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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->35. PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES -- 27/06/2002 - 05:15 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tendo sido posto a par das intenções de Fernando, João solicitou-lhe permissão para colaborar mais de perto. Queria consultar a espiritualidade. Não oficialmente, em sessão ordinária do Centro Espírita. Talvez fosse melhor pequena reunião íntima, que poderia dar-se no dia seguinte, sábado, na casa de algum deles. Francisco, quase certamente, lhes franquearia a residência e, advertido a tempo, poderia preparar-se convenientemente para presidir os trabalhos mediúnicos.

— Mas eu desejava começar já...

— Sem problemas. Vamos ver o que se contém no envelope.

Ao invés de extensa relação, apenas o nome de uma casa noturna. Acrescia-se “Adelaide”, na sugestão de que seria a responsável. E a redundância de um número de telefone.

— Para que tanto segredo, se se trata de tão pouco?

— Sabe você que espécie de estabelecimento é esse?

— Sei que se trata de boate muito concorrida. Dizem que há locais para encontros íntimos. Mas esse setor deve ser muito discreto, muito resguardado.

— Seria precipitado ligar?

João não sopitava certa curiosidade. Talvez visse aí oportunidade de auxílio sobre que nunca havia pensado.

Fernando discou.

` — Quem gostaria?

— Trata-se de um amigo de Jeremias, cliente da casa.

— Só um instante.

Fernando pensava que, por telefone, seria impossível expor tudo a contento.

— Pronto!

— Dona Adelaide?

— Ela mesma.

— A Senhora não me conhece, mas estou com uma dificuldade muito grande. Preciso localizar as pessoas que entraram em contacto... (como direi?) íntimo com meu falecido amigo Jeremias.

— Que Jeremias?

— É difícil de explicar por telefone. Não poderíamos encontrar-nos pessoalmente? A Senhora marca hora e local.

— Se for tão preocupante, venha já. Sabe o endereço da boate?

— Perfeitamente.

— Pois estou esperando-o.

Fernando não podia crer em que tivera sucesso tão imediato. Não daria para João acompanhá-lo, mas Leonel, consultado, aquiesceu prontamente.

Tudo acertado com o contador, Fernando saiu apreensivo. Apanhou Leonel e rapidamente cruzaram três bairros no sentido sul.

Leonel também manifestou inquietação quanto à boa vontade da desconhecida. Mas nenhum dos dois pôde conjecturar a razão de tanta presteza.

No ambiente luxuoso da boate, àquela hora vazia e às escuras, foram atendidos por grave senhora. Não se diria que cuidava de tão delicada profissão. Estava bem vestida, sem luxo mas com extremado bom gosto. Pela experiência com esse tipo de local, poderia Fernando esperar alguém sorridente, roupas ousadas, atitude lasciva, palavras insinuantes.

— Por favor, acompanhem-me ao escritório.

Enquanto a seguiam, puderam observar que mancava discretamente. E que tinha as curvas bem recheadinhas.

— Acomodem-se. Bebem alguma coisa?

— Obrigado. Não é a melhor hora para quem precisa trabalhar até às seis.

— Interessei-me pela questão do “falecido” Jeremias. Pareceu-me que era assunto sério.

— E é.

Fernando assumiu a obrigação do relato.

— Quer dizer que esse Jeremias morreu de AIDS?

— Como nos confirmaram os médicos, a nós dois.

— Agradeço-lhes as providências em relação às meninas, mas temo que não vá poder ajudá-los. Se contraiu essa doença, não foi aqui.

— Dá pra ter certeza?

— Não absoluta, mas, pelas normas da casa, não há cliente que fique sem usar preservativo. Nós recebemos gente muito especial: políticos em evidência, juízes, altas patentes das forças armadas, industriais e comerciantes endinheirados... Preciso dizer mais alguma coisa?

Fernando percebia a retaguarda de sustentação do lupanar. A responsabilidade de quem oferece serviços dessa natureza fica redobrada.

— Mas, por pedido do cliente, não pode a...

— Profissional, por favor!

— ... a profissional, levando mais algum...

— Como disse, não ponho a mão no fogo, entretanto, as moças são orientadas por especialistas. E nós não damos serviço a qualquer uma. No quadro de atendentes, temos psicólogas, estudantes universitárias, advogadas, donas de casa. Mulheres avulsas, de baixa extração social, só por recomendação de gente do setor. Além do mais, estabelecemos exames de sangue (incluindo o relativo à AIDS) semestralmente, mesmo porque são vários os médicos de nomeada que se utilizam da casa.

— Tínhamos idéia de que poderíamos falar com as jovens. Quem sabe, elas pudessem oferecer pistas a respeito...

— Estou vendo que não estão pondo fé nas informações. É natural, para quem desconhece o ramo. Sei que desejam advertir as moças do risco que correm. Então, vou tranqüilizá-los. Aguardem um instante.

Adelaide saiu por uma porta lateral.

— Leonel, que está achando disto tudo?

— Penso que esteja com medo de que vamos aos jornais fazer escândalo. Quer fazer acreditar que tudo está sob controle. Se você duvidar, ela vai dizer que tem os donos da imprensa nas mãos...

— Mas que está dando a impressão de extrema segurança...

Retornava Adelaide com três grossos cadernos.

— Temos aqui o registro de todos os clientes. Dia a dia. Com as mulheres que os atenderam.

— Não há o perigo de cair nas mãos da polícia?

Adelaide sorriu francamente.

— Não seja ingênuo. Você pensa que somos franco-atiradores? Já ouviu falar dos sólidos empreendimentos do submundo? Viu filmes de “gangsters” americanos? Sabe o que é a Máfia italiana? Conhece o Comando Vermelho? Leu sobre os cartéis de Medellín, de Cali, de Bogotá? Pois, então?! Estamos garantidos quanto às imunidades sociais. A bem da verdade, somos mais fortes que o governo que está instalado no país. Aqui, na palma da mão...

Leonel estava pálido. Fernando estarrecia-se com a naturalidade da exposição. Queria acreditar que fossem meros exemplos, mas sentia-se ameaçado, como se estivesse sendo vigiado por mil olhos.

Enquanto os dois se refaziam do espanto, Adelaide acabou por localizar o nome de Jeremias.

— Esteve aqui por doze vezes. Sempre às sextas-feiras. Por sorte, as jovens ainda estão em serviço na casa. Se quiserem conversar com elas, às ordens. Mas terão de vir no horário de funcionamento, com bastante paciência, pois não sei quando estarão desocupadas. Peço-lhes que não as procurem fora daqui. Essa é a garantia que damos. Entenderam?

A Fernando parecia que as ameaças se confirmavam.

— Querem copiar as datas?

— Perfeitamente.

— Então, tomem nota.

Em seguida, foi dizendo, uma a uma, todas as visitas. A última fazia mais de quatro meses.

Diante do perigo anunciado nas entrelinhas, estavam os dois desejosos de sair o quanto antes. Lendo-lhes o pensamento, Adelaide acrescentou:

— Não receiem nada. O interesse de vocês é somente humanitário. Quem sabe os teremos aqui para divertirem-se, qualquer dia destes.

Aquele sorriso que faltava apareceu, repentino. Era a comerciante que mostrava os dentes. Aliás, no parecer de Leonel, belos dentes.

— Se Jeremias estava contaminado nessas datas, não teria transmitido a doença?

— Não com o sistema de segurança que estabelecemos. Nem contraiu nem transmitiu. Vou provar-lhes com o resultado dos exames médicos.

Havia quatro nomes indicados. Repetiam-se durante o período.

— Não são verdadeiros. Cada moça recebe um nome de guerra. Aqui está a primeira.

Junto a um armário de aço, Adelaide procurava pelas pastas das moças assinaladas. Retiradas as quatro, depositou sobre a mesa e começou a analisar-lhes os conteúdos.

— Eis os resultados negativos para os exames da AIDS.

Escondia os nomes reais das pacientes, mas deixava à mostra o carimbo dos facultativos que assinavam os atestados.

— Não pensem que estamos brincando. Não há motivo algum para estar a mostrar-lhes estes documentos. A garantia é para os nossos serviços. Acreditem: o seu amigo não pegou a doença aqui. Vejam que os exames foram feitos recentemente. Bem depois do último atendimento. Voltem à noite. Vou dar-lhes a possibilidade de encontrarem-se com as moças. Não se acanhem. Contudo, o esclarecimento da aquisição da moléstia vai levá-los a outros locais.



No carro, Fernando e Leonel concordaram em que não haveria necessidade de retornar. Jamais poderiam ter esperado semelhante procedimento de segurança.

— Quer dizer que as pessoas, uma vez introduzidas lá, ficam fichadas? Não se garante o anonimato? Para que tanta coisa, se ninguém corre qualquer risco?

Não sabiam dar respostas a todas as questões. O crime organizado ficava para além de suas compreensões burguesas. Sentiram-se idiotas, pensando em que tudo se conduz pelas leis.

Fernando considerava o desejo de pôr em dia os compromissos para com o fisco. E pensava que ninguém na boate deveria sequer imaginar a existência dos impostos. Guardou, porém, as reflexões para si.

— Vamos ter de solicitar outros endereços ao Joaquim. O miserável deve ter escondido outros refúgios...

— Acho que não, Fernando. Pelo que conheci de meu cunhado, essas vezes foram esporádicas, causadas por algum transtorno. Em todo caso, temos de fazer outros levantamentos. Talvez, em outros dias da semana... Há de ter algum indício que precisa ser estudado nesse período.

— Como assim?

— Teremos de verificar o que aconteceu antes do primeiro dia e qual foi a causa de ter parado.

— O que posso dizer, pelo que me lembre, a data da última “entrevista” antecede de uma semana a nossa ida ao terreiro de Umbanda.

— Pois é algo assim que deveremos descobrir para o início.

— Vamos ter de perguntar ao João quando foi que Jeremias começou a freqüentar o Centro Espírita. Pode ser que seja a outra chave.

O restante do trajeto foi gasto em considerações sobre a organização da casa de tolerância.

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