Discurso
Ah! Padre Oscar,
que pena, não o ouço mais.
O tempo é tão voraz
e anda depressa demais.
Na linguagem, um doutor!
“Toda vida e mais seis meses”...
ralhava comigo, às vezes,
o dileto professor.
Lembro-me bem da batina
puída junto a bainha,
revelando quão era antigo
do sacerdócio o ofício.
Tinha na cor amarela,
a ponta dos dedos tingidas.
Batia nos vãos da janela
as cinzas mais distraídas.
Dói-me a saudade das aulas,
que fluíam de tal maneira
em sua eloqüente fala
feito mera brincadeira.
Sinto que do seu discurso
não há registro nenhum,
pois, modernos, os recursos
ainda não eram comuns.
Fragmentos da oratória
só ficaram na memória
de quem como bom ouvinte
partilhou daquela história.
Conta um anjo a uma ovelha,
que no antigo gestual
Oscar curva a sobrancelha,
sorve o ar, franze o nariz
e de um modo natural
diz na língua mãe raiz!
maria da graça almeida
|