa, Fernando julgou melhor recolher-se ao leito. Se conseguisse dormir, seria uma bênção. Estava exausto. O dia fora particularmente agitado. Não tanto pelas atividades. Mais pelas pressões psicológicas. Isso também deveria ter afetado a mulher. Não deve ter sido fácil contar à outra a doença do marido.

— Como será que o Espiritismo pode ajudar nestas circunstâncias? Terá alguma receita?

Fernando não conseguia montar nenhum esquema com a ajuda espiritual. Julgou que sabia muito pouco. Lembrava-se das estantes do “Jesus de Nazaré”. Cheias. A literatura era muito volumosa. Pensou em ir buscar os livros que deixara em casa.

— Não será melhor consultar diretamente o Roque ou a Tia Ana?

Começou a rezar pedindo ajuda, mas foi vencido pelo sono. Durante a noite, acordou diversas vezes, com a impressão de estar sonhando com fantasmas. Houve até um momento que pensou ter-se encontrado com Jeremias. Despertou às quatro da madrugada e não conseguiu dormir mais. Levantou-se com um peso tremendo no corpo.

Às seis horas, estava ligando para a esposa. O telefone não soava.

Fernando começava a acreditar que a esposa se fora de verdade. Pela primeira vez, sentiu a sensação de vazio, como se a perdesse para sempre. Ao voltar da sala para o quarto, lá estava o Roque, com seu indefectível charuto. Teria condições de responder às suas perguntas?

Recebeu como resposta um gesto para que se mantivesse calmo. O plano espiritual estava de sobreaviso. Jesus ampararia a todos. Deus é amor. O paraíso é a eterna felicidade. O dia de hoje é uma ilha, no oceano da existência. Todos estamos sempre aprendendo. Ninguém é perfeito. A razão humana está em contínua evolução. As leis cósmicas se cumprem.

O que Fernando queria saber era como desfazer o mal-estar criado pela separação. Queria de volta a esposa ao ambiente do lar. Aquelas noções filosóficas não lhe serviam. Queria paz de espírito, para dar seguimento normal à vida. Queria compreender os motivos espirituais e psíquicos dessa terrível desavença. Queria deixar de sentir-se culpado. Queria amainar a consciência.

Roque repetiu o gesto da paciência e se desvaneceu.

Fernando sentia-se mero joguete do destino. Por todos os lados, as pessoas indicavam-lhe o caminho. Quando era fiel ao Catolicismo, era dono de si mesmo. Era a impressão que estava tendo agora. Era uma crença mais positiva. Céu, Céu; Inferno, Inferno; Purgatório...

Tentaria ligar de novo da loja.

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