Verdades?
maria da graça almeida
O homem consegue mentir; o poeta não mente.
O homem esconde os sentimentos; o poeta revela-os.
O homem põe em fuga qualquer crença, o poeta
a perpetua.
Saber do poeta é garantir o conhecimento
do homem que o habita.
A poesia é cheia de certezas e de convicções
que acalmam a ansiedade e sossegam os pesares.
A vida é pura incerteza; é a mais dura indagação.
Se a leveza anda solta, dôo-me toda à poesia;
aí, entrego-me à paz atemporal, ao alumbramento.
Aí, relego os deveres inquietantes;
aí, tenho respostas a todas as perguntas,
ou talvez nem tenha pergunta nenhuma;
ou talvez seja eu mesma a resposta
para quaisquer indagações; aí de pronto
transmudo,
aí sou eu mesma a luz do final do túnel.
No entanto, quando o ponto final põe mudez
em minhas letras
e ressurge-me a insegurança, arremeto-me
às paisagens sombrias,
às figuras desmembradas, às estradas tortuosas,
ao olho do furacão,às ruas desencontradas,
à boca do vulcão, às fotografias feias
então, outra vez, fico à deriva,
em meio de um mar de águas negras,
ou impossibilitada, diante das tempestades
de areia.
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