CIDADE MODERNA
Uma pessoa,
duas pessoas,
um turbilhão de pessoas,
uma incomensurabilidade de pessoas.
Pessoas que vêm e vão,
que vão e vem,
num desfile infindável.
As metrópoles,
com sua paisagem de cimento
e asfalto.
Cimento que constrói,
que edifica,
que gera emprego.
Cimento que dá abrigo,
que levanta casas,
hospitais, escolas,
creches e orfanatos.
Mas, cimento que também mata.
Que desmorona nos terremotos,
soterrando as pessoas,
destruindo bens e sonhos.
Cimento que mata no inverno,
os que sobre si se deitam,
pois, uma vez que não possui sentimento,
não pode aquecer aqueles que estão
ao desalento.
Asfalto, que pavimenta
e impermeabiliza.
Que constrói estradas e rodovias.
Que liga cidades, estados e países.
Que ferve ao calor escaldante do sol,
para liberar as chamas de suas entranhas
nas noites de verão.
Asfalto sem vida,
sem sentimento,
sem compaixão.
Sem o cimento
e o asfalto,
ficam as pessoas,
a substância humana da cidade,
e da humanidade.
Mas, as pessoas,
do mundo moderno,
ocupadas demais
com os problemas pessoais.;
Globalizadas,
mas ao mesmo tempo incivilizadas.
Envoltas por um mundo de informação,
mas, totalmente desinformadas.
Tomadas pelo instinto capitalista,
instinto nosso de cada dia,
tomadas pelas exigências descabidas
dos mestres do poder,
escravizadas por um modo de vida
vazio e sem sentido.
Consumidores vorazes
de artigos inúteis e caros,
que consomem seus usuários,
e os condenam a nunca se saciar.
Qual Zeus,
quando condenou a humanidade,
a buscar o conhecimento,
pela eternidade.
A verdade
é que a cada dia,
as pessoas perdem sua humanidade.
Pessoas violentas,
que violentam aos outros
e a si mesmas.
Pessoas sem passado,
sem presente e sem futuro.
Pessoas que,
nas grandes cidades,
estão se assemelhando
ao asfalto e ao cimento.
Com uma grande diferença,
no humano,
a parte inútil
está se sobrepondo à útil.
E temo o dia em que,
o humano,
aquilo que nos faz pessoas,
aquilo que nos dá esperança,
se perca completamente,
e se torne simples lembrança.
A lembrança daquilo
que um dia fomos
e não somos mais.
Rodrigo M. Delgado
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