Usina de Letras
Usina de Letras
140 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62069 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50476)

Humor (20015)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6162)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->54. SELA-SE O DESTINO DE JOAQUIM -- 16/07/2002 - 05:39 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Leonel adentrava o mezanino, quando João mal se assentara para a séria palestra com Fernando.

— Vim porque tive idéias a respeito do pedido de Maria, para localizar Timóteo.

— Vamos ouvi-las. Sinta-se em casa. João é como se fosse da família.

— Em todo caso, respeitando os princípios espíritas, que estou começando a admirar, peço-lhe absoluto sigilo sobre os temas.

— Tem a minha palavra de honra. A menos que seja melhor que me retire.

Fernando apressou-se a inteirá-lo dos acontecimentos:

— Você precisa saber o que se passa, para orar pela pessoa em apreço. Maria contraiu a mesma doença do marido.

— Era de esperar-se. Os dois eram muito unidos.

Leonel impacientava-se:

— Esse é o ponto. Não creio que tenha sido o marido, mas o amante...

João estava habituado às tragédias humanas. As reveladas pelo plano espiritual. Assim, na carne, nem se dava à leitura dos jornais sensacionalistas. Nem via televisão, ocupado, dia e noite, com os labores do Centro Espírita. Aceitou a revelação e compreendeu a observação de Fernando. Era verdadeiramente necessário orar pela misericórdia divina.

— Não lhe disse, interferiu Fernando, mas tenho quase a certeza de que foi isso mesmo.

— Se for assim, o amante (não se decidia a nomear Timóteo, esquecido de que já o fizera) não terá desaparecido de cena por acaso. Deve estar recolhido...

Avançava muito.

“Se João estiver a par da identidade, talvez possa ajudar com pesquisas espirituais.”

Foi Fernando quem decidiu abrir o jogo:

— O amante de Maria é o Padre Timóteo.

João conteve-se para não demonstrar a ponta de alegria que sentiu no imo do coração. Mas foi sensação muito ruim, no despeito que mantinha escondido pelo sucesso social dos sacerdotes. As contendas eram danosas para os espíritas, sempre acusados disso e daquilo. Sempre escorraçados do paraíso católico. E por outras seitas, ainda mais penosamente, mais incompreensivelmente, quando se pensa que Jesus veio para salvar toda a humanidade. Deixou para mais tarde pedir perdão ao protetor. E ajuda, que estava percebendo nítida a falha evangélica. Precisava dizer alguma coisa:

— O mundo dá muitas voltas. Vamos saber quantas vidas estão sendo purgadas neste sofrimento de hoje! Que os benfeitores tenham luz para protegerem os amigos e parentes de atos impensados, de desforras inconseqüentes.

Leonel, mais do que amigo, parente da família, sentiu-se autorizado a esclarecer:

— Por enquanto, só nós, minha esposa e a de Fernando, mais os pais de Maria, é que conhecemos o relacionamento clandestino. E queremos que fique assim. Aliás, os pais surpreenderam a revelação. Não era para terem ficado sabendo. O que não pode acontecer é de os filhos descobrirem.

— João, se estamos dando estas informações a você é porque sabemos de sua discrição e da possibilidade de orientar-nos no campo espírita. Talvez seja preciso, pois pretendemos mostrar aquela mensagem de sábado à coitada. Talvez se alivie. Talvez se conforme.

Leonel queria participar:

— Ela nos confiou o segredo porque não conseguiu localizar o Padre. Quer que o procuremos para avisá-lo. Mas acho que ele sabe muito bem que está contaminado e que foi quem passou a doença. Talvez tenha sido afastado pelos superiores...

— Com certeza...

— Fernando parece concordar comigo.

— Está claro para mim que foi retirado de circulação, para não provocar a revolta dos paroquianos ofendidos. Quem sabe quantos são os maridos que estão correndo sérios riscos de infectarem-se!

Leonel estava ansioso para expor o plano que arquitetara:

— Pois eu acho que sei como pôr tudo a limpo.

— Vamos lá!

— Tudo começa com as atividades de Joaquim.

— Mas nos disse ele que havia contado tudo.

— Tudo, no sentido de responder às nossas questões. Como os fatos evoluíram, o mais correto será dizer que o mequetrefe controlava as saídas de Jeremias, para garantia dos encontros do casalzinho.

— Não é que você pode ter razão?!

— O danado não devia fazer isso a mando de Maria...

— De quem extraía uns bons trocados...

— Estava é a serviço do padre. Se o apertarmos, vai contar tudo, com medo de perder o emprego. Já pensou se Maria descobre a verdade? Se adquire a certeza da malandragem do sacerdote?

— Se for desse jeito, não nos caberá avisar a ninguém. Ficaremos livres do compromisso moral. Apesar de que o drama da comadre vai ser muito mais penoso.

— Esse será o passo seguinte. Por enquanto, vamos bolar uma fórmula para fazer o espião abrir o bico.



Meia hora depois, Joaquim recebeu intimação telefônica para comparecer ao escritório de Fernando. Queriam ir até a loja em que se instalara o “doutor”, porém, João recomendou que se mantivessem sob o teto em que os protetores poderiam agir livremente. Se Joaquim não comparecesse, era sinal de que forças poderosas poderiam estar por detrás das malignidades. Se viesse, mesmo assim, era para se ter muito cuidado.

Enquanto aguardavam, os três solicitaram auxílio dos protetores e apelaram para que não cometessem nenhum abuso, dada a força moral que sentiam relativamente ao ser habituado, segundo eles, às atividades subversivas do bem.

Ao adentrar o escritório, Joaquim surpreendeu-se com a seriedade dos três. A novidade era Leonel, por quem nutria forte antipatia, desde que não alcançara pegá-lo em nenhum deslize. Também, a esposa era aquela moleirona.

— Que propostas têm os Senhores para o meu aviso prévio?

Haviam recorrido ao artifício do dinheiro, mola que fazia o bocó saltar.

— Realmente, julgamos que temos bom negócio para oferecer-lhe.

Fernando escolhia as palavras para não provocar-lhe a bílis.

— Você me contou que o seu máximo desejo na vida era fundar escritório de investigações. Pois resolvemos oferecer-lhe sociedade, para que você leve avante o projeto. Montaremos as instalações, compraremos os apetrechos, financiaremos, se for o caso, um curso, para que você se aperfeiçoe, manteremos o seu salário atual até que comecemos a ter lucro e assinaremos contrato em que uma cláusula preserve o seu direito de aquisição das nossas quotas, dentro de dois anos, ficando como único proprietário da firma.

— Devo, evidentemente, deixar o cargo que ocupo.

Leonel também queria falar:

— Você mesmo irá ver a necessidade disso, após ouvir o que temos para dizer.

— Então, digam.

Joaquim não queria tirar conclusões. Raciocinaria sobre o que tivessem contra ele. Não lhe extrairiam nada que não soubessem.

Foi Fernando quem avançou:

— Sabemos que você trabalhava para o Padre Timóteo.

— Vocês é que estão dizendo.

— Sabemos que você lhe dava cobertura para seus encontros amorosos.

— É preciso provar.

— Sabemos que Maria lhe pagava boas somas, para que a mantivesse a par dos locais freqüentados pelo marido, enquanto podia se encontrar com o Padre.

Joaquim percebia que seu telhado de vidro estava sendo apedrejado. Não compreendia como, mas simples pesquisa junto a algumas interessadas iria promover a queda do sistema. Armara a arapuca para sorver lucros extraordinários das mulheres. Era o ponto frágil. A ganância. Avaliou que a proposta dependia de simples anuência. Não era preciso revelar os segredos das alcovas. Mas não atinava a razão de tanto interesse:

— Por que estão interessados nas estrepolias sexuais do padre? Não é ele homem como todos nós? Não tem o direito...

— Joaquim, não seja tão estúpido, pensando que somos ingênuos. Se fosse com sua mulher, você que diria?

A observação era definitiva. Se os maridos soubessem das manobras, estaria em maus lençóis. Ele e Timóteo.

— Já foram falar com o maior interessado?

— Nem precisamos. Queremos a sua confirmação e interromperemos as atividades. Não cabe a nós anunciar aos paroquianos que o seu pastor estava tresmalhando as ovelhas. Cabe a ele e aos superiores dele. E caberá a você, se tiver vergonha na cara...

Leonel não se conformava com o descaramento do sacripanta.

— Pois vou dizer-lhes estritamente o que desejam ouvir. Tudo o que disseram é a pura expressão da verdade. Da mesma forma que garanti que Jeremias não tinha ido a outras casas de tolerância nem visitara outras mulheres, posso dar-lhes minha palavra de que tudo o que afirmaram está certo. Não me peçam, todavia, para citar nomes. Não concordo que eu deva prestar contas à sociedade pelo erro dos outros.

João, que se mantivera calado a observar as alterações fisionômicas do entrevistado, perguntou-lhe quase melifluamente:

— Você julga ser o melhor juiz de si mesmo?

— Claro que sim, João. Minha consciência...

— Não fale pela consciência. A consciência, em geral, é que se faz ouvir. E sempre a tempo. Ponha as barbas de molho. É só o que desejo recomendar, pois também não vou incidir no erro de julgar. Jesus é que nos orientou nesse sentido: “Não julguem, para não serem julgados. Com a mesma medida...” Está lembrado dos Evangelhos?

— É bom mesmo que pense assim, pois, pelo que me consta, todos temos consciência...

— Ainda bem!

— Graças a Deus!

Leonel segurava-se para não pular no pescoço do infeliz:

— Qual a resposta que nos dá a respeito do Escritório de Investigações Particulares “Olho Vivo”?

— Quero ouvir o que Dona Maria tem a dizer...

— Você não vai ouvir coisa alguma. Não pense que ela vai ficar sem conhecer as suas artimanhas, em conluio com Timóteo. E se você fizer menção sequer de ameaçar...

— Eu sou de boa paz. Não vou perder a oportunidade que estão me dando.

— Então, nos diga para onde foi enviado o Timóteo. Sabemos que entrou em contacto com você, pois precisa garantir-se.

— Para que querem saber?

— Para informar a Maria.

— Eu digo a ela.

— Não, você vai dizer a nós. E pode ficar sabendo que iremos verificar se a informação é quente. Se estiver tentando engrupir, o escritório vai chamar-se “Olho da Rua”.

Joaquim percebeu que Leonel não estava para brincadeiras:

— Está no mosteiro de Itaici.

— Onde fica isso?

— Em Indaiatuba. Aqui mesmo em São Paulo.

— Agora, você vai procurar sua ex-patroa e explicar a ela os seus projetos detetivescos. Para você, vai ser fácil. Peça-lhe para dispensá-lo numa boa. Entendido? O resto corre por nossa conta.

Leonel falava com muita emoção. A tática dera resultado. Se tivesse tempo, poderia ajudar Joaquim nas investigações.

— E se o projeto não der certo?

— Vai dar certo, sim. Nós faremos a divulgação dos serviços junto aos advogados e às firmas de auditoria. Sempre há serviço para bons profissionais. Vai depender de sua aptidão e isso nós sabemos que você tem bastante.

— E quem vai ocupar o meu lugar?

— Não se preocupe. Daremos um jeito. Cuide de sua parte. Após fazer levantamento de tudo que for necessário, será chamado para assinar o contrato, que João está encarregado de redigir e de registrar. Tudo vai ser ali: preto no branco, de acordo com a lei.

Joaquim saiu sem ter compreendido muito bem o que ocorrera. Sabia que a vida dera guinada de cento e oitenta graus. Mas ia feliz. Fora recompensado, afinal de contas, pela persistência. E já ia fazendo planos para certas investigações relativas à espionagem industrial. Não depreendera absolutamente nenhum aspecto moral do episódio. João gastara saliva à toa.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui