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Artigos-->É minha a religião de Umbanda? -- 23/04/2004 - 00:11 (Etiene Sales de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É minha a religião de Umbanda?



Hoje a Religião de Umbanda [ o todo religiosa da Umbanda e não uma ou outra

ramificação ] vive uma crise que poucos se dão conta. Talvez porque se

limitaram a ver a Umbanda somente pelos olhos da caridade e se esqueceram

que religião e muito mais do que apenas caridade. Religião é conhecimento,

é o preparo dos discípulos mais dedicados e comprometidos para o sacerdócio

[ vocação, doação, estabilidade emocional e força espiritual também contam,

e muito ], é passar os fundamentos aos médiuns como um todo [ doutrina,

ritos, práticas, ... ], saber respeitar e conhecer os aspectos internos e

externos da religião [ saber que não está sozinho e que outros, de formas

diferentes e com doutrinas diferentes, também fazem parte da Umbanda ],

saber que o sacerdócio é responsabilidade e exigem dedicaçao e amor, que ser

médium de um terreiro exige dedicação, é o trato e o cuidado com a casa, com

seus fundamentos, é o respeito e a irmandade entre os membros da religião, é

olhar o outro com a si mesmo ...



Muitos terreiros passaram a ver a doutrina da Religião de Umbanda como algo

próprio. Indo do particular para o genérico como se, aquilo que alí é feito

( dentro de sua ou suas casas ) , fosse o certo e verdadeiro para todo o

universo Umbandista. Só que essa visão, com o passar do tempo, acabou

gerando preconceito intrarreligioso no seio de nossa amada Umbanda. Por

mais estranho que seja, os Umbandistas são hoje os piores inimigos dos

próprios Umbandistas.



Para muitos o que estamos dizendo pode não fazer sentido, pois não conseguem

ver esses acontecimentos ou não querem ver . Acham que temos que nos

preocupar com os evangélicos, com o ataque que sofremos por parte deles.

Porém, quando perguntamos sobre certos aspectos da Umbanda a essas pessoas,

chegam aos nossos ouvidos ( que criticam os evangélicos de nos atacar ) as

seguintes pérolas:



* Umbanda pura não trabalha com Orixás;

* Umbanda pura não trabalha com sacrifício animal ( preconceituosamente

chamada de "matança" );

* Umbanda pura não utiliza atabaques ( isso é coisa de "Umbanda suja" );

* Umbanda pura não se utiliza de feituras, deitadas, confirmações através de

búzios;

* Umbanda pura não tem títulos, nem sacerdócio ( "Pai de Santo", "Mãe de

Santo", Yalorixá, Babalorixá, Mestre, ... );

* Umbanda pura não trabalha com fumo, bebidas, punhais, ...;

* Umbanda pura não faz uso de imagens sincretizadas de santos;

* Umbanda pura não faz oferendas de comidas, arriadas, trabalhos em

cemitérios, encruzas, estradas ...;

* Umbanda pura é aquela fundada pelo caboclo das Sete encrizulhadas;

* Umbanda Pura é fundamentada na doutrina de Allan Kardeque, em suas obras;

* Umbanda pura não faz práticas africanistas, que devem ser abolidas de

todas as casas de Umbanda proque representam um grande atraso espiritual;



O interessante é que parece que o que vale como "Umbanda Pura" é o que

alguns trabalham e, em grande parte, utilizando sincretismo com o

Espiritismo e até com o Exoterismo.



Na realidade existe uma negação às práticas africanistas da Umbanda, como se

essas praticas fossem algo atrasado ou que não fizessem parte da Religião de

Umbanda. Entretanto, existe uma ultra valorização dos conceitos Espíritas e

a utilização dos livros dessa doutrina, como se a mesma representasse a

própria doutrina Umbandista.



Não tenho nada contra quem utilize livros Espíritas dentro de uma casa

Umbandista, ou mesmo que utilize até a Bíblia ou o Exoterismo, mas o que é

um abuso contra a Religião de Umbanda é achar que a doutrina Espírita é a

doutrina de Umbanda, ou mesmo que, aquilo que é praticado baseado nessa

visão, é a verdadeira Umbanda. Espiritismo não é Umbanda, como Umbanda não é

Espiritismo. O sincretismo pode até ser feito entre elas (no foro íntimo de

cada casa e na orientação de cada guia, vale sua fé, suas necessidades de

crença) , mas daí representar o todo religioso da Umbada é outra coisa.



Lamentavelmente aqueles que têm essa visão acabaram se colocando como

praticantes de algo puro, evoluído ( ou a caminho da evolução ),

doutrinariamente correto, racionalmente aceito; e, os praticantes de outras

formas de Umbanda que têm fundamentos africanos em seu culto, como membros

de uma outra religião ( não podem ser considerados Umbandistas ) ou como

pessoas que ainda não evoluíram, mas que um dia de afastaram dessas práticas

e caminharam para a "verdadeira Umbanda".



No meu trabalho como pesquisador, como administrador de uma lista de

discussão sobre Umbanda ( primeira lista de discussão sobre Umbanda criada

na Internet ) a 8 anos e como membro de muitas outras listas de discussão,

a manifestação do preconceito entre os Umbandistas é algo patente e, muitas

vezes, se pronuncia de maneira discreta e as pessoas não percebem que estão

sendo preconceituosas. Elas acham realmente que aquilo que elas praticam é a

Umbanda, é a Umbanda verdadeira, a Umbanda Pura e o que não se enquadar na

sua forma, doutrina e prática, não é Umbanda. Da mesma forma, as pessoas

que praticam de outra maneira a Umbanda não podem ser Umbandistas. É como

se um Cátolico dissesse que ele é Cristão, mas que o Batista não é, ou que o

Batista dissesse que ele é que é o Cristão e o Católico não é.



Essa forma de pensamento preconceituoso ou purista é muito perigosa. Inibe

uma interação maior entre os Umbandistas, principalmente porque se cada um

acha que a sua forma de praticar é a verdadeira verdade e, que as outras

formas são ruins ou perniciosas, não fazendo parte da Umbanda, como

poderemos nos unir e combater àqueles de fora que nós perseguem? Como

poderemos nos unir para trabalharmos juntos, seja no que for, se um diz que

o que o outro faz é errado, que não é Umbanda, que é sujo, ...?



Nós Umbandistas precisamos ver que a Religião de Umbanda é muito mais do que

aquilo que praticamos como Umbanda; que aquilo que praticamos como Umbanda é

uma dentre muitas outras formas do todo maior que é a Religião de Umbanda;

que um dia, talvez, seja necessário acrescentar um adjetivo ao que fazemos

como Umbanda ( que é algo muito difícil pelo fato de muitas ramificação

tentarem impor sua forma e prática como se elas fossem as melhores e as

verdadeiras ) para podermos especificar melhor ou individualizar a nossa

prática diante do todo religioso e diversificado que é a Religião de Umbanda

( como aconteceu com o Cristianismo: Igreja Católica, Igreja Ortodoxa Grega,

Igreja Ortodoxa Russa, Igreja Batista, Igreja Prebisteriana ... e tantas

outras, mas que todas se dizem Cristãs ).



O fato é que o preconceito dentro da Umbanda existe e cabe a cada um de nós,

Umbandistas, termos humildade de ver o outro, mesmo com práticas e doutrina

diferente da nossa, também como Umbandista. Não podemos cer egocêntricos ou

soberbos de achar que aquilo que praticamos é o melhor, é a verdade

verdadeira de nossa religião. Todos nós Umbandistas somos filhos dessa mãe

chamada Religião de Umbanda e, nenhum de nós pode se achar mais filho do que

o outro. Mesmo tendo pais diferentes, a mãe é a mesma, a essência que ela

nós passou, o sopro de vida que ela nos deu é o mesmo, só que se manifesta

de forma diferente.



A obra de Deus é rica em diversidade, mas todos nós somos filhos desse mesmo

Deus.



Autor: Etiene Sales

site: http://www.umbanda.etc.br

e-mail: ghost_master@uol.com.br

Obs.: Etiene é Umbandista, formado em Administração de Negócios e

pesquisador sobre Umbanda e outras tradições religiosas.

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