“A arte é tão difícil quanto o amor. ”
(*Glauber Rocha)
Como dá trabalho ter um “eu” assim tão grande, este eu que precisa comprar, ser satisfeito, amado, admirado e cuidado como se fosse uma eterna criança dependente de ajuda externa. Uma criança sem limites e mimada demais. Que precisa o tempo todo mamar no próprio peito.
Este “eu” autoritário, imperativo quando se trata de seus interesses. Sempre nos exigindo o máximo (será que ele, este pesado fardo, não contraria aquela regra bíblica: Deus não nos dá um fardo maior que possamos carregar?). Mais sucesso! Mais dinheiro! Mais beleza! Mais tudo!
Quanto mais nos conhecemos mais nos deparamos com esse “eu” e ao invés dele se tornar mais familiar, ele vai se mostrando mais estranho, desconhecido e bizarro. Estar o tempo todo atento as próprias dores causa muita angústia. Nunca estaremos completamente resolvidos. Este “eu” ditador se alimenta e existe sentado no trono esculpido pelos nossos conflitos.
É este “eu” que nos aprisiona e nos torna menos.É ele o vilão definitivo das nossas tragédias, o rei gordo e egoísta que destrói nossas vidas e esse mundo.Este “eu” cultuado, materializado em grifes, marcas e acessórios.Não posso me livrar nunca deste “eu”, ele já veio impresso na minha pele, grudado no meu pensamento e é um órgão vital do meu corpo.Se tentar arrancá-lo, morrerei.Estou condenado, enquanto estiver aqui, a uma vida pautada pela espera do amanhã(e suas expectativas), e pela servidão a esse “eu”.
O “eu” é obcecado por si mesmo e não por mim.
P.S: A foto e de Henri Cartier-Bresson que nasceu em 22 de agosto de 1908 e foi um dos maiores fotógrafos do mundo de todos os tempos.
*Glauber Rocha faleceu em 22 de agosto de 1981aos 42 anos e foi um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos.