Barulho
Que barulho ando a fazer
quando me ponho a escrever.
Olhai com benevolência esta
vossa criada, não sou nada.
Escrevo cá do meu jeito,
nem sei se sei escrever direito.
Fazei como os deuses: olham,
lêem, dão risada.
E ainda chamam de cartazes esta
obra inacabada.
As sensações que me vêm não sei
quantos anos-luz viajaram, nem
que espaço habitaram.
Chegam por chegar.
De modo tão natural.
Passeiam pelo meu corpo inteiro,
Na mente um reboliço.
Na ponta dos dedos tudo isso.
Ponho-me a escrever coisas que
Vivi, li, aprendi.
Só não sei se foi aqui.
É uma grande confusão.
Mas escrever me faz bem,
as palavras sabem-me a perdão,
O efeito a aceitação.
E continuo a escrever como
quem come um pedaço de pão.
Lita Moniz
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