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Erotico-->AMORES, AMORES -- 26/03/2000 - 18:20 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AMORES, AMORES

Paccelli M. Zahler


Em nossos jogos amorosos, eu batia nela. Um dia, fiquei possesso quando ela me falou baixinho, quase sussurrando: "Ai, meu bem, essa tua crueldade me excita". Dei-lhe um tapa certeiro no rosto, ela caiu em cima da cama e, após um grito de dor e surpresa, me disse: "Bate mais, bate mais porque te amo!" Peguei-a pelo pescoço com muita vontade de esganá-la ali mesmo, todavia, olhando seu corpo nu por debaixo da camisola transparente, uma fogueira acendeu dentro de mim. Numa mistura de ódio e excitação, fizemos amor frenética e extasiadamente até nossos corpos perderem as forças. Quando abri meus olhos, percebi que ela adormecera embaixo de mim com o rosto virado para o lado direito e vestígios de um prazeroso sorriso ainda estampado nos lábios.
Ah, como ela gostava de ser violentada e eu de atender os seus desejos. Sentia um imenso prazer em espancá-la, em tirá-la pelos cabelos debaixo de mim, dar-lhe generosos pontapés pelo corpo e berrar-lhe aos ouvidos: "Para fora da minha cama, mulher! Vagabunda! Põe tua roupa agora e vai para a rodoviária ganhar uns trocados para mim! Vai que estou mandando, cadela!" Ela atendia às minhas ordens sem retrucar. Era muito engraçado!
Não conseguia entendê-la por mais que tentasse. Como alguém de sua posição social se envolvera com um cara como eu? Isso me intrigava.
Confesso nunca ter sabido ao certo o que sentia por ela. Era uma indescritível e indecifrável mescla de ódio-desejo-raiva-sexo. Que amor era aquele que ela sentia por mim? Por que permitia que eu batesse nela e a humilhasse? Por que o meu sadismo e não o meu carinho a satisfazia? Por que eu gostava tanto de espancá-la e tratá-la como um verme nojento? Afinal de contas, quem era aquele ser que me acompanhava por onde quer que eu andasse e que me proporcionava experiências místicas no momento mais prazeroso do nosso ato de amor? Mulheres! Quem consegue entendê-las?
Para seus amigos, eu não passava de um cafetão, um aproveitador e marginal. Ela saía em minha defesa, dizendo que eu era apenas incompreendido pela sociedade e continuava sendo minha fiel mecenas. Se eu trabalhasse, o estresse do dia-a-dia prejudicaria a minha criatividade e conseqüentemente a qualidade dos meus quadros, os quais ela adorava. O que não acontecia com os críticos de arte que os consideravam "primários" e "sem estilo próprio", "um lixo", por isso nunca os vendi.
Era estranho, mas eu sentia ciúmes dela, principalmente, quando ela saía pelas ruas escuras atendendo às minhas ordens egoístas para conseguir "algum".
Quando ela voltava quase ao amanhecer e deitava ao meu lado, eu ficava procurando o cheiro dos homens com os quais havia deitado. Por mais banhos que ela tomasse, eu a achava nojenta, sebosa, ainda com resíduos dos machos com quem havia transado. E não tinha vontade de ter relações com ela. Era uma situação difícil. Ela me procurava com um olhar apaixonado e eu não a queria.
Cabisbaixa, ela me dizia: "Não me amas mais!" E eu não sabia o que falar. Negar seria inútil. Confessar-lhe as verdadeiras razões iria ofendê-la pois ela atendera aos meus vis caprichos e eu sentira asco. Conseguira humilhá-la sem necessidade para provar a mim mesmo que podia manipulá-la a hora que bem entendesse, torcendo para que seus amigos a encontrassem prostituindo-se, falassem mal dela, rissem dela e, quem sabe, contratassem seus serviços íntimos.
Uma noite insone, contemplando a fumaça do cigarro dando voltas no ar sob a luz mortiça do nosso quarto, concluí que eu havia ultrapassado todos os limites da decência e do respeito a um ser humano. Senti-me tão culpado que saí para espairecer. Com a consciência pesada, decidi que, a partir daquele dia, as coisas iriam mudar.
Ao amanhecer, dei por mim sentado em um dos bancos da Praça Sete de Setembro. A noite se fora e eu nem percebera. Comprei um jornal na banca de revistas que recém abrira, procurei um emprego decente nos classificados e, mesmo sem muita esperança, fui admitido imediatamente. Embora o salário fosse um pouco baixo, considerei-o razoável para quem nunca havia trabalhado.
Voltei para casa feliz com a minha decisão e com o primeiro dia de trabalho. Passei na floricultura e comprei um lindo buquê de rosas vermelhas para ela. Fiquei imaginando sua reação ao receber o presente. Ela iria ficar incrédula, sem palavras, sorriria, choraria, saltaria no meu pescoço e me beijaria docemente. Depois, sentaríamos no sofá e ela ficaria enroscada no meu colo como uma gatinha manhosa a contemplar, cheirar e acariciar as rosas.
Foi uma decepção! Encontrei-a sentada no sofá, sisuda, malas prontas ao seu lado. Nenhuma reação, nenhum abraço tampouco um beijo ao receber as flores, que foram jogadas no chão. Disse-me apenas: " Não me amas mais!" E foi embora para sempre.
Agora, eu tinha certeza que a amava.
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