velhas companheiras
maria da graça almeida
Perfiladas, no corredor da morte
assistem ao "abate" das casas que longe um dia
viram-nas enfeitar seus quintais.
Belas, dignas, diante do inevitável
ainda têm viva a seiva que lhes corre
pelos corpos sadios.
De passagem, penalizada, vislumbro-as.
Também tombarão a qualquer momento!
Meus olhos fotografam-lhes o derradeiro verde,
enquanto, lânguidas, ao compasso do inverno,
as folhas acenam em despedida.
Emudecida, constranjo-me.
E o perpétuo emudecer
fortalece as mãos que as deitarão ao solo.
O conformismo é um relógio parado.
A fraqueza, uma faca enferrujada.
Quisera desacelerar a caminhada
e conter o passo desavisado
da migração que, desenfreada,
expõe-nos à acinzentada frieza do concreto.
Quisera, sobretudo, impedir o domínio cruel
do azulado espaço, pela ganância de aço
do homem arranha-céu .
Não posso, assim passo...
O homem é livre, caminha por onde quiser.
Deveria haver justo motivo
e necessários atrativos para que se mantivesse
fiel ao seu chão. Não há! E aí? Fica-se assim?
Creio que não!
Se nos dermos as mãos, estreitaremos os laços,
acertaremos o passo, não pisaremos em falso,
cuidaremos dos rastros e
sem perder de vista o chão
não passaremos em vão.
Assim posso, não passo...
maria da graça almeida
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