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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->32. MANHÃ ATAREFADA -- 24/06/2002 - 06:28 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dolores acordou bem cedo. Combinara com Maria acompanhá-la ao hospital. Parecia não preocupar-se em encontrar o marido à porta do prédio. Conhecia-o bem para saber que não tentaria ato algum desesperado. Deixou Judite dormindo.

Maria esperava-a com a mãe. Estavam atrasadas, mas isso não teria importância alguma. Dariam como desculpa o trânsito e tudo se resolveria. Afinal de contas, o serviço era pago. E bem pago.

No hospital, haveriam de aguardar por longo tempo. Não era só colher um pouco de sangue? Sim, mas o doutor desejava levar a efeito os exames de rotina. Ela também havia desleixado as visitas.

Na sala de espera, Dolores contou-lhes que dormira no apartamento da irmã.

Quiseram saber o que ocorrera.

Dolores até julgou oportuno estender o assunto, para evitar a morbidez do ambiente e a expectativa dolorosa. Deu tempo para referir até o desconsolo de Fernando, por não ter sido atendido. E concluía:

— Quem sabe assim aprenda a respeitar os direitos da mulher.

— E você vai mesmo arrumar um advogado?

— Claro! Quero saber até onde vai manter-se fiel a essa seita do demônio. Ou lá ou cá. Não há de ficar com tudo.

— E o amor, querida?

— Faz tempo que estou perguntando-me sobre a validade desse matrimônio. Se você quiser saber, se não fosse o Timóteo, há tempos teria dado um pontapé...

— Não fale assim. Veja que Fernando sempre fez de tudo por você.

— Teria feito por qualquer uma. Eu não sou especial para ele.

— Você é que pensa. Eu me considerava especial para o Jeremias, apesar de tudo. Sei que ele está sofrendo no Purgatório, pensando no problema que me arranjou. Qualquer dia, irei encontrá-lo no Paraíso, se Deus quiser. Como você vai enfrentar o Fernando em semelhante situação?

— Eu acho que ele vai acabar ardendo nas chamas do Inferno.

— E você não tem dó?...

Dolores não tinha pensado seriamente no caso.

— Pois que ele volte ao seio da Santa Madre Igreja. Que repudie essa fé indigna. Que confesse os pecados. Se Deus o perdoar, não será por minha causa que irá para as profundezas...

— Isso é trágico! Deus me livre que as coisas se passem exatamente assim!

A mãe de Maria permanecera o tempo todo calada. Quando percebeu que a conversa chegava a triste impasse, interferiu:

— Vamos deixar tudo nas mãos de Deus. Se for destino, o casal voltará a se unir sob as bênçãos do Pai. O mundo dá muitas voltas...

Nesse momento, Maria foi chamada ao consultório. Quando quis introduzir as companheiras, o médico solicitou que entrasse só.



Fernando chegou cedo ao escritório. A primeira coisa que fez foi ligar. Judite atendeu:

— Dolores saiu bem cedo.

— Foi para casa?

— Não sei. Acho que tinha de acompanhar a viúva ao hospital. Você não sabia?

Tinha esquecido. Mas a informação o tranqüilizou. Se Dolores estava cumprindo os deveres da amizade, é porque não tinha desprezo pelos compromissos. E qual o maior dos compromissos? O casamento. Seu espírito religioso não iria permitir-lhe pensar seriamente em separação. Com certeza, no almoço ou no jantar, iriam reencontrar-se. Em casa ou em restaurante chique, onde as reconciliações se dão. Lembrava-se dos enredos cinematográficos.

Fez subir o gerente da loja e resolveram os problemas imediatos.

— Joaquim passou ontem por aqui e deixou carta de demissão. Pediu-me para avisá-lo de que pode descontar em folha o aviso prévio. Pelo que entendi, vai assumir a gerência da loja do Jeremias.

Fernando não se surpreendeu. Será que Leonel estava por trás dessas novidades?

Perguntou por João. Resolveu dar um pulo ao almoxarifado. Queria levar um papo com o contabilista. Assuntos mediúnicos.

— Como você viu a minha atuação? Fale francamente. Penso que tenha transmitido muito mal os pensamentos que me foram ditados por Roque, aquele espírito que me tem aparecido.

— Poucas vezes vi alguém com tanta desenvoltura, no primeiro dia. Não só eu, mas todo o pessoal. Francisco ficou impressionado, quando lhe contamos. Mas devo dar-lhe um conselho de amigo.

— Diga.

— Não se entusiasme demais com as primeiras vitórias. Você tem muita coisa para aprender. Estude. Estude muito. E fique sempre calado relativamente às emoções. Não critique demasiado, nem elogie facilmente. Também não leve em conta o meu entusiasmo. Eu já vi muito médium promissor abandonar a mesa. O Centro. E nunca mais aparecer.

— Todos recebem essa mesma orientação?

— Quando perguntam ou quando agem de modo prejudicial ao desenvolvimento da mediunidade. Em geral, as palestras e as leituras vão dando os esclarecimentos de que necessitam.

— Posso contar com você para adiantar-me as explicações?

— Se estiver capacitado...

— Por que, ao sair do Centro, tive a sensação de que o trabalho não fora positivo? Dizendo francamente, cheguei a pensar que houve fraude. Que se contaram historinhas inventadas.

— Precisaria dar-lhe verdadeira aula. Leia André Luís. Você vai ver que os novatos se vêem assediados por espíritos inferiores, quando se despedem dos companheiros do Centro. Durante as sessões, o clima espiritual é sustentado por vibrações adequadas para a proteção do ambiente. De planos mais elevados, chegam auxílios importantes que garantem a paz. O clima se torna propício para os pensamentos mais elevados. Se alguém vem para perturbar, mesmo inconscientemente, os benfeitores, os protetores cercam os infelizes e não permitem que ajam nocivamente. Sempre hão de prevalecer os melhores. Mas, do lado de fora, se o médium não mantiver o mesmo nível de vibração superior, irá ser obsedado. Caso tenha pensamentos ruins, serão estimulados. Quando os espíritos não são de Deus, vamos dizer assim, ficam muito realizados por destruírem os que desejam progredir no bem, pelo amor dos homens. Não sei se respondi à sua pergunta.

— Respondeu, embora não tenha conseguido acompanhar os raciocínios, buscando o meu próprio exemplo. Mas valeu. Fico-lhe imensamente grato.

Fernando estava ansiado para voltar ao escritório. Algo o incomodava na exposição do espírita.



Joaquim adentrou a loja de confecções disposto a assumir a alta função de que fora investido. Tinha carta branca da patroa. Precisava inteirar-se de todos os negócios. Durante o enterro, os antigos responsáveis foram advertidos das funções dessa espécie de Assistente Técnico da Diretoria. Nome pomposo que satisfazia o “ego” do ex-balconista.

Os empregados mais antigos tinham péssimas recordações do novo chefe e comentavam que as coisas iriam desandar, se Dona Maria não agisse com discernimento. O novo manda-chuva não estava à altura das atividades de mando. De qualquer modo, tinham de fornecer todos os elementos solicitados.

Após mais de duas horas de conferência, chegou a hora da avaliação contábil. Queria falar com o contabilista. Localizou João na loja de Fernando e fez que viesse imediatamente.

João desconfiou de que haveria grandes transformações na firma. Se não fosse assim, por que o chamariam tão cedo? Temendo pelo sistema aplicado e pelas conseqüências danosas para o ambiente, esforçou-se por comparecer o mais rápido que pôde. Não seria a primeira firma a falir por imperícia contábil. Ou por ganância desmedida.

Posto a par das contas, Joaquim percebeu que não haveria problema algum com o fisco. Mas os balancetes apontavam para resoluções não habituais. Havia índice de produtividade muito elevado sendo pago aos empregados, principalmente os da fábrica. O pessoal da loja estava recebendo quantias bem acima do padrão médio do comércio. Ele mesmo havia aceitado proposta de ordenado inferior ao do gerente. Mas não discutiu o assunto com João. Nem lhe disse que tudo estava perfeito, embora se admirasse da clareza dos registros. Se houvesse mudanças significativas, comunicaria. Qualquer decisão partiria da família. Ele estava apenas tomando contacto com o andamento dos negócios.



Durante o tempo restante, Fernando ocupou-se com a leitura dos últimos capítulos do livro. Estava desejando ler a obra que fora recomendada para o desenvolvimento mediúnico.

— Se Dolores não quiser continuar comigo, pensava, com uma pontinha de despeito, que poderei fazer?

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