In:Obras Completas: Porto:Lello & irmão Editores, I, p.611.
1. A saga comum da busca tratada na Bíblia é a de que a insistência na busca tem normalmente um desfecho positivo: “Procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á” (Evangelho).
2. No Fausto de Goethe e em Primeiro Fausto de Fernando Pessoa, que têm como enredo principal o conflito da Inteligência consigo própria, com o Mundo e com a vida, há a tese de que “o segredo da busca é que não se acha”. Um recado negativo para o esforço da Inteligência que procura e busca uma compreensão do mundo e da vida.
3. Fernando Pessoa, ortônimo, autor de Primeiro Fausto, adotando um ceticismo radical pagão anula a busca em si mesma. Há uma base de princípio para a atitude de Fernando Pessoa:
3.1. O Homem tem a experiência da complexidade dos mundos (“uns dentro de outros”); esta complexidade que é inesgotável quando referida ao cosmos como tal, poda-lhe a crença e a paciência da fidelidade em relação ao princípio da Busca;
3.2. O Homem nota uma aparente neutralidade dos Deuses perante o esforço do homem para se compreender a si mesmo e o mistério da Vida;
3.3. O Homem tem a experiência de que há nos seres uma infinita diversidade e uma incessante mudança observada através da mobilidade constante mundanal;
3.4. O Homem tem a experiência e a ciência de que a verdade é relativa [“a luz incerta da suprema verdade”]. Isso leva-o a relativizar sua própria adesão aos chamados valores absolutos tradicionais. Entre eles, o valor da “suprema verdade”, defendido desde a Antiguidade clássica.