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Cartas-->AGRICULTOR. -- 09/03/2009 - 17:33 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AGRICULTOR.
Ana Zélia

Deus! Ó Deus! Condenaste o homem a comer o pão com o suor do rosto.
Um simples ato de desobediência.
Valia naquele instante qualquer ato.

Uma mulher tentada por uma serpente a comer uma pequenina fruta.
A Maçã símbolo do amor entre elas.
Tentada, a mulher gostou de sua doçura e num ato de amizade a deu ao companheiro, único ser que ela conhecia.
Era um pedaço dele, sua costela lhe dera forma.

Deus! Ó Deus! Como se paga caro até hoje, séculos depois.
O homem ara a terra que lhe fornece alimentos.
Recebe como prêmio um apodo por seu trabalho.
“ PREGUIÇOSO”. E generalizam. Todo caboclo é preguiçoso.
Assim diz o homem da cidade.
Tudo lhe vem às mãos sem que ele saiba como e de onde? Há uma total falta de conhecimento.
Quem sofreu na pele, pode expressar o que é ser agricultor.

O Governo lhe dá um pedaço de terra para o cultivo ou ele a adquire.
A forma não faz diferença.
Floresta bruta a ser explorada.
Inicia-se com a derrubada. A queimada. A limpeza da terra para o plantio.
Prepara-se o solo.

Sem, título algum de posse tantas vezes, mesmo assim ele tenta receber os incentivos que outro colono já falara.
Tenta. Tenta e tenta...
Nada. Os bancos investem em tudo. Menos nele.

Valente. Audaz. Ele planta qualquer semente, sem apoio algum. Precisa sobreviver.
Família grande. Mil bocas a comer.
O corpo queimado pelo sol escaldante, enxada nas mãos, cutuca a terra, planta uma maniva (mandioca para fazer farinha) aqui, outra lá, enterra uns grãos de milho, feijão, batata, assim ele vai.

Deus! Diz um adágio: “Deus ajuda a quem cedo madruga!” E ele enfrenta a lida antes que o sol apareça.
Sua fome é saciada com um punhado de farinha molhada, o chibé.
Chapéu de palha na cabeça lhe protege dos raios solares. E caboclo não tem Câncer de pele.

Colono. Agricultor solitário vive um instante na vida.
A solidão é sua fiel companheira. É feliz mesmo assim.
Ele não foi picado pela malária do branco. A inveja...

No roçado delicia-se com a luz do luar, único lugar onde ele pode ver a lua nova.
Ouve o coaxar dos sapos, o piado da coruja, o cantar do galo, o cacarejar das galinhas...
Sabe pelo canto alegre do tucano se vai chover, o bem-te-vi alegre anuncia-lhe que logo virá o sol.
Uma simples roda ao redor da lua é prenúncio de verão forte. O sol avermelhado também.
As nuvens escamadas é sinal de fartura.
Na selva ele é rei, mesmo sem nada ter.
Nas árvores ouve o grito da arara barulhenta, o cantar do papagaio, o esturro da onça que não o amedronta ou o miado do gato maracajá.

Na cidade isto vira fantasia.
O medo da violência é maior que o da cobra na selva ou na água.
A luz do progresso mata a lamparina, a poronga, (uma espécie de lamparina) o lampião, o candeeiro, a vela...

No roçado existe um Deus diferente.
Lá o Médico é Ele, aqui são outros.
O Deus de lá faz tudo, é médico, curador, técnico que faz chover ou parar, diz quando deve colher ou plantar.

Deus é tudo.
Caboclo tem fé.
Vive.
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Nota da autora. Agricultora nos idos de 1964 a 1968 no km. 82 da Rodovia AM-010, Manaus-Itacoatiara, hoje Município do Rio Preto da Eva, primeira professora da localidade, passava 8 a 10 meses sem receber um centavo, recebia ajuda de outros colonos que nos davam farinha, macaxeira, pedaços de caça, macaco, anta, cotia, cotiara, porco do mato, mutuns, até mucura. Às seis da tarde, mães com seus filhos vinham para que pudessem ser bentos e curados com a Força Divina, professor é curandeiro, é médico, é tudo. O sonho de ser advogada me fez romper as barreiras e voltar pra cidade, concretizar os sonhos. Sou sobrevivente, advogada, fui Promotora de Justiça nomeada de São Gabriel da Cachoeira, em 1985, passei três dias naquele mundo estranho, entre índios, militares e brancos e desisti. Conheci a fome, o medo, o ter que atirar em Surucucu (Pico-de-jaca), cobra venenosa, que se enroscavam no terreiro, embaixo dos troncos de árvores, ou partiam para tentar enroscar quando se estava plantando.Ana Zélia









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