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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->39. SÁBADO PROVEITOSO -- 01/07/2002 - 06:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fernando passou a manhã de sábado lendo.

Logo cedo, tivera de serenar o casal de empregados. Letícia, senhora de mais de sessenta anos, chorava, inconsolável com a partida de Dolores. Seus maiores temores advinham da expectativa da perda do emprego. Para onde iriam os velhos, se ficassem soltos no mundo? Viviam, desde há muito, naquela casa. Providenciavam para a limpeza e a manutenção. Cuidavam dos cães e gerenciavam os serviçais, dando provimento a todas as refeições.

O patrão lhes deu as indicações seguras de que pretendia mantê-los sempre, sem, contudo, comentar a partida da patroa. Ele mesmo, afinal, não tinha certeza de nada.

Servido o almoço, Fernando não tocou nas carnes nem no vinho. Lembrava-se das recomendações de Francisco. Desse jeito, iria emagrecer, pois estava dando preferência aos legumes e às frutas. Não o fazia com a mesma convicção do compadre. Entretanto, sentia-se muito bem, com as roupas mais folgadas. Ao se preparar para sair, pesou-se. Realmente, pelo menos três quilos tinham ido.

Recordou-se do interesse de Leonel pelo livro do Codificador e convidou-o, pelo telefone.

— Estou sem ter o que fazer. O ambiente em casa está uma tristeza. Rute está muito temerosa de que a irmã esteja infectada. Não pára de chorar. Qualquer coisa que me tirasse daqui seria um alívio. Quer que eu vá buscá-lo?

— Deixe que passarei eu. Até já.

Fernando alegrou-se com a companhia de Leonel. Haveria alguém com quem trocar idéias, sem constrangimento. João e os demais sabiam muito. Ele ficava só levantando problemas e perguntando. Adiantara O Livro dos Médiuns, mas achou a leitura demasiado seca, técnica, embora fascinante. O sistema de perguntas e respostas era eficientíssimo. Por três vezes, intentou descobrir respostas às próprias questões, tendo-as achado convenientemente explicadas.

Alegria, mesmo, teve quando folheou o livro sobre o médium mineiro. Estava a história toda das mensagens em luxemburguês. De passagem, achou a citação da captação de texto em caracteres sânscritos. Impressionante.

— Estudar Espiritismo desse jeito é agradabilíssimo. Se ninguém estiver mentindo (e eu não devo duvidar de mim mesmo, pois meus fenômenos jamais poderia considerar como alucinações), o caminho para a humanidade está bem definido. O interessante é como o plano da espiritualidade age: a partir de certas batidas nas mesas (como se diz? — tiptologia), chegar a obras filosóficas de tamanha complexidade.

Pensou em que estava desviando-se dos problemas mais prementes. Precisava preparar-se para interrogar os benfeitores evocados. Queria saber, sobretudo, como chegaria a resolver o problema da separação iminente. E queria esclarecimentos a respeito da aquisição da doença pelo amigo.

Chegou a imaginar que poderia escrever em forma de perguntas, como fez Kardec, mas desistiu. Havia tão pouco e os protetores deveriam estar por ali a observá-lo. Estaria o Roque? Não o viu, mas suave aroma de bom havana penetrou-lhe pelas narinas. Impressão?

— Não há como perceber no ar os eflúvios etéreos. A influenciação deve exercer-se diretamente nos centros das sensações do cérebro.

Percebeu que respondera por si mesmo. Nenhuma intuição. Nenhuma nuança de perturbação mental. Nenhum frêmito intelectual. Nenhuma manifestação epidérmica. Perguntara e respondera. E isso o deixou imensamente satisfeito. Aproveitava deveras as leituras. E aplicava-as às necessidades do espírito.



Leonel foi adiantando:

— Acho que sei onde Jeremias contraiu a AIDS.

— Diga logo!

— Foi na boate em que experimentou a dose de cocaína.

— Quem estava presente?

— Você mesmo. Foi durante a comemoração de uma das vitórias do Brasil, na Copa de 94.

— Como é que não vi?

— Bêbado?...

— Jamais. Nunca cheguei a perder a noção das coisas. Foi ali mesmo, na mesa?

— Um sujeitinho do lado lhe ofereceu. A tanto a dose.

— Disso eu me lembro. Mas todos recusamos.

— Jeremias também. Depois de certo tempo, disfarçou e procurou o rapaz. Foram lá nos fundos.

— Onde você estava?

— Não saí da mesa.

— Espera aí. Como foi que ele...

— Picou-se.

— Não seria agulha descartável?

— Creio que não.

— Você se lembra do dia?

— É fácil. As datas estão demarcadas.

— Já sei. Foi contra a Rússia. A única festa a que compareci.

— Precisamos encontrar o traficante. Freqüenta a boate há muito tempo.

— Leonel, você não quer cuidar disso sozinho?

— De jeito nenhum. Você vai comigo hoje à noite. Vamos e voltamos, que não posso ficar muito tempo fora. Chegaremos cedo e pediremos aos “garçons” que nos ajudem. Não vai ser difícil.

— Como é que os médicos disseram que ele não era viciado em drogas?

— Não era mesmo. Foi a única dose. Letal.

— E a marca no braço.

— Você nunca tomou injeção na veia?

— Claro que sim!

— E ficou a marca?

— Não por muito tempo.

— Pois é a mesma coisa. Apenas quem repete muitas vezes as picadas é que vai calejando a pele. Há quem disfarce com tatuagens.

— Isso eu sei. O que não compreendo é como Jeremias aceitou a dissolução da droga em sangue desconhecido.

— Estava zonzo pela bebida.

— Se você quiser saber, penso que sua hipótese esteja errada. Mas não vamos descartar a idéia. Concordo em ir, mas gostaria de que mais gente fosse. Será que o João nos acompanharia?

— Isso só ele mesmo...



Francisco vivia só mas confortavelmente. Era um apartamento de grandes dimensões, desses em que os proprietários estabelecem as divisórias. Francisco reservou pequeno espaço para o quarto e deixou livre grande vão para a sala, onde mantinha conjunto de três sofás e ampla mesa.

— Não reparem na desarrumação.

Tudo estava impecável. Havia a mão de arrumadeira, pela ausência de pó nos armários e nos livros. Ou era ele mesmo quem fazia o espanejar? Quireras. Fernando não estava gostando do alheamento mental a despeito das preocupações capitais.

— Alguma notícia do João?

— Prometeu que viria. Encontramo-nos no Centro, para a sopa dos sábados. Havia muita gente. Houve necessidade de reforçar o almoço com pãezinhos comprados na última hora. Assim mesmo, quase não deu. Parece que o povo está cada vez mais faminto. A verdade é que bons eram os tempos da...

Pareceu aos amigos que iria dizer ditadura.

— ... Revolução de Trinta e Um de Março.

Percebeu o médium que não era oportuno discutir momentos antes da imantação mediúnica. Retrocedeu:

— Desculpem-me. Creio que não há motivo para discussões políticas, sociais ou militares. A hora é dos temas espirituais...

Chamavam pelo interfone.

— Podem subir. É o João, com mais três pessoas. Vamos ver quais são os médiuns que trouxe.

Eram Dalva, o marido e outra senhora que participara da reunião da segunda-feira.

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