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Contos-->A NOITE ERÓTICA DE UM CACHORRÃO -- 15/01/2002 - 15:50 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A NOITE ERÓTICA DE UM CACHORRÃO


Jan Muá
15 de janeiro de 2002


Pittbull é apenas um nick. Não se trata de um cachorro assassino de verdade. Se preferirmos, trata-se de uma fantasia canina escolhida por um advogado paulista para navegar na Internet, só por um dia. Ele sempre participou de batepapos na NET. Daqueles batepapos lights com mulheres mansas e chistosas numa roda de bom humor com raros reservados .
Hoje quis fazer um programa diferente.
Está ainda de rescaldo matrimonial. Sua mulher conseguiu a separação judicial exatamente há oito dias,levando-lhe metade da fortuna que angariara em dez anos de advocacia. Ganhou esse dinheiro em causas de inventário de famílias com fazendas no interior paulista.
Ainda não estava muito resignado com o golpe que a mulher lhe deu. Mas precisava de encarar a nova realidade. E enquanto isso, buscava distrações e passatempos para aliviar parcialmente sua tensão.
A verdade é que neste momento Pittbull está solteiro e quer esquecer a história de seu casamento.Hoje tomou uma decisão. Iria para a Internet fantasiar.
Sua decisão coincidiu com a crônica das fortes enchentes ocorridas em S. Paulo. Foi o dia em que a Prefeita Marta Suplicy teve a calça e a coxa rasgada num acidente em visita a uma favela na área suburbana do município. Na enchente, Pittbull ficou com o carro ilhado no Centro da capital e teve de regressar a casa no carro de um amigo que o socorreu.
Tomou banho e após o lanche, partiu para a Internet, seu campo de fantasia para hoje. Freqüentava de preferência os sites lights com cibernautas conhecidos. É aquele negócio descontraído de trocar gentilezas e bobaginhas com colegas de sala.
Isso era o que costumava fazer. Hoje porém seria diferente. Ele próprio se armou com um nick mais agressivo. Seria Pittbull. Iria esconder-se debaixo desse nome. Não seria Paulo, hoje, nem por um minuto. Nem falaria com Argentina nem com Espanholinha nem com Gata Mulata, suas parceiras nas salas lights da Internet. Iria para os sites de Barra Pesada. Com a intenção de viver uma fantasia mais intensa e mais forte.
Já conhecia os salões das imagens eróticas mas nunca tinha passado pelos das imagens sadomasoquistas. Pessoalmente não era muito dado a esses sites fantasistas de devassidão. Mas hoje era diferente, talvez uma exceção. Clicou decididamente e entrou numa sala onde havia alto número de cibernautas.
Os primeiros personagens que lhe apareceram pareciam ousados. Aparentemente usavam linguagem pesada. As imagens acompanhavam o clima de ambiente erótico misturado de ousadia e palavrão.
Quando disse olá para todos, deu uma olhada no painel para examinar o ambiente. Entre os trinta e sete nicks destacavam-se os nicks das Gatas Grelhudas. O rótulo era forte mas percebeu rapidamente que se tratava de um comercial. Logo, ao lado, dominava a cena uma personagem feminina, a Cadela no Cio, em grandes papos com a clientela masculina. Seguia-se Casada bem Safada. Pittbull prestou atenção. E viu que os discursos eram bem eróticos e sem papas na língua. Mas nenhum discurso até ali foi mais direto do que este de Coroa Safada:
- Algum puto safado por aí? Aceito negro, velho, safado, com putaria...
Os olhos de Pittbull faiscavam no computador. O vídeo mostrava-lhe agora uma imagem de moças manietadas sujeitas aos rituais do sadomasoquismo. Noutro quadro, cenas sádicas de instintos inferiores a que se sujeitam miseráveis cibernautas tarados, explorados pelo mau gosto, por desvios e pela sanha comercial.
Tocou-o fortemente o quadro que apresentava a imagem de uma moça sorridente em coito animalesco com um jumento.
As emoções de Pittbull passaram a alterar sua pressão arterial e seus neurônios. Em um minuto de concentração, passou a medir o mundo em que estava. As cenas eram fortes, pensava. Nunca vira isso de dejetos lançados na cara e na boca de pessoas como aqui nos quadros dos sadomasoquistas, numa real fantasia de sub-mundo, de underground. Isso o impressionava tremendamente. Estava disposto a mudar de sala e a buscar alguma coisa mais light.
Foi quando se aproximou dele Cadela no Cio, como se adivinhasse a carga emocional que dominava Pittbull. Digitando “reservadamente”, Cadela no Cio propôs a Pittbull um papo a sós. O Cachorrão aceitou. Até porque preferia conversar com uma Cadela no Cio a ter de ver imagens fortes de transas animalescas. Chegou à conclusão de que era melhor assim. Teoricamente desenhava-se um equilíbrio. Ficava até bonito e lógico um cachorro conversar com uma cadela em pleno cio. Poderiam se entender muito bem.
A diferença era que à volta de Pittbull, havia outras pretendentes à conversa no reservado. Todas alimentavam a fantasia de que é possível superar a ameaça de um Pittbull se alguém conseguir lhe anestesiar os dentes. Cadelinha dava seus latidos de amor cá de fora. E insistia em suas mensagens para o Pittbull no reservado. Faziam-se ouvir cada vez mais fortes os miaus das Gatas Grelhudas. A alguma distância, Lésbica Devassa tentava enredá-lo também. Na esquina, o vulto insinuante e louro da Casada bem Safada. E pacífica e educada, a romântica Indomável Sedutora.
Quando parecia que o ambiente estava se acomodando, Biscatinha Quer Gozar dava uma chamada para Pittbull. É certo que qualquer fêmea que estivesse em cio por ali, tinha a garantia de ser atendida. Havia por perto o Cacete Duro, o Grande Grosso, o Boy de Programa e o Nu de Pau Duro. Para uma mulher romântica eram descabelados pretendentes. Mas representavam apenas uma realidade fantasiosa.
As pretendentes ao coração e ao corpo de Pittbull estavam se dando bem com o cerco que estabeleceram. Todas achavam que podiam domar a fera sem maior esforço. Perceberam que Pittbull estava vulnerável. Mesmo sem conhecerem detalhes da história do advogado canino, apostavam nisso. A aproveitar a atmosfera favorável, aproximavam-se dele também Adolescentes Taradas e, de voz melosa, a insistente Loira Tesuda. Uma luta ainda indefinida, com Pittbull analisando suas fãs.
Enquanto se estabelecia um elo de simpatia entre as pretendentes e o pretendido, o ambiente foi abalado por descarado apelo erótico de Cara de Pau:
-Procuro gata vadia, safada, putinha, cachorra que goste de gemer e gritar de tesão...
O quadro passou por todas as telas. E todos o leram. Mas Pittbull e suas gatas não se abalaram com a concorrência. Na realidade o que queria de verdade Pittbull num dia de enchentes em S.Paulo, após oito dias de separação de sua mulher?
Em teoria todos podem adivinhar o que ele queria de verdade. Vinha mascarado para morder. Queria engatar uma mulher. Mas queria uma mulher educada, paulista, próxima. Sua mordida poderia ficar por ali, no computador. Mas sua fantasia era a de poder sentir-se gente que poderia morder a pele macia de uma mulher romântica, sem sadomasoquismo.
Cadela no Cio parece que tinha adivinhado. Instinto de Cadela para adivinhar os desejos de seu Cachorro, do seu Cachorrão. Tinha armas poderosas. Trabalhava no reservado com certa ternura procurando amansar a fera. Percebera que a fera tinha que ser sensibilizada. Era preciso chegar junto da alma de Pittbull e esvaziá-lo do veneno que tinha nos dentes. O veneno era a revolta e decepção de seu casamento. A assistência que lhe deu Cadela no Cio levou-o a uma maior segurança. Nem se lembrava mais que tinha ali no salão concorrentes fortes como Pastor alemão Tarado e Safadão que poderiam levar com eles suas cadelinhas preferidas..
Pitt e Cadela no Cio cerraram fileiras e cochichavam a sós no reservado. Inimaginável a conversa secreta dos dois. Só se sabe que ambos moravam na metrópole paulistana e conversaram até alta madrugada. No salão, corriam imagens, figuras e diálogos entre os restantes sadomasoquistas. Coroa Safada estava inquieta com a demora e exclusividade de Pitt e Cadela no Cio. As Gatas Grelhudas ainda voltaram a anunciar. Indomável Sedutora saiu da sala. Nesta altura, estava mais do que consolidado o namoro de Pitt e Cadela. Só faltava trocarem os números de telefones e sair. Foi o que fizeram.
Naquela noite, a vizinhança percebeu que no apartamento do advogado tinha chegado uma outra vida.


Jan Muá
15 de janeiro de 2002




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