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Artigos-->23. OITAVA PEREGRINAÇÃO ASSISTIDA -- 09/09/2001 - 07:16 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Não podíamos deixar de atender ao amigo Leonardo, que tanto lutou para ser o primeiro (ou o último da fila). Naquele momento não era ainda o redator que mais tarde contribuiu com vários desenvolvimentos.



Chamado para a entrevista, custou para se deixar hipnotizar, tantas brincadeiras fazia, descaracterizando o clima de concentração necessário para o envolvimento fluídico. No entanto, foi ele mesmo quem se reconheceu em dificuldade e pôs-se a lamentar o procedimento inconveniente, mas sem perder vaza alguma para gracejar.



Resildo estava presente mas deixou o aluno à vontade, contrariando as expectativas da classe, pois pretendíamos que fosse chamada a atenção ao impertinente. Enfim, com paciência, conseguimos adormecê-lo para a realidade próxima, despertando-o para os focos de seus problemas íntimos.



À vista das dificuldades de redação, sem dúvida cabe um comentário a respeito das descrições que levamos a cabo em torno dos fenômenos que ocorrem no etéreo sem o exato correspondente no plano material. As expressões não se ajeitam e as comparações são só aproximativas. Se quiserem algo mais apropriado para o conhecimento dos nossos passos, devem abismar-se nas profundezas do ego, para ver se incitam a memória perispiritual a que lhes transmita ao consciente alguma fugidia impressão dos conhecimentos transcendentais à matéria terrena. Se nada obtiverem com o sistema intuitivo, terá sido mais uma razão para nos estranharem as palavras, porque não guardam reminiscência da aparelhagem que utilizamos.



Será para preocupar? Desconfiarão os leitores de que nunca estiveram tão adiantados quanto a gente, para que jamais tenham freqüentado as colônias umbráticas?



Isso pode ocorrer, mas o que é mais fácil de suspeitar-se é de que não tenham dado importância aos instrumentos à disposição dos mentores espirituais, dada a ocupação própria a que estariam destinados. São tão especializadas as tarefas dos seres neste setor dimensional que é pouco provável que os encarnados comuns (aqueles que não cumprem missões de alto padrão moral) tenham examinado os aparelhos que lhes facultaram a restauração da saúde perispiritual.



Mas a que vem a digressão, se o caso do irmãozinho se voltava para o problema da incapacidade de concentração?



É que desejamos assinalar que as pessoas usam de métodos para o disfarce dos vícios da personalidade, aspirando a serem tidos como normais segundo a sociedade em que se inserem. Dessa forma, costumam pregar na face a máscara das conveniências grupais e passam a representar um papel no teatro da existência. Leonardo gracejava, quase sempre obrigando os parceiros a prestarem atenção no teor do que dizia, porque desejava ocultar os pensamentos sérios. Quanto a nós, não apreciamos descrever os utensílios, inculpando as dificuldades de correlação entre os planos, porque, na verdade, não sabemos como é que se constroem e por quais meios são operados, já que somos assaz ignorantes, nesse campo. Se nos perguntarem a respeito das drogas, aí somos doutores, mas estamos impedidos de demonstrar os conhecimentos por razões esperamos que óbvias para os leitores.



Servimo-nos da digressão também para falar um pouco a respeito da personalidade do companheiro.



Eis a conversa que com ele mantivemos:



- Por que você se propôs com tanto empenho para a dissecação psíquica?



- Estou ávido pela crítica superior a respeito de meus padrões de comportamento.



- Você não está contente consigo mesmo?



- Contente até que estou porque possuo amigos que me compreendem e me estimulam a melhorar. O que não sei é o quanto vai demorar o meu processo de espiritualização, uma vez que não confio em que o meu descortino seja o mais eficiente para a descoberta das causas de meus inúmeros defeitos, estes, sim, à vista da consciência.



- Suponha que nós sejamos ilustres desconhecidos. Daria para dizer-nos quais são os seus defeitos?



- Perfeitamente, mas temo que não vá poder caracterizá-los em sua extensão. Explico-me: se disser que sou egoísta (e sou), em que grau do egoísmo me situo? Sabemos que os sentimentos são mais ou menos intensos, segundo o nível de adiantamento dos indivíduos. Vocês saberiam me dar uma escala em que me enquadre?



- Vá de zero a dez.



- Essa é a dificuldade. Para muitos devo levar um zero; para outros mereço a nota dez. Eu mesmo não sei dizer que nota devo atribuir-me. Às vezes, concordo com os primeiros; noutras, desconfio estar próximo do melhor desempenho.



- Caracterize egoísmo.



- Egoísmo é o processo mental por excelência para que o sujeito se preocupe apenas consigo mesmo e nada com os demais.



- Boa definição. Você acha que não se preocupa com os outros. É isso?



- Pois se eu insisti tanto para ser atendido primeiro, merecendo a raspança da parábola que Resildo me pespegou na insólita fila da meia-volta...



- Foi a maneira que o instrutor encontrou para passar-nos uma simples lição.



- Isso eu entendi. Noutros tempos teria levado a ruminação da invectiva às últimas conseqüências. Cheguei mesmo a perceber a gentileza e a benquerença do amigo Resildo. O que estou afirmando é que, subjetivamente, ou seja, sem a máscara das conveniências sociais, estava verdadeiramente merecendo a reprimenda.



- Agora você está fazendo considerações filosóficas.



- Estou mesmo e pouca gente está em condições de me compreender. Explicito o tema que levantei. Egoístas nós todos somos naturalmente, porque, segundo o que Jesus mesmo nos recomendou, devemos amar aos semelhantes como nós amamos a nós mesmos. O que ocorre comigo é que, pelo fato de ser cumpridor das obrigações, faço o melhor que posso, segundo os regulamentos da instituição e as prescrições dos mestres. Além disso, participo de todos os trabalhos da classe, seguindo a ardorosa demonstração de esforço que o hábito nela instalado me impõe, porque não quero ser diferente de ninguém. Vejam que estou analisando-me na superfície da estrutura psíquica. No fundo dela, porém, como estou tendo a faculdade de observar nesta imersão hipnótica, vejo que todos os movimentos são tão-só externos, não repercutindo com naturalidade naquele eu que realmente sou.



- Você gostaria de ser autêntico, evidentemente. Mas se for segundo a perspectiva íntima talvez nada realize de concreto em favor dos semelhantes. Se der vazão aos sentimentos menos puros, não terá condições de aprender a conviver nem de estudar os ensinamentos evangélicos. Você não acha que o exame que está realizando é proveniente das noções morais que vem assimilando como conhecimento e que o que está faltando é a adesão da sensibilidade?



- Vejam que falei apenas quanto ao egoísmo. No entanto, existem todos os seus corolários de extraordinária perversidade: o orgulho, a vaidade, a má-fé, os distúrbios entre o querer e o poder, pela sufocação da vontade com a conseqüente rebeldia íntima, que busco esconder pela vibração grácil das participações que levo a efeito junto ao grupo de amigos...



- Vá parando por aí. Se você está desejoso de descrever a cada um de nós, está no caminho certo.



- Eu não disse que sou egoísta? Pois em nenhum momento me lembrei de qualquer um de vocês. Se estão vestindo a carapuça, estão me causando inaudita surpresa e profunda comoção.



- Não é uma questão de vestir o que quer que seja. O que estamos ponderando é que todos nós somos deficientes morais, sem dúvida, mas sufocamos as reações de desagrado, cada qual ao seu modo, agüentando o mais possível as tremendas acusações que se originam das culpas. Mas o que vimos fazendo estamos pondo no outro prato da balança, para ir equilibrando o sistema cármico desde já, reservando para as futuras tarefas de encarnados os resgates mais pesados. Se já foi tão dificultoso vencer as batalhas contra os adversários que criamos, pela superação do ódio que se instalava no nosso coração, agora há de ser menos penoso lutar contra o desafeto consciencial.



- Quero agradecer...



- Que agradecer o quê! Se estivéssemos aqui para sermos aquinhoados pelas palavras e pelos sentimentos de regozijo dos assistidos, estaríamos marcando passo. É preciso reconhecer a boa vontade dos que se sentem mais confortáveis consigo mesmos e seríamos demasiado ásperos se ficássemos surdos a eles. No entanto, acima de tudo, compreendemos a longa estrada que se abre para o distante horizonte da perfeição possível ainda nesta área em que mourejamos (em que nos debatemos) e nos pomos entristecidos pelo fato de não termos entendido antes o que Jesus esperava de nós. Mas vamos levando de vencida os episódios em parcelas, estabelecendo as vitórias pequeninas como simples degraus que não estamos em condições de saltar. O mais é trabalhar disciplinadamente em favor do próximo e instruir-nos sob o guante ameno dos professores, até que o amor evangélico que o Cristo nos ofereceu passe a fazer parte de nossas personalidades.



Quando Leonardo despertou, não sorriu nem desejou escorregar pelo vezo antigo das brincadeiras. Ouviu com muita serenidade a gravação da conversa, afirmando aqui e ali que se recordava das colocações que dariam seqüência ao diálogo, e se pôs a abraçar a cada um dos companheiros, sussurrando-nos aos ouvidos:



- Muito obrigado, irmão, por você existir também para mim. Sei que estou perdoado por ser tão defeituoso. Contudo, se ficou qualquer mágoa em seu coração pelo meu procedimento anterior, perdoe-me mais uma vez, para garantir a paz e a serenidade à sua alma.



Depois, tendo verificado que todos aguardávamos um pronunciamento relativo à sua expectativa quanto a ir visitar os parentes na terra, assegurou-nos:



- Tenho medo de expressar-me perante o público reunido em assembléia. Estou segurando o desejo de escapar pela tangente da pilhéria, pois não me está fazendo bem este sentir-me envergonhado. Sei que deveria pleitear a comiseração de Resildo para me permitir a excursão, mas preciso estudar de novo os objetivos que tinha em mira, agora que me vejo um pouco melhor. Afinal, devo considerar-me um simples meio-filista, ou seja, um pobre que não há de ser nem primeiro nem último, o que não deve ser posto na conta das brincadeiras mas da pura expressão da verdade.



Foi Resildo quem atenuou um pouco o choque das pungentes revelações:



- Todos nós apreciamos o bom humor e as sacadas inteligentes e oportunas, desde que acompanhadas de ponderações justas e honestas. Aliás, se neste palco existencial não estivéssemos de máscara, era preciso argüir a consciência a respeito do que estaríamos fazendo aqui. Pelo menos, carregamos a certeza de que somos fracos e necessitamos melhorar. Bem piores estão os que se crêem isentos de imperfeições e se estimam superiores. Almejar o equilíbrio entre o poder e o querer não há de ser pecado, desde que se estimem as leis de Deus como o roteiro que nos conduzirá nas sendas evolutivas. Vamos trabalhar porque muito nos resta cumprir dentro das diretrizes que nos foram propostas pela administração da Escolinha.



Seis meses depois, acompanhamos Leonardo em tranqüila viagem para o conforto dos pais, que se emocionaram com a presença dele junto à mesa de trabalhos mediúnicos, após anos a fio de perseverante evocação. Foi um dos melhores momentos desde que estagiamos na colônia. Fiquem as sugestões para a meditação atilada dos irmãos leitores.



Graças a Deus!



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