-Insisto! As chaves estão com você.
Pedro caminhou até o grande exaustor e o desligou. Agora tudo estava mais audível.
-O que que você estava dizendo mesmo minha filha?
-Que eu insisto que você acorde.
-Que eu o que??
-ACORDE!!
Abriu os olhos levemente: o teto. Da sala, sua mãe chamando-o para o café da manhã. Levantou como fazia todas as manhãs, preguiçosamente, escorrendo por debaixo do cobertor até encontrar o chão, onde ali poderia descansar mais alguns minutos até a hora do café. Há dois palmos abaixo da cama, pensava diferente. Sim, tudo não ficava diferente mesmo? Olhando para o teto que parecia mais distante, decidiu continuar seu sonho, habilidade que havia dominado há meses, e se orgulhava disso.
-Sim, como eu estava dizendo, temos que deter aquele javali que se apossou dos papéis na repartição.
Sonho errado. Levantou quase que instantaneamente e caminhou até o banheiro.
Dois minutos depois, quando a raiva passou, atirou o taco em que havia tropeçado, gentilmente para fora da janela do sexto andar. Não precisamos mais consertar esse chão, sorriu. Escovados os dentes, penteado o cabelo, e lavadas as paredes, se dirigiu para a mesa do café, onde estavam sentados sua irmã, seu pai e sua mãe, como soe acontecer. Dá próxima vez, deixo as paredes para a empregada, pensou. E atacou seus sucrilhos.
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