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Cartas-->carta para um jovem Poeta que mora no mundo -- 23/03/2002 - 15:53 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CARTA PARA UM JOVEM POETA
QUE MORA NO MUNDO

Meu caro Hélio

És ainda um jovem. Vinte e oito anos.
Publicamente, na tua forma simples e desleixada, és um andarilho anônimo, um nômade, percorrendo as ruas sem destino. Mas interiormente, és um poeta, um escultor, um artista. Venho mostrar ao público que o talento te habita. Tuas esculturas e teu poema “Margarida” são documentos de sensibilidade que todos gostariam de conhecer.
Meu desejo seria que a poesia e a arte te dessem também um toque de vida e um jeito mais singularmente humano de viver. Mas é apenas um desejo. Tua vontade é soberana. Preferes a vida trans-social. Todos sabemos que és um homem pacífico, calado, respeitador, solitário. Teu andar nômade dá-nos a imagem de que carregas o destino de uma catarse. Como Sísifo, empurrando o penedo, ladeira acima. Tu viajas, caminhas. Vais e voltas. Como se obedecesses à ciranda de um eterno retorno. Não buscas nem tens emprego. Mas persegues a sobrevivência sem revolta. Tens alguns protetores. Quem te conhece te respeita. Respeita sobretudo tua forma de vida, tua liberdade, tua autonomia, teu talento de artista. És da rua, só de dia. De noite procuras a casa do pai, apenas para dormir. Não te revoltas. Não te queixas. Vives assim por escolha. Sobrevives. Esculpes pássaros, figuras mitológicas e até imagens de santos. Vendes os produtos para comprar comida. Não vestes roupas. Só um calção. Já cheio de sebo. E é sempre assim. Quer chova, quer faça sol ou frio, é assim que ritualizas tuas caminhadas pela capital federal. Permanentemente. Sem alteração de ritmo. Um nômade que declara ser “um bicho sem aspas”. Tua visão de mundo começa pela idéia de “que morrer é inevitável, mas que teu objetivo maior é evoluir, virar bicho, pois queres “ser bicho sem aspas”. Tens uma idéia de felicidade: “A felicidade é apenas um estado imaginário” e nesta filosofia passas autônomo pelas estradas da vida, rosto a rosto com os que se esfalfam para levar sua vida de outra maneira. Tens talvez muita razão na tua filosofia de que “a felicidade é apenas um estado imaginário”...Testaste a fórmula... educaste tua imaginação...deste a ela a receita...és feliz... Puxa, Hélio...Como sabes filosofar direitinho...
Teu mundo é a rua, a distância caminhante. Há mais de dez anos que amas esta vida. Viraste errante. Tuas mãos grossas, tuas tatuagens nos braços, tua cicatriz acima da sobrancelha, sempre descalço, todas as tuas marcas...Conseguiste um retrato intransferível...Reduziste a vida ao mínimo adquirindo uma forma “sui generis” para sobreviver. Não és modelo, acredito. Mas me causas admiração pela resistência, pela autonomia e pela tua singularidade...até pela argúcia inteligente de ir dormir a casa de teu pai não só para que ele não fique preocupado mas sobretudo para não dar motivo à polícia para te incomodar.
Li a reportagem que o “Correio Braziliense” faz de tua vida nômade, de tua forma existencial de sentir a vida e de tua filosofia sobre o estar no mundo. Eu te conheço, Hélio. Eras adolescente, há mais de dez anos. Depois freqüentemente presenciei teus passos errantes, como transeunte, pelos espaços livres da cidade. Tenho o maior carinho e respeito por ti e pelo sistema de vida que escolheste. Sei que não és bicho. Porque exerces a inteligência e a astúcia.
Para te ser sincero, o que mais me tocou, além das esculturas que fazes e vendes em Brasília, foi o poema que compuseste para Margarida e que vendeste um dia na rua por dez reais. Peço-te licença para o reproduzir para meus colegas de Usinadeletras. Ok? Saúde.

[MARGARIDA]
Hélio Castelo Branco de Oliveira


Margarida flor tão linda e singela.Cinderela.
Tão a sós, tão miúdo, tão jardim.Quindim.
Vem aqui me dá um beijo.Desejo.
Desabrocha pra mim, botão de flor.”Botãozim”.
Me abraça me beija me agarra.Cigarra.
Me envolve em sua seda sua teia sua cama.Me ama.
Me morde tão leve nos lábios tão bela.Aranha amarela.
Do copo-de-leite e do Lírio o perfume da maçã. Café da manhã.
Talvez a esfinge metamorfa que vestes a areia deserto e miragem.
Monasítica mulher.Linda lenda da cidade.
Tão sereno amanhecer
Seu sorriso, seu calor e Amor
Tão franzina, tão sexy, tão culpada. Delicada.
Sussurrro no meu ouvido –te amo.Gemido.
Tão doce tão sonho movimento e prazer
Te amar e Acordar.”

[Hélio Castelo Branco de Oliveira]


Brasília
23 de março de 2002
Jan Muá
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