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Artigos-->AS BASES FILÓSOFICAS DO SOCORRISMO -- 27/02/2005 - 16:22 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER



















AS BASES FILOSÓFICAS

DO SOCORRISMO









GRUPO DAS AÇÕES BENEMÉRITAS















Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP







ÍNDICE





Nota explicativa ....................................

Primeiras palavras ..................................

1. A primeira emoção ...................................

2. Portas abertas ......................................

3. Dos desenganos ......................................

4. O último aviso ......................................

5. Enrolador desavisado ................................

6. Medo da morte .......................................

7. Do estrebuchamento ..................................

8. Para depois da morte ................................

9. Após a leitura ......................................

10. Refrigério d alma ...................................

11. Os eventos mais importantes .........................

12. Do desapego dos valores materiais ...................

13. Reflexões imprescindíveis ...........................

14. Exemplificação necessária ...........................

15. Postura inflexível ..................................

16. Normas para a evangelização .........................

17. Nihil novi sub sole .................................

18. Comentário geral ....................................

19. Palavras de incentivo ...............................

20. Desequilíbrio fundamental ...........................

21. Atropelos e indefinições ............................

22. O sentido da poesia espírita ........................

23. Colaborando com o médium ............................

24. Colaborando com os espíritos ........................

25. Frustração de médium ................................

26. O poder pela palavra ................................

27. Aceitação parcial ...................................

28. Roteiros requeridos .................................

29. Demarcando os limites ...............................

30. Ajuda inesquecível ..................................

31. As ações de benemerência ............................

32. A necessidade do amor ...............................

33. A caridade recondicionada ...........................

34. Os esforços caritativos .............................

35. Problemas de consciência ............................

36. Concepções de Deus ..................................

37. A prece .............................................

38. Humildade e trabalho ................................

39. O mundo .............................................

40. Sutilezas argumentativas ............................

41. As questões filosóficas .............................

42. O gato e o rato .....................................

43. O dia de hoje .......................................

44. Mortes físicas ......................................

45. Ligeiras apreciações ................................

46. O teor do texto evangélico ..........................

47. Uma luz no fim do túnel .............................

48. A bola de cristal ...................................

49. Ouro puro ...........................................

50. Pequei, Senhor! .....................................

51. As sacratíssimas bênçãos do Senhor ..................

52. Palavras de otimismo ................................

53. A extensão da obra ..................................

54. Limpando a consciência ..............................

Agradecimentos e explicações ........................















NOTA EXPLICATIVA











O Grupo das Ações Beneméritas trouxe sua contribuição sistematicamente, organizando as tardes psicográficas por assuntos, transmitindo cinco mensagens por dia, sendo a última a comprovação testemunhal das apreciações teóricas, por meio de relatos de espíritos envolvidos em problemas correlatos.

Ao contrário da turma anterior (ver Almas Comuns, pelo Grupo do Reforço II), deixou impressas inúmeras explicações, de sorte que a concepção técnica da obra e demais filigranas de composição vão sendo colocadas à vista dos leitores, culminando por apreciação a respeito das expectativas quanto ao resultado dos trabalhos.

Foi tão disciplinada a apresentação do grupo, que a tarefa mediúnica se transformou em mera vilegiatura pelas vibrações sutis de entidades altamente responsáveis, na apresentação das teses filosóficas socorristas, principalmente no auxílio às reflexões dos encarnados sobre a existência e a vida na Terra, como preparação para as lides obrigatórias no etéreo.

Há o médium que alertar para a complexidade temática e lingüística das mensagens iniciais, as quais foram propositalmente realizadas para a provocação ideológica dos encarnados. Aos poucos, os temas passam a ser redigidos com clareza, de forma que recomendamos que haja perseverança na leitura, para o usufruto das verdadeiras relíquias da pregação do grupo.





Deram-se as sessões no período de 07 a 25.01.93, conservando o opúsculo a ordem original dos textos.

Esperamos que o título pomposo que atribuímos, As Bases Filosóficas do Socorrismo, não seja causa de receios causados por preconceitos quanto às obras demasiado cerebrinas. Que muitos possam ser ajudados pelos pensamentos espíritas que se discutem nas aulas da Escolinha de Evangelização! Queira Deus que assim seja!















PRIMEIRAS PALAVRAS











A hora mais conveniente para o apanhado dos ditados é aquela em que a disposição mental flui naturalmente, sob a influenciação magnética dos irmãos da espiritualidade. Assim sendo, é preciso saber reconhecer que se fez boa preparação, por meio de preces adequadas para captar a simpatia dos doutrinadores. Entenda-se por simpatia a vibração de mesma freqüência, em faixa de onda equivalente.

Deste modo, como o escrevente se compõe maravilhosamente para a percepção dos comunicados, vamos prosseguir oferecendo-lhe modesta contribuição, ao mesmo tempo que aprendendo a manejar o instrumental desta sessão, como se fora aparelho novo de transmissão etérea, dado que não nos habituamos a utilizar cientificamente o material que nos é fornecido.

Sentimos muito estar tão crus, o que vem atemorizando o mediador, desejoso de se afastar desta mesa por causa das vibrações que não somos capazes de filtrar até seu cérebro de forma harmoniosa, impossibilitando-o de manter-se cem por cento atento.

É comum explicar-se, neste ponto das exposições, que o texto final não reproduz as hesitações e demais insuficiências na transmissão. Pois fique o registro do fato.

Quanto aos objetivos do grupo (cujo nome não se determinou), irão ficando claros à medida que progredirmos nas comunicações, pois não estamos preparados para conjecturar do andamento das palestras que deveremos reproduzir, através de posicionamento próprio e de exemplificação pessoal.

Assim sendo, vamos ter de encerrar esta rápida introdução, oferecendo nossos préstimos ao escrevente, para que se sinta seguro em relação aos propósitos altamente morais que temos em mira, não fosse esta uma das turmas da Escolinha de Evangelização e não estivesse sob os cuidados do irmão Amaral, novo na instituição, mas antigo companheiro de Hermínio, nos primórdios de sua estadia na categoria de alunos de primeiras letras e, depois, nas seguidas jornadas socorristas que empreenderam juntos, para o aprendizado do ministério mais sagrado da espiritualidade.

Ao médium, o antecipado agradecimento por toda a sua atenção e pelos sacrifícios que dever fazer, tendo em vista a canícula deste verão de 93.

Quanto à composição da turma e demais informações preliminares, não vamos insistir, pois, merecidamente, iremos dar uma tarde de descanso ao companheiro encarnado, cujo roteiro do dia incluiu até viagem de ida e volta à Capital, no intuito de não perder o sagrado vínculo com os parceiros da espiritualidade.

Fique na paz de Deus e aproveite bem as horas de descanso, regressando ao posto de trabalho mediúnico, para as rotineiras tarefas do treinamento poético.

Finalmente, não se preocupe com os dizeres que lhe passamos, uma vez que bem poderemos transformar esta mensagem inicial em algo mais adequado para o conjunto dos textos que se seguirão. É só dar tempo ao tempo, que tudo se ajustará maravilhosamente, de acordo com as regras estabelecidas pelos mentores da Escolinha. Confiemos em que Deus vela por todos e deixemo-nos estar felizes em suas mãos!















1



A PRIMEIRA EMOÇÃO











Se não estivéssemos tão entretidos com a formulação do texto, segundo os princípios doutrinários da Escolinha de Evangelização, iríamos, fatalmente, compor mensagem em que daríamos a tonalidade afetiva mais consentânea com as emoções por que estamos perpassando. No entanto, os dizeres se enchem de fleugma e de respeitável acento discursivo, para que não venhamos a descurar dos ensinamentos que deveremos retransmitir, na linha dos pressupostos estabelecidos pelos roteiros.

Para esta primeira manifestação, reservamos o tema da sensibilidade que perdura após o desencarne, cada vez mais intensa e cada vez mais compreensível, pois vamos adquirindo exata consciência dos diferentes sentimentos, muitos dos quais permaneceram camuflados rigorosamente para a inteligência, enquanto vivos na carne.

Assim, o fato de estarmos contentes e, ao mesmo tempo, em ânsias de expectativa, possibilita-nos consignar para os amigos a verdadeira emoção que sentimos, sem atropelos de última hora, pois nos foi dado o ensejo de testar cada palavrinha que iríamos ditar, produzindo, antecipadamente, os pruridos sentimentais, para que não desandássemos, na responsabilidade de oferecer segura comunicação, através da aplicação rigorosa dos recursos que nos estão à disposição.

Será preciso dizer mais a respeito das sensações conflitantes que representam a tonalidade emotiva dos que perpassam pela esfera cerebral do mediador?

Finalmente, resta-nos pequenino arrepio de medo, pois os temores e inseguranças do médium se refletem intensamente em nosso organismo perispiritual, pois não são só os nossos sentimentos que envolvem o ambiente magnetizado, mas também as vibrações do companheiro encarnado, que nos propicia os elementos com que completamos a transmissão.

Fiquem estas ligeiras apreciações como ponto de partida para mais sérios estudos no campo da mediunidade, já que não nos atreveremos a burlar os conselhos dos orientadores, que nos pediram para sermos breves e objetivos, embora com ampla liberdade de demonstrar as tendências da personalidade.















2



PORTAS ABERTAS











Franqueamos a entrada a quem queira tomar contacto com a turma, que resolveu autodenominar-se Grupo das Ações Beneméritas, não tanto pelo ensejo que dará a que muitas pessoas se recomponham perante o destino, mas, principalmente, porque pretendemos fazer desfilar, por estas páginas, muitas ocorrências em que os melhores sentidos serão enaltecidos, para que venham a se desfazer as ilusões dos que pretendam julgar-se donos da verdade.

O bom amigo escrevente se põe em dúvida quanto aos nossos atributos e estabelece séria posição defensiva, para averiguar até onde somos capazes de desenvolver a programação enunciada.

Está claro que não almejamos fazer do amigo guardião dos aspectos doutrinais espíritas que nortearão as colocações filosóficas, uma vez que lhe não daremos oportunidade para muitas reflexões durante o transcorrer das manifestações. De qualquer modo, contudo, iremos fazendo com que compreenda os termos, para que nos venha a oferecer os seus melhores recursos lingüísticos, nem mais nem menos do que o que fez em relação aos demais grupos.

Assim, da mesma forma que abrimos as portas para todos os amigos leitores, aguardamos receber a mesma consideração do escrevente, desde já convocado para série bem grande de pequenos entrechos.

O primeiro desafio está em averiguar sob que forma a nossa psique influenciou o desenvolvimento desta mensagem, para o que se deverá envidar bom esforço de concentração de atenção, já que os indícios são escassos, tendo em vista que não podemos dar ênfase especial a tal aspecto da comunicação, centrando o tema em algum ponto essencial, para que os humanos possam ir investigando a própria alma, à procura dos fatores da infelicidade atual ou dos elementos perniciosos que venham a perturbá-los após o desencarne.

Da profunda meditação que formos capazes de cumprir é que nascerão as idéias que nos predisporão à aceitação das diretrizes evangélicas, pois nada do que se coloca em ação, no campo das atividades relacionais, não passou anteriormente pela apreciação da consciência, mesmo que insidiosamente malévola e despreparada para o enfrentamento das verdades superiores da existência.

Para quem estava só interessado em dar dois ou três pequenos argumentos, até que conseguimos estender-nos bastante.















3



DOS DESENGANOS











Maliciosamente, vamos tornando os textos um tanto enigmáticos, pois não pretendemos dar de mão beijada os princípios essenciais, que propiciariam exames perfunctórios do material, equiparando o desempenho do grupo aos de outros mensageiros espirituais, com evidente prejuízo para os que estão acabando de chegar, dado o hábito muito humano de fazer prevalecer o antigo, sobre que se tem domínio mais seguro.

Eis o primeiro desengano que devem ter tido os irmãos, ao apanharem esta obra na estante — como se algum dia viesse a lume! Da mesma forma que o médium se pôs de sobreaviso, também os leitores deverão estar estranhando (quase dizíamos estupefactos) estes desenvolvimentos rápidos, sem se configurarem direito as questões e sem se darem explicações argumentativas cerradas a respeito dos temas levantados. São quase como que sugestões de desenvolvimentos, sem muita raiz lançada à realidade, fugindo inclusive dos aspectos circunstanciais das ocorrências que envolveram os manifestantes durante os encarnes.

Este texto não difere dos demais, especialmente porque vem tratando dos desenganos, o que deverá estar fomentando, irremediavelmente, muita dúvida também em relação a si mesmo, pois não nos move, como dissemos, o intuito de favorecer as conclusões, a não ser no sentido de que devam fundamentar-se nas lições evangélicas. Assim, a primeira decorrência desta mensagem será a utilização da paciência, do perdão e da boa vontade, dons especiais alimentados pela pregação cristã e amparados por todos os benfeitores da humanidade que se arvoraram em mensageiros do etéreo.

Dados os critérios culturais aplicados nestes começos de transmissões, deve ter ficado bem claro aos irmãos que de nada adiantará somente esperar o desenvolvimento dos temas para ir apreciando as dissertações, conforme os valores agitados e discutidos. O que se requer, o tempo todo, é que se faça a reconstituição das leituras essenciais da Codificação, em função das apreciações parciais que apresentaremos sempre.

Haverá forte desengano nesta postura? Pois, acreditem, faremos o possível para atenuar o dispêndio das energias, buscando concentrá-las em determinados pontos do mais alto interesse cármico de todos. Assim, este mesmo tema pode até ser visto por diferentes ângulos, forçando que muitos abandonem a liça desde logo, mas também podendo ocorrer de despertar a curiosidade e a vontade de se manter em equilíbrio perante o desajuste que estamos propondo, para que a terra fuja aos pés dos amigos, que deverão ter onde se apoiar, para não deslizarem para o fundo da mais terrível melancolia.

Os desenganos, assim, deverão constituir-se em força, em élan, em brio e em coragem, para o prosseguimento da leitura, tese que levantamos desde logo, para que não se frustrem as expectativas que se criaram a partir do fato de ser esta mais uma publicação da Escolinha de Evangelização.

Digamos que temos razão em advertir e que ninguém tem motivos para desiludir-se destes ensinamentos. E ponto-final.















4



O ÚLTIMO AVISO











Não será este texto que conterá o último aviso, evidentemente. É que estamos propondo-nos a elucidar esse tópico das mentalizações dos encarnados, pois todos aguardam que do Céu desça o seu anjo da guarda para a advertência final a respeito da preparação que pretendem (e esperam) fazer à época em que a morte se aproximar.

Deve estar claro, no espírito dos leitores, que iremos desenvolver a tese de que não se pode aguardar aviso algum, pois a consciência, pelo simples ato de refugar a possibilidade da visualização de qualquer mensageiro (se já houve, o pensamento fenece por si mesmo) é suficiente alerta, a fim de que todos se predisponham ao estudo das deficiências de caráter, para a descoberta das soluções evangélicas mais adequadas para se porem em prática para o sucesso da boa preparação.

Mas aí está a maior dificuldade, pois, se os amigos se compenetraram de que o melhor é ir tomando conhecimento das comunicações do plano da espiritualidade, então não têm por que se deixarem dominar pela alienação, ficando à deriva no mar da vida, sem nunca tomarem a iniciativa de partirem em socorro de quem sofre e pede por socorro, o que se dá em qualquer campo a que se dedique atenção.

Vejam que não temos a pretensão de dar o último aviso, mas que este é o momento mais propício para a advertência, não resta a menor dúvida. Vamos, portanto, prevenindo-nos contra os acessos de rebeldia que as notícias vindas da espiritualidade nos causam, tênue mas devastadoramente, dado que não aceitamos que nos chamem a atenção justamente para as iniciativas que acreditamos estarem perfeitamente conjugadas às prescrições de Jesus, nos diversos discursos transcritos nos Evangelhos.

Se os caros amigos se refestelaram na poltrona e sentem comichões de depositar o livro de volta ao empoeirado lugar que ocupava na estante, poderemos concluir que irão iniciar ou continuar a sua caminhada de amor em benefício dos companheiros mais atrasados, incapazes de compreensão de dizeres tão subjetivos quanto os que estamos desenvolvendo.

Eis que o texto, finalmente, entra em contradição, pois afirmamos, um pouco acima, que tínhamos por obrigação a objetividade e agora estamos reconhecendo-nos absolutamente subjetivos. Pois o que acreditamos estar fazendo é transformar as intuições em palavras passíveis de análise e de decifração, para o que estabelecemos as propostas no tom do desafio e da perquirição da verdade. Se estivermos, realmente, enleados nas próprias manobras, ajudem-nos vocês, que têm a mentalidade mais dinâmica e os conhecimentos melhor firmados na mente e no coração.

Quanto a nós, iremos agradecendo-lhes, à medida que formos recebendo o influxo das cogitações, pois é desse relacionamento que temos necessidade, para que o progresso se dê coletivo no grupo, já que não temos muitos recursos oratórios e a nossa palavra vai descorando, à proporção que as vamos desgastando com a sua utilização indevida.

Perceberam o problema? Então, queiram ajudar-nos, por favor. Quem sabe aí esteja o segredo maior da meditação que poderá levá-los à mesma compreensão que nos está faltando. Ajam em plena felicidade, se isso lhes dá gosto, mas não se desestimulem jamais para a procura da verdade.















5



ENROLADOR DESAVISADO











Compareceu a um dia de trabalho um irmão que passava pela rua e pressentiu que aqui se estava exercendo o direito da psicografia.

Tendo julgado que os méritos do grupo eram vis, dado que a luminescência dos indivíduos não lhe feria os sentidos, concluiu pela facilidade da comunicação e predispôs-se a fornecer algum material com que elaboraria mensagem de alta categoria, que iria fazer com que a humanidade despertasse para seus verdadeiros destinos, ao lado de Jesus.

Como se julgou útil que permanecesse para avaliar os recursos de que se lançava mão e tendo ele concluído, erroneamente, que o médium é que fornecia o material idiomático, para a confecção das estruturas frasais mais adequadas para a representação dos pensamentos, pôs-se atento para a oportunidade que lhe seria dada de fazer valer as suas sugestões.

Pois aqui está a mensagem resultante desse primeiro entrevero entre a ilusão do poder e a realidade do desempenho.

Estou de volta, depois de quinze meses de estadia na Escolinha, sofrendo muitíssimo com as ânsias da preparação do primeiro texto, o qual considerava naturalmente resultante de minhas fantasias, já que me via superior a todos os indivíduos, uma vez que não caíra diretamente nas trevas e era bem capaz de sopesar os procedimentos humanos que percebia prevalecentes nos criminosos e viciados.

Na verdade, não tinha acesso aos pensamentos mais generosos dos que possuem o coração aperfeiçoado nas virtudes superiores do socorrismo missionário, evidentemente porque era fraca a idéia e não acreditava que pudesse melhorar.

Naquela tarde gloriosa, em que me deram oportunidade de falar perante o médium, tive o desprazer de não conseguir levá-lo a parte alguma, não só representativamente, mas também concretamente, já que não captou qualquer transmissão de minha parte, pois os companheiros desligaram os aparelhos magnetizadores, tornando impossível para mim, despreparado e equivocado, consignar os desejos que manifestara.

Volto hoje para esta pequena composição, externando os mais efusivos agradecimentos aos companheiros e aos professores, mui especialmente ao mentor Amaral, que me amparam, para que minha vontade, finalmente, se cumpra perante os encarnados.

Devo dizer que o amigo médium teria tido sucesso se se dispusesse, àquela época, a receber-me em sua intimidade consciencial, mas tal não se deu por precaução dos parceiros que ocupavam o posto. Desse modo, sem que tenha tido conhecimento do fato, assim mesmo o bom amigo é merecedor também dos agradecimentos, pela boa vontade do apanhado de tantos ditados, entre os quais se inclui o desta modestíssima manifestação.

Eis que devo encontrar o ponto de contacto destes dizeres com os que os anteriores companheiros deixaram assinalados, forcejando por estabelecer questões relativas aos dados envolvidos, como se se formulasse problema que devesse resolver-se com os elementos por mim apontados, com a devida ajuda dos ensinos extraídos dos livros sagrados do Espiritismo.

Ao estilo da turma, não deveria fazê-lo diretamente, mas parece-me que o caminho que se estende à nossa frente nos indica alguns pontos essenciais do relacionamento mediúnico, havendo com que se entreter o espírito arguto que se deixa seduzir pelos encantos dos contactos entre os planos.

Que tal explorar o fato de que nem sempre a comunicação não se dê por deficiência do médium, mas por injunções estabelecidas pelos protetores? Não haverá aí rico filão para se conseguirem notações doutrinais de extrema importância? Que tal avaliarmos o fato de termos afirmado que o médium teria recursos para apanhar os ditados, até mesmo sem o concurso dos organizadores de suas tardes psicográficas? Teria total sucesso ou se veria diante de mensagem eivada de falhas conceituais e filosóficas?

Como não tenho a sutileza dos que me antecederam, deixei grafadas as perguntas, para o que peço perdão aos colegas do grupo, que se impacientam por me ver tão falante e dominador.

Eis, finalmente, outra proposta, esta bem mais de acordo com as de meus parceiros. Ou não?















6



MEDO DA MORTE











Não há ser humano que não sinta um quê de nostalgia da vida ativa. Por isso, muitos, atormentados por anos a fio de pavorosos sofrimentos, vislumbram saída da farrapagem carnal, através da misteriosa porta que dá para o desconhecido. Por mais que a pessoa, no entanto, se tenha deixado envolver pelas teorias espíritas ou pelo muito que tenha perlustrado as obras dos mais iluminados do espiritualismo universal, ainda assim a sorte que aguarda para depois do túmulo é incógnita de poderosa força atrativa.

Não vamos acentuar esse aspecto da miserabilidade das condições humanas mais adversas, para firmar o conceito de que os que menos temem é porque tenham graves e profundas necessidades de se desalojarem de um corpo altamente condensado em seus aspectos mais terríveis de prisão. Vamos reconhecer que existam aqueles que desanuviaram a mente e que não se sujeitam às pressões psíquicas dos temores e das vilipendiações emocionais mais grosseiras.

Existem, pois, para nós, quem não tema despachar-se para o outro mundo, pretextando alguns até valores e virtudes exponenciais, que os elevam perante a grande maioria dos mortais. Mas tais exceções vêm para a confirmação integral da regra. Em geral, os homens temem morrer. E fim.

Aqui é que entram as colocações doutrinais que nos cabe transportar até a presença dos poucos leitores que permanecem hígidos mentalmente diante destes textos, uma vez que temos por obrigação configurar que também nós perpassamos pelas mesmas agruras de encarnes perigosos para a compleição espiritual e, entretanto, cá estamos, regenerados nos aspectos da sanidade intelectual, dando demonstrações de conhecimento de matérias próprias dos seres humanos, mas que tomam feição original, segundo as diretrizes elaboradas pelos planos da espiritualidade superior.

Permaneceríamos inúteis se agora não nos atrevêssemos a fomentar alguns distúrbios nos amigos encarnados, solicitando deles que se manifestem relativamente aos sentimentos relativos àquela tremenda passagem do estado material para o espiritual.

Pois aí ficam as proposições elementarmente feitas, já que não pretendemos ofender a inteligência, realizando as questões fundamentais e primárias de forma declarada e arrogante. Que cada qual cumpra o dever da apreciação íntima das reações e que se expresse da maneira que for capaz, para entrar em contacto com os companheiros do etéreo, a quem cumprem o auxílio e a orientação.















7



DO ESTREBUCHAMENTO











Que belo termo empregamos para designar o tema desta composição!

Verdadeiramente, salvo os casos em que o trespasse ocorre durante o sono, quase sempre as aflições físicas compõem quadro de sofrimento moral, conforme o apreciado na explanação anterior.

Evidentemente, estamos falando dos que tomam consciência de que estão para transpor os portais do mistério, momento sagrado que todos nós iremos enfrentar, esquecidos de que o fizemos em diversas outras oportunidades, em vidas decalcadas por padrões que nos caíram no esquecimento, por sábias injunções consignadas nos termos das leis universais.

A serenidade dos que se compenetraram da inexorabilidade do evento contrasta, profundamente, com a desgraçada formulação dos impropérios de injustiça que se lançam contra a Divindade, na maioria das vezes. E aí estamos falando das repercussões que sentimos deste lado, pois muitos dos que se revoltam deixam de fazê-lo declaradamente, para, até na última hora, dar aos demais a impressão de serem superiormente dotados, moral e espiritualmente, já que a falsidade, a ignorância e o melodramatizar são caracteres por demais evidentes nas estruturas humanas.

Sentimos ter de evidenciar fatores impróprios a serem considerados por pessoas cônscias dos valores espíritas, que tomaram a nossa manifestação para deleite intelectual ou desfrute estético, esquecidas de que a vida obriga a desforços imaginativos que se revelam nas ações que o espírito de perquirição transmuda em aventureirismo e fatal alteração de pontos de vista, se se quiser, realmente, pôr paradeiro ao eterno regressar à carne, em estado de depauperamento espiritual.

Então, o supremo estertor daquele que abandona a vida material adquire valor de transcendental importância, a informar, rigorosamente, todo o cabedal de conhecimentos, de crenças e de preparação para o enfrentamento do destino, segundo os procedimentos que se teve durante a vida e que se têm na conta de insuficientes, incômodos, consciencialmente falando, ou prejudiciais à configuração de regresso em apogeu de glória.

O momento em que se estrangulam as vaidades e se abandonam as ilusões é capital para o futuro roteirista dos caminhos do Senhor. Ajudados pelas meditações que urdimos a partir das informações dos comunicadores do etéreo, saibamos desafiar as dúvidas e hesitações e ergamos muralha de vigorosa fortaleza moral, enchamo-nos de virtudes e encaremos o instante mais agudo da existência material, com sobriedade, com confiança e com fé em que tudo venha a apontar o paraíso, como o próximo porto em que atracaremos.















8



PARA DEPOIS DA MORTE











Assim que transpusermos o umbral momentoso, iremos defrontar-nos com a consciência, qualquer seja o nome que dermos aos fantasmas que se apresentarem perante nós como defensores da divina justiça.

Não se tratará, então, de mero escrutínio para a compreensão das virtudes e dos defeitos. Teremos de estar organizados psicologicamente para recebermos maciço influxo de informações, muitas das quais relutantemente aceitávamos em vida como frutos de elaborações mentais consentâneas com a verdade da personalidade.

Haverá acusações que se materializarão, que assumirão proporções físicas, que se personificarão dramaticamente, da mesma forma que, nos pesadelos mais impressionantes, ficamos fascinados pela realidade das vivências dos acontecimentos mentais. Mas aí não haverá súbito despertar nem a sutil esperança de que tudo se desvanecerá de repente. Ao contrário, as pressões se darão com muito maior força energética, como se o ar ambiente recebesse a influenciação e se condensasse, para a formação dos seres e das entidades, que passarão a exercer papéis próprios, como se independessem de nossa capacidade de criação mental.

Haverá sustos, caso não tenhamos procedido bem, até mesmo quando devidamente alertados por textos como este, em que se pretende informar a respeito das ações e reações no campo da espiritualidade. A consciência assume o seu papel, alheada das manobras cerebrinas ou dos arreglos emotivos, que soem pretender disfarçar os horrores que se delineiam no fundo da mente ou do coração, segundo a maior ou menor preponderância de um dos fatores constituintes da personalidade.

Não estamos pintando com cores maviosas o despertar consciencial, pois sempre haverá algo que ficou pendente, para resolver-se posteriormente ao desfecho vital. Augurar-se ou prognosticar-se destino angélico, como se todos os atos de vida tivessem a propriedade da pureza absoluta, talvez possa somente ser a contrapartida das acusações íntimas que se voltaram para a definição da pessoa como profundamente egoísta, vaidosa e alheia aos problemas que afligem a humanidade, perdendo precioso tempo em considerações pessoais, como se todo o universo estivesse centrado em determinado indivíduo.

Queremos que todos tenham condições de avaliação perfeita, por isso desestimulamos qualquer enaltecimento, sejam as criaturas até o mais completas moralmente possível. Se estamos sendo por demais rudes, pedimos que esqueçam estas pregações e que voltem às leituras de hábito, mais confortadoras e mais propícias ao apaziguamento, dado que se destinam ao comentário dos divinos atributos do perdão, da comiseração, da misericórdia, da esperança, da fé e da caridade.

Nós não estamos desacreditando da capacidade ou da possibilidade de se desenvolverem tais riquezas evangélicas. Só estamos duvidando que o reconhecimento dessa aquisição se dê sem os percalços naturais de quem se atribui poucos defeitos e excelsas virtudes.

Preparem-se, irmãozinhos, para a hora do despertar no plano das realidades finais, prontos para o enfrentamento dos distúrbios emergentes da consciência e simpáticos aos ideais de regeneração e de purificação, através de efetivas ações no campo do socorrismo e do estudo. Cheguem aqui dispostos a trabalhar, que isso lhes dará condições de superior aceitação das mazelas psíquicas que se virem evidenciadas.















9



APÓS A LEITURA











Pode parecer que estejamos desprezando as mensagens que vamos elaborando, conforme planejamento aprovado pelos mentores da Escolinha de Evangelização, tanto estamos sugerindo que os amigos se transtornem pelas dificuldades das exposições, achincalhados que vão sendo em seu amor-próprio pelas grossas palavras que se despejam, às vezes até incongruentemente, como se desrespeitássemos os atributos divinos que cada semelhante tem imanente na conformação existencial.

Mas não vamos arrefecer desta linha de abalos sistemáticos, pois existem criaturas que nos inocentarão, já que se situam, com tenacidade e harmonia, diante dos constantes desafios inerentes à existência, segundo os parâmetros estabelecidos pelo projeto de mundo do Criador. Quem vê a realidade como ela é, não se assusta com termos potencialmente ofensivos, mas vê mais além, na busca da verdade definitiva, aquela que nos remeterá a todos ao regaço do Senhor.

Assim, aos que conseguirem ultrapassar as lindes da susceptibilidade e da respeitabilidade que se pretende de todos os relacionamentos, chegando a este ponto das apreciações, sugerimos que investiguem seriamente, sem envolvimentos pueris de emotividade à flor da pele, se tudo o que vão realizando atualmente está fadado ao sucesso cármico. Atentem para o fato de que não estamos propondo rememorações de acontecimentos nem exames de consciência. Queremos que saibam se tudo o que vão concretizando perante a sociedade está fundamente decalcado nos princípios legítimos da pregação cristã, segundo a metodologia enfatizada pela doutrina espírita da codificação.

Não estamos dirigindo-nos a marinheiros de primeira viagem mas a conhecedores profundos dos textos mais importantes da civilização ocidental, aqueles impressos milhares de vezes e distribuídos profusamente entre todos os habitantes das regiões que se estabeleceram civilizatoriamente pelos padrões do cristianismo.

Pedimos aos amigos que relevem as estruturações lingüísticas mais esdrúxulas deste conglomerado de irmãos do Grupo das Ações Beneméritas e se atenham a evidenciar os pensamentos que se exteriorizam para os encarnados, pela voluntariedade gráfica do médium que nos serve.

Feitas as recomendações de mero caráter circunstancial, exigimos que os precavidos se alijem das premonições de que possam estar sendo engodados e se inteirem de todos os vícios a que estejam dando consubstanciação, por meio das atitudes e das intenções relativas à conjunção com os semelhantes, no plano da realidade tangível dos projetos em andamento. Simplificando os dizeres, saibam em que estão transgredindo as leis estabelecidas pelo seu senso de moralidade, para que mais tarde não venham a envolver-se em sérios distúrbios no plano consciencial.

Quanto ao que fazer, ninguém melhor do que os amigos para definirem com exatidão os princípios mais condizentes com o grau de desenvoltura das personalidades e com as potencialidades de caráter social, cultural, financeiro etc. Ninguém irá estabelecer planos de ações individuais, porque o que, na verdade, temos em mira é deixar perfeitamente configurado o nível de responsabilidade de cada um perante Deus e seus mandamentos cármicos.















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REFRIGÉRIO D ALMA











Tive, na vida, forte tendência para o perdão e para a consideração de que todos os seres humanos são perfeitamente resgatáveis para o bem eterno, conforme as promessas mais significativas de Jesus. Sacerdote e estudioso da alma, vi, nos parceiros de existência, seres compatíveis com os princípios humanitários que presidiam a todas as minhas ações comunitárias e pessoais.

Trabalhei firmemente e desinteressadamente por todos os que me procuraram no exercício do sacerdócio, esquecido, porém, de que, acima da fé jurada sobre os cânones reconhecidos como imprescindíveis para a regularização dos eventos eclesiásticos, estão os deveres para com a natureza e para com as leis superiores do Senhor.

Oficialmente, poderia reivindicar entronização nos altares, como elemento absolutamente integrado nos ideais mais puros da santidade, dado que nenhum dos itens dos dogmas ou das prescrições curiais foi por mim procrastinado sequer, tendo cumprido à risca, com o coração alevantado por extraordinária fé, todos os preceitos da melhor conduta, conforme os padrões e exigências religiosos.

Mas um dia tive de enfrentar os dispositivos conscienciais.

Inicialmente, não tive de que me acusar e os fantasmas que volitavam ao derredor entoavam hosanas ao Senhor, pelas virtudes superiores que demonstrara possuir e que aplicara com rigor.

Mas os anjinhos não apresentavam muitas variações nos cânticos e, depois de algum tempo, comecei a impacientar-me com a imponderabilidade de futuro em absoluta imobilidade, de felicidade aparente, mas promitente de angustiosas condições de isolamento, já que havia interrogações que não se respondiam e presenças que não aconteciam.

Cheguei a considerar o Céu fruto da imaginação e os anjos etiquetados pelo figurino das concepções infantis das matreiras matronas que freqüentavam o confessionário. As cores claras e brilhantes foram perdendo o viço, até que me ameaçaram de enceguecimento total. Não capitulei, porém, às sugestões de inferioridade perante as demais criaturas e me matriculei, decidido, na escola das deliberações corajosas dos que não temem acicatar a realidade com vara curta. Desse no que desse, iria suplantar as aleivosias sacerdotais e iria desafiar as forças espirituais a que me enfrentassem, com os poderosos obuses argumentativos de suas lucubrações.

Foi só esquecer-me das prerrogativas do sacerdócio e da santificação, para descerrar-me a vista em refrigério de luz para meu ser conturbado por aflições indefinidas e imponderáveis. Despertei nos braços dos protetores, alçado pelas preces dos que me amavam e me queriam exaltado em beatificação resplendente.

Eis para o que vim.















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OS EVENTOS MAIS IMPORTANTES











Como caracterizar o que possa ser o mais importante na caminhada que fazemos, durante o período em que freqüentamos a carne?

Muitas vezes, julgamos que certos passos são decisivos, como o casamento, a concepção dos filhos, o ingresso em alguma carreira profissional, a adoção de seita religiosa ou o compromisso que se assume perante a consciência para se realizarem todos os atos de determinada maneira, favorecendo quer as boas, quer as más realizações, etc.

Há pessoas que insistem em dar a algum cometimento particular importância superior, como se tudo pudesse girar em função de determinada atitude isolada. Evidentemente, existem eventos que desencadeiam problemas seriíssimos, como no caso de alguém que se atira debaixo do trem e acaba escapando com vida, mas deformado inexoravelmente, incapaz de locomoção para o desempenho regular das habituais atividades.

Mas não devemos culpar aquele acontecimento como definitivo, pois as causas que levaram ao gesto desesperado é que devem sofrer exame profundo, já que os fatos denegridores da personalidade perante a consciência se acumulavam, impondo-se aquela ação como imprescindível, para o rompimento de todos os laços que impediam a tomada de decisões, nos campos considerados de maior significação, para que a vida pudesse ser usufruída em felicidade.

Mas não estamos aqui para considerações filosóficas de tão pouca validade perante os compromissos cármicos que se têm como inadiáveis, já que correspondem a conjunto de circunstâncias estabelecidas pelos familiares e protetores, para que se dê seqüência aos ganhos evolutivos.

Eis que introduzimos a nossa tese, fazendo-o subjetivamente, para que os amigos possam deslindar os processos de reconhecimento da verdade, uma vez que deverão compreender que a vida é a resultante de inúmeros fatores, dentre os quais avultam os determinados pela conjuntura do estágio atual da personalidade, que mereceu reingressar no mundo, certamente, para desfazer algumas ligações prejudiciais, à vista de débitos anteriores, e para participar da febricitante atividade coletiva, com a finalidade evidente de contribuir para que todos possam reaver a inocência perdida, conforme a simbólica construção judaica de Adão e Eva e do paraíso perdido.

Como se chegar ao entendimento de qual seja exatamente o carma requerido e de quais condições se é possuidor para a elaboração das ações relativas ao seu cumprimento será um dos motivos mais justos para que o homem se dedique à reflexão pessoal, já que é praticamente impossível captar tais informações dos mentores espirituais, dados os limites de atuação de cada um.

Saibamos desvencilhar-nos dos ideais profundos de nossas vidas, manifestando-nos desejosos de servir e de amar, que são as mais importantes chaves, em qualquer processo evolutivo. Dessa forma, estaremos facultando aos acontecimentos apresentarem-se com seu valor fortemente evidenciado.















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DO DESAPEGO DOS VALORES MATERIAIS











Tema obrigatório para a espiritualidade, a pregação aos encarnados de que não devem ver, na vida corpórea, nada que não seja transitório não poderia faltar neste rol de pequeninas mensagens.

Mas não queremos deixar demonstrado que tudo o que se faz no plano da realidade material não serve para nada, a não ser para a consignação de pontos positivos ou negativos, em função do crescimento espiritual. Absolutamente não iremos concordar em que sejam desconsiderados os meios físicos, se assim podemos denominar essa fase do devir existencial, uma vez que existem inúmeras ações de transcendental importância centradas nos interesses superiores do serviço a ser prestado aos irmãos, no campo corpóreo. Assim, os cientistas que avidamente buscam controlar as afecções e as infestações microbianas, procurando lenitivos para os males do corpo, precisam ter pela matéria, tal qual é compreendida nessa contextura organizacional de átomos e moléculas, relevante respeito, pois, afinal de contas, se não fosse valiosa tal peregrinação, Deus não na teria criado.

Vejam que não temos recursos para fundamentar a argumentação nos elementos intrínsecos à natureza da matéria, pois, para nós, importa-nos, sobretudo, que venha a ser o veículo do progresso da parte espiritual. O que não admitiremos jamais é que, diante da necessidade de hierarquizar as importâncias, releguemos a parte corpórea ao desprezo das considerações pejorativas.

Alienar-se completamente dos efeitos gerais que a densidade material exerce sobre o psiquismo será, sem sombra de dúvida, atitude a ser reconsiderada futuramente, sob os escombros conscienciais de quem não deu a devida importância ao fenômeno da vida.

Desprender-se, portanto, dos valores materiais terá forçosamente de significar ter em alta consideração o nascimento nesse meio como forma poderosa de se promover a aquisição dos verdadeiros bens para o progresso da alma. Assim, é justo que recomendemos que se atribuam os devidos valores a todos os bens provenientes do acúmulo das riquezas terrenas, elegendo como definitivos os que remetem os indivíduos à reflexão a respeito das injunções dos mandamentos das leis de Deus, conforme a pregação de Jesus e a orientação espírita provinda da Codificação.

Para que ninguém se perca em lucubrações disparatadas é que estamos deixando impressos os roteiros normais para o crescimento dos conhecimentos, no campo da espiritualidade. O mais deverá correr por conta de cada um.















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REFLEXÕES IMPRESCINDÍVEIS











Decorrente das apreciações do texto anterior, surge a necessidade de algumas considerações, para que se explique a recomendação das ações psíquicas, uma vez que tudo nos leva a pressupor as obras como o fundamento do progresso, já que Jesus nos deixou claramente dito que é pelas obras que o homem é julgado.

Mataríamos a charada, se disséssemos que as reflexões também são ações e, portanto, produtos da aplicação das energias humanas concentradas no intelecto, da mesma forma que o trabalho, pelas leis da física, resulta do emprego dos elementos energéticos que se encontram na natureza? Aparentemente, sim, pois acreditamos que o vigor das concepções nascem da forte tendência da mente em condensar os pensamentos sob forma de impressões dominantes, às quais determinamos o papel de condutoras conscienciais, sejam ou não fruto de rigorosa ponderação, equilibrada e justa. Mas resta resolver a possibilidade de se enganar o homem na deliberação que melhor condiga com os eventos que deverá criar, onde se aplicar com denodo para a responsabilidade maior do cumprimento dos deveres cármicos, e isso não nos parece passível de compreensão imediata, pois muitas das variáveis relativas aos encarnes quedam em absoluto esquecimento.

São, portanto, imprescindíveis as reflexões a respeito dos aspectos filosóficos da existência, pois quer-nos parecer que as circunstâncias sociais ou as conjunturas culturais exercem forte fascínio sobre as criaturas, a ponto de sufocá-las para a verdade, como se também o absoluto acabasse sendo concepção relativa a determinado momento histórico, podendo sofrer alterações de forma e de conteúdo a cada transformação que se opere no seio das civilizações. Seria como se Deus adquirisse diferentes atributos, conforme a imaginação criadora dos homens os instituísse, à luz de eventuais lucubrações.

Não confundamos, jamais, a natureza intrínseca do homem, com as exterioridades da composição ideológica, frutos característicos da adubação, da composição do solo, dos cuidados com a irrigação e demais ações correspondentes aos avanços científicos no campo da agricultura, apenas para evidenciar, através de grosseira exemplificação, como é que se podem transferir os conhecimentos precários do momento, para a eternidade da configuração da verdade absoluta.

Sem que tais conjecturas venham a ser realizadas, pensamos que o homem irá ter de perlustrar muitas vezes os caminhos já trilhados pelos expoentes da espiritualidade, que se despojaram das virtualidades, segundo os invólucros morais que vão abandonando na linha de progresso, até se consistirem em seres dulcíssimos, revestidos de angelitude, no apogeu do amor e na glória de Deus.

Tais resplendentes criaturas se contentarão com as conclusões provisórias adquiridas nos devaneios, durante o transcurso das vidas materiais, no âmbito da esfera planetária? Ou irão aperfeiçoando-se, de acordo com ações mais abrangentes e mais fiéis aos dispositivos emanados das leis universais?

Que o resultado desta leitura não venha a surpreender os amigos, pois o que menos desejaríamos seria encaminhar as meditações, que julgamos devam ser livres, para que se dê andamento aos roteiros individuais. Que nos sirvamos do texto como base para configurar as preocupações dos alunos da Escolinha de Evangelização, que se apresentam para as aulas primárias de socorrismo. E mais nada.















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EXEMPLIFICAÇÃO NECESSÁRIA











Quando estamos refletindo a respeito das eventualidades que nos dão as características do presente encarne, na precisa situação em que nos encontramos, é justo que consideremos os recursos disponíveis para o cumprimento da missão. Um dos meios mais importantes de considerar o valor de cada ação propugnada como eficaz para a realização dos compromissos cármicos está na apreciação dos atos levados a cabo pelos companheiros, quer sejam edificantes, quer não tenham dignidade, buscando inferir de cada um qual a importância para o desencadeamento dos processos da lei de causa e efeito.

Assim, os bons espíritas — para que exemplifiquemos também nós — devem vigiar os passos dos irmãos mais antigos, pelas inúmeras biografias que se deixaram impressas, objetivando avaliar quais os méritos e deméritos das ações, conforme as necessidades sociais ou individuais demonstradas. Nenhum ato deve ser considerado isoladamente, pois as repercussões nos meios físicos, sociais e morais, são inexoráveis.

Entre parênteses, devemos alertar para o fato de que não estamos estimulando os julgamentos pessoais, mas sim a apreciação dos acontecimentos, conforme as atitudes tomadas. Os indivíduos não devem ser enaltecidos ou vilipendiados, mas tomados como irmãos com dificuldades, tanto que também tiveram de perlustrar os caminhos da matéria, para poderem adquirir atributos através de que progredir.

Tal postura mental é irretorquível, permitindo-nos aproximação despojada de preconceitos, a ponto de podermos solicitar a presença das pessoas em que nos espelharmos, para a definição dos problemas que se resolveram ou dos débitos que se criaram. Por outro lado, se evitarmos o contágio de nossas mazelas, poderemos angariar auxílios fundamentais para o desenvolvimento das virtudes, ao mesmo tempo que poderemos estimular o companheirismo mais sadio, favorecendo aos piores dotados que venham a conceber a existência de forma bem mais próxima da realidade conceitual dos irmãos postados na administração da esfera em que nos situamos.

Finalmente, para encerrar estas considerações de forma a chegar a algum resultado, que os exemplos levantados se dêem no âmbito das realizações, sem que procuremos indivíduos cujos desenvolvimentos cármicos se deram em circunstâncias estranhas ao meio em que vivemos. Se houve quem se dedicasse aos hansenianos, nem por isso toda a humanidade deverá voltar-se para tal ministério de amor, pois existem inúmeras tarefas socorristas que merecem a mais digna apreciação, a fomentar ações as mais beneméritas.

Que Jesus seja a estrela-guia da jornada e tudo se concretizará de maneira a mais perfeita possível.















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POSTURA INFLEXÍVEL











Fui, na Terra, o que se poderia chamar, sem erro, de ovelha negra da família. Tinha diversos irmãos, tendo convivido com eles em harmonia até a idade de trinta anos. Depois disso, cismei de acusá-los de malícia, de envolvimentos carnais exagerados, de materialismo e de astúcia em relação aos desejos que não declaravam, mas que incrementavam por todas ações, em favor da riqueza que perseguiam, no campo dos bens que a traça rói, a ferrugem consome e os ladrões roubam.

Em suma, filiei-me a determinada instituição religiosa que não admite a riqueza individual, mas que sustenta enorme caterva de seres absolutamente inócuos para o crescimento da humanidade. São pesos para a civilização contemporânea, mas se arvoram em defensores da pureza evangélica, tanto que se despojam de inúmeros sinais de grandeza material, para só ostentarem a pobreza como mérito superior de quem se dedica, inocentemente, a servir o próximo.

Entrementes, vão dando curso às criações da imaginação, orientando o futuro espiritual como de obrigação para o Criador, de modo que, quando chegam a este outro lado da realidade, trazem o orgulho desmedido de se apaniguarem defensores dos oprimidos, querendo fazer valer os sacrifícios, que não fizeram, como louvor dos méritos, que não têm, para serem guindados desde logo ao apogeu da vida espiritual, santificados em sua concepção de vida.

Não foi diferente a minha atuação quando desencarnei e pretendi ser recebido em glória.

Mas não é para isso que estou participando desta tarde mediúnica. É para referir-me ao fato de que, subjetivamente, desprezei os irmãos de sangue, designando-os seguidamente para as forças infernais como candidatos aos tachos de azeite fervente. Julgava-os perdidos para a redenção e apontava o dedo acusador, tornando-os nos símbolos da alucinação, completamente esquecido de que faziam o melhor que podiam em seus relacionamentos com os seres a quem haviam proporcionado salutar ingresso na carne e a quem ministravam educação, com amor extremado.

Eu me preocupava com a alma, passava descomposturas memoráveis nos instintos, afogava os impulsos naturais da contextura corpórea e jamais admiti estar errado quanto ao patrimônio que ia acumulando no campo das riquezas que a traça não corrói, a ferrugem não desgasta e os ladrões não furtam.

A citação dupla da mesma passagem da pregação de Jesus é proposital, pois era o argumento com que contava para abrir os portais do paraíso celestial. Foi, só, o bárbaro e injusto discurso que fiz em meio à escuridão do báratro, insuflando os irmãos sofredores à revolta contra as péssimas condições em que se debatiam.

Camuflei, maliciosamente, a arte que aplicara para a salvação da alma e estimulei ao máximo a criação de defesas jurídicas fundamentadas nos cânones religiosos que utilizara como refúgio intelectual, para poder fazer as exigências do reconhecimento de meus méritos.

Para sossego dos irmãos, devo dizer que os companheiros de existência vieram ao meu encontro, oferecendo-me o amparo de suas consolações. Não eram entidades perfeitíssimas, a resplenderem a luz da sabedoria nem a força do divino amor. Eram só bons amigos do etéreo, que tinham a universal necessidade de se desfazerem de alguns terríveis débitos, mas que, melhor do que eu, souberam solucionar alguns dos problemas cármicos, para melhorarem o desempenho espiritual.

Hoje, estou aqui, lutando contra as palavras, sob o influxo de alguns sentimentos não completamente definidos, ardendo por constituir-me em elo irremovível nesta cadeia de aluninhos, para que comece bem a carreira socorrista, que não soube valorizar devidamente, na Terra, apesar de ter tido inúmeras oportunidades de trabalho.

Que meu texto seja a complementação dos anteriores do dia (desde Os eventos mais importantes), em que se possam aplicar os princípios evidenciados, principalmente no que respeita à exemplificação das falsas expectativas que se criam a partir de intenções espúrias, não condizentes com os procedimentos evangélicos propugnados pelo Senhor.

Muitos outros indícios do desbaratamento intelectual e moral a que procedi poderia mencionar, mas deixo como decorrência natural das conclusões dos leitores, se atentarem para o fato de que as ações devem estar fundamentadas em diretrizes da mais alta moralidade, independentemente dos princípios de seita ou de corporação que se aceitem como essenciais para a vida comunitária.

Fiquemos por aqui nas apreciações teóricas que me foram permitidas, pois o principal para mim era trazer o calor de significativa condição humana pervertida, apesar de tão próxima das diretrizes evangélicas, como se os maiores crimes se dessem justamente no campo de atuação que deveria ser o mais sublime. Fique esta meditação final para a reflexão dos companheiros encarnados.















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NORMAS PARA A EVANGELIZAÇÃO











Título pretensioso para umas poucas explicações apanhadas das anotações das aulas que recebemos. Mas não importa. Se forem bem recebidas, conseguiremos o objetivo maior de dar prosseguimento a estas manifestações.

À primeira falha de conduta, deveria corresponder um primeiro grito de advertência consciencial. Seria claro indício de que a pessoa estaria preparada para a recepção das emendas.

Na verdade, seria alguém capaz de dizer, em sã consciência, que não foi exatamente assim que sucedeu, pois nós nos acostumamos a sufocar as revoltas conscienciais, para diminuir a importância dos atos falhos, aqueles que dão condições a que as mentiras ou inverdades se estabeleçam, orientando o procedimento pelo maior ou menor sucesso que se obtém junto aos companheiros, onde quer que estejamos.

Também não estamos propugnando que todos os artifícios de procedimento sejam condicionados a rígidas normas de segurança consciencial, o que seria o mesmo que dizer que estamos perenemente sustentado-nos sobre cordas bambas, correndo o risco de despencarmos, definitivamente, nas agruras da infelicidade mais pungente. Mas também é utilíssimo vasculhar as origens dos atos, para avaliar se, no fundo de cada um, não está a mania de prevalecimento sobre os demais, a fim de se tirar proveito de alguma espécie, desde as negociações humanas mais pueris ou ingênuas.

Vejam que estamos remetendo os pensamentos para todas as áreas do comportamento social, mesmo no que diz respeito a simples compras ou prestação de serviços profissionais. Se o lucro material estiver dando amparo a todas as atitudes, se não se registrar boa vontade em se destinar as ações à satisfação dos desejos socialmente aceitos como consentâneos com as necessidades individuais, aí é justo ouvir os reclamos da consciência, que deverá apontar para o erro e também fornecer os ingredientes com que se elaborar a correção mais adequada, não só dos resultados perniciosos do que viermos a concretizar, como ainda dos elementos que se firmaram dentro da mente para o desencadear subseqüente das mesmas reações, caso surjam, de novo, condições arcabouçadas pelos mesmos fatores.

Desalojemos os princípios em discordância com os ensinos evangélicos, envidando esforços para substituí-los inteligentemente, pelas ações combinadas a partir das bases essenciais da pregação cristã: o amor a Deus e ao próximo com a vontade íntima de crescimento espiritual.

Como sempre, a promessa é bem específica, mas a construção da mensagem revela o quanto se têm repetido as lições do Mestre. Nada há de novo debaixo do Sol, conforme o dizer de Salomão.















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NIHIL NOVI SUB SOLE











Vamos aproveitando a deixa do irmão que nos precedeu, para determinar o tema da peroração.

Estamos por demais satisfeitos pela convocação procedida pelos mestres da Escolinha, que nos dão a oportunidade suprema de virmos perante os amigos encarnados trazer-lhes a nossa mensagem de muito amor e carinho, o nosso abraço amigo, a nossa manifestação de irrestrita solidariedade.

Tivemos de conter o entusiasmo pela iniciativa, pois não sabíamos a que tema dedicar a pregação, já que não estamos acostumados com digressões de caráter filosófico.

Naturalmente, estando inscrito junto a esta turma de intelectuais, vimo-nos na necessidade de desempenhar a contento, para não deixarmos os companheiros frustrados ou os leitores desiludidos. E aqui estamos, repetindo os temas mais fúteis de quantos irmãozinhos se atrevem a definir normas de procedimento moral, para os que ficaram entretidos com os liames corpóreos, como se, de repente, a só condição espiritual fosse capaz de aclarar as mentes e fornecer toda a sapiência que se concentrou nos limites da capacidade daqueles que tiveram, na Terra, as oportunidades mais sadias de aperfeiçoamento intelectual e sentimental.

Assim como os demais amigos que se aprestam para expor os temas da verdade cristã, nós também desejamos enfatizar que o alvo de todos nós é conseguir a simplicidade dos bons e dos justos, não necessariamente através de elucubrações cientificamente dispostas, mas por meio da compreensão das fragilidades naturais das criaturas não evoluídas. Para pessoas que não se habituaram com os arrevesados raciocínios dos filósofos e pensadores, restam as pregações cordatas dos que entenderam a lei do perdão como sendo a mais augusta manifestação da misericórdia e da bondade divinas.

Está claro que os homens costumam complicar todos os conceitos, fazendo o maior esforço para que as pessoas se enleiem nos tópicos psíquicos da dúvida. Mas quem tem simples a convicção de que a verdade é una e de que Deus é o criador de todas as coisas, irá satisfazer-se com as conseqüências das ações que têm por fundamento o desejo de servir com amor.

Se existem complicações a incidir sobre as personalidades dos assistidos, a estimular-nos os estudos das características daqueles que devem ser o principal alvo dos trabalhos socorristas, também é certo que não deveremos preocupar-nos com os resultados, se agirmos com serenidade, com honestidade e em harmonia espiritual com os dispositivos evangélicos.

Realmente, camaradas, nada há de novo debaixo do Sol.















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COMENTÁRIO GERAL











Até agora não interferiu o instrutor Amaral, para as explicações a respeito das ponderações que deverão estar sendo suscitadas pelas estranhíssimas manifestações de determinados amigos de grupo. Fazemo-lo nós, na expectativa de que saberemos interpretar com segurança os anseios dos leitores, ainda não afeitos a este tipo de comunicados espirituais.

Evidentemente, acompanhamos as diferentes reações de diversos encarnados quando diante de textos apanhados mediunicamente, para conhecer as principais emoções que provocam.

A primeira e mais surpreendente, por incrível possa parecer, é a da desconfiança de que estão, de alguma forma, diante de mistificação, mesmo que não queiram atribuí-la ao médium. Assim, há quem duvide que tal poesia é daquele mesmo ser que apôs a assinatura, bem como o quadro ou o tema musical jamais se poderiam enquadrar na obra dos que se manifestaram como autores.

Estamos estendendo um pouco este tópico, pois, de alguma maneira, estamos envolvidos em diversos aspectos dessa posição alienada da verdade mediúnica, pois quem assim age não compreende exatamente sob que mecanismos se dão as transmissões, pretendendo que tudo se faça de forma o mais mecânica possível, como se até o próprio espírito não estivesse sujeito às leis universais, entre as quais se deseja que esteja a da evolução, sob o prisma dos bens evangélicos, o que inclui a assimilação das virtudes da humildade e da inocência, adquiridas após as correções dos defeitos que necessariamente lhes fundamentavam a alma, durante o encarne em que se lhes fixaram as características conhecidas.

Por outro lado, não satisfeitos em não acatar completamente as informações da origem das manifestações, também se põem a duvidar das verdades do conteúdo, como se todas as pessoas tivessem por obrigação rezar pela mesma cartilha. Claro está que, se existe uma codificação dos valores espirituais patrocinada pelos espíritos mais evoluídos do sistema planetário, tais elementos deverão constar da base das comunicações, com a força da respeitabilidade a lhes dar amparo e sustentação argumentativa. Mas havemos de compreender que muitas vezes até o mestre Kardec fez questão de registrar o fato de que o Espiritismo acompanharia os progressos científicos da Humanidade, de sorte que não estacionaria jamais naqueles princípios que se estabeleceram, para que os humanos pudessem começar a perlustrar as verdadeiras plagas em que emergiriam após o desenlace da vida.

Dessa forma, muitos irmãos se colocam em feroz defensiva, intransigentemente querendo ver desfilar perante os olhos os mesmos dizeres que se encontram transcritos nas obras kardequianas. Desse modo, limitam substancialmente a potencialidade dos que evoluíram e conseguiram desenvolver um pouco melhor os temas da primeira hora.

Se viermos trazer novidades nos dizeres, certamente seremos escorraçados da prateleira, por equivocados ou por falsos, sempre com o estigma de que proviemos das profundezas do báratro, com a atroz intenção de desencaminhar os inocentes, que lutam por se manter íntegros para a apresentação perante o Cristo, já que não admitem outra luz para seu espírito.

A estes todos que não se incentivam para a aceitação das teses provindas diretamente das salas de estudo dos temas da espiritualidade e que se insinuam timidamente nas mensagens dos irmãos desejosos de verem modificadas as ações no campo da moralidade redentora, é que estamos endereçando a comunicação, muito a medo de sermos colocados definitivamente de lado, como se nenhuma de nossas conceituações merecessem sequer a atenção de furtivo olhar.

O que nos traz temerosos, deveras, é o fato de que os irmãos deverão passar por momentos de realização escolar semelhantes a estes, sem se darem qualquer ocasião para meditações elucidativas do caráter de obrigatoriedade que têm, para que se desenvolvam os atributos espirituais necessários para o progresso.

Fiquemos por aqui nestes comentários, para que o puxão de orelhas do orientador não nos faça voltar, para as devidas desculpas àqueles que nos têm seguido, acatando os conceitos e fazendo por assimilá-los, para posterior aplicação, no campo do apostolado doutrinal.















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PALAVRAS DE INCENTIVO











Diante da dura pregação anterior, não estamos à vontade para trazer comunicado de fé e de esperança em que os amigos leitores venham a realizar os melhores esforços para a compreensão dos temas da espiritualidade que podem ser desenvolvidos desde já, enquanto se permanece na carne, sob a forte influenciação dos desejos e das necessidades pessoais.

Sabemos distinguir os fatos e conceber a situação em que se encontram os que estão recebendo a oportunidade de ter estes dados sob os olhos, de forma que devemos tudo fazer para mantê-los atentos para os programas das ações beneméritas que se constituirão na base moral sobre que se erigirá o edifício do progresso.

Neste campo, estão bem melhor situados os que tiveram oportunidade de crescer em dolorosas experiências, pois são os que têm a noção mais clara da fugacidade do tempo e das transformações que se operam nas circunstâncias, de modo que o que hoje parece penoso e insatisfatório, um dia, virá a ser suportável e sereno, verdadeiro motivo para alegrias e felicidades.

Tudo advém do grau de responsabilidade com que se encaram os eventos e da confiança que se deposita nas mãos do Pai, pois é preciso que nos asseguremos da fé em que Deus é realmente pai de misericórdia, criador supremo do universo, tudo tendo realizado com a dignidade do mais puro sentimento amoroso.

De propósito, desenvolvemos conceitos sob a perspectiva dos encarnados, que são useiros e vezeiros em atribuir ao Senhor as características que gostariam de ver como apanágios das próprias criaturas, a refletirem certos atributos da perfeição divina. Por que o fizemos? Evidentemente para ressaltar a maleabilidade dos pensamentos que se concretizam na linguagem, remetendo ao leitor a idéia de que devemos contornar a expressividade dos termos, para entendimento mais real dos conceitos, em esforço antecipado para disciplinar as reações energéticas com base nos fluidos que consubstanciam a essência espiritual, desvinculando do processo degenerativo das emoções simplesmente derivadas das sensações carnais.

Se estamos propondo exercício de superior dificuldade, é porque acreditamos que existem amigos capazes de ponderações agudas e mais perfeitas, a ponto de conceberem o mundo do pensamento como algo factível de existir, sob a emulação dos espíritos mais evoluídos. Se tais informações lhes parecerem por demais avançadas, pensem em termos de computação e adquiram a consciência de que seja capaz o homem de armazenar a sabedoria, implementando instrumental adequado para a recepção das memórias, segundo padrões tecnologicamente fundamentados em sistemas, sob o ponto de vista do rigor científico, cada vez mais perfeitos.

Eis até onde fomos para trazer de volta a idéia da simplicidade do incentivo que devemos dar aos companheiros, que são capazes de acompanhar os desenvolvimentos de tantos apetrechos técnicos e científicos, embatucando, às vezes, em conceituações que envolvem decisões de caráter moral, porque não oferecem graus de complexidade de nível superior, embora saibam os que se especializaram nas disciplinas da conduta que a mente humana é intrincada e que as reações merecem ser analisadas com o mesmo rigor com que se aplicam os cientistas da matéria no aperfeiçoamento das teorias.

Se adentrarmos o campo da filosofia, iremos, naturalmente, exaltar o espírito humano, dando-lhe notas altíssimas para as concepções que resultaram em visões profundas do Universo.

Então, não estão sentindo-se bastante equipados para o entendimento das diretrizes evangélicas, a partir dos ensinamentos de Jesus?















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DESEQUILÍBRIO FUNDAMENTAL











Se não fosse pretensão, diria que todas as dissertações de hoje (desde Normas para a evangelização) foram escritas a partir de minhas dolorosas experiências carnais, para me darem conforto e consolação.

Tal como os amigos que me antecederam nos relatos pessoais, também estive sob intensa dominação dos pensamentos religiosos e, da mesma forma, pretendi fazer-me santo em vida. Os burros se me deram n água igualmente.

Mas não fui tão puro, tanto que terminei enfrentando problemas conscienciais de natureza bem mais filosófica, pois, para encontrar o caminho da evangelização, segundo os padrões cristãos, precisei mergulhar fundo nas concepções estranhas a que dei curso, como se fosse capaz de estabelecer cartilha de realizações absolutamente próprias, impossíveis de se irmanarem com as elucidações do Mestre.

Não criticava abertamente as exposições contidas nos Evangelhos, mas duvidava das assertivas de que pudesse haver algum espírito com poderes para derrogar certas leis físicas, tornando-me injusto para com as intenções dos evangelistas, que pretendiam, sinceramente, salvar as almas dos mortais, conforme o que tinham ouvido diretamente do Mestre ou dos apóstolos.

Achava tudo plano demais, porque entendia que os bens da humanidade deveriam conter-se nas intenções e não nas ações. Desse modo, desconsiderava o que se fizesse, buscando compreender as razões subjetivas que tinham determinado todos os atos. Quase sempre chegava a resultados muito próximos do descrédito dos bons propósitos, avaliando as intenções como malignas ou bem perto disso.

Em suma, eu, que deveria espalhar a crença, a fé, a esperança, a boa vontade, a comiseração, o perdão e a compreensão das humanas falhas, estendendo manto protetor para agasalhar a quantos sofredores compareciam perante mim, simplesmente considerava o envolvimento dos pecadores nas malhas das perversidades e dos vícios, julgando-os inteiramente responsáveis pelas dores que os angustiavam, não intercedendo jamais pela cura dos males morais e espirituais de que davam mostras. Errava redondamente querendo sustentar a justiça de Deus como irrepreensível, tornando-me eqüidistante dos bons e dos maus, como se fora eu mesmo o Pai Eterno, a distribuir os bens, segundo os méritos de cada qual, conforme os padrões que estabelecera.

Com tais idéias, quis aportar nestes mares da espiritualidade, mas me vi perdido na imensidão dos oceanos das dúvidas, das incertezas, diante das tempestades das teorias e do relampejar das verdades, que revoluteavam dentro da consciência. Corria o risco de ver o barco naufragar de vez, nas túrbidas águas das lucubrações.

Eis-me agora tentando entender por que a água potável é transparente, inodora e insossa. Nada mais que isso.















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ATROPELOS E INDEFINIÇÕES











A leitura destes textos deve levar a considerações diversificadas a respeito do que o grupo possa entender por atropelos e indefinições.

Assim, podem existir os que julgam que iremos desenvolver as razões que levam os espíritos a se macularem através de ações impuras, tudo realizando em função de perversos pensamentos, como se se vissem obrigados às perseguições de outros sofredores, por motivos os mais díspares.

Haverá quem possa pensar que as indefinições se dêem no justo momento de se libertarem as entidades das influenciações que as trazem manietadas, forçando que as tendências se cristalizem, a ponto de preferirem continuar seguindo os desmandos dos maus, a se aventurarem junto aos bons, na expectativa de que possam vir a ser prejudicados, se não desempenharem a contento as ações que lhes serão atribuídas, no campo dos trabalhos socorristas.

Mas nós estamos mais interessados em evitar as precipitações dos encarnados, pois os atropelos, em nome de civilização que não tem tempo, são a maior desculpa para que tudo o que se faça venha com o sinete da pressa, como se viver fosse algo que tivesse hora marcada: agora é preciso viver; agora é hora de correr atrás dos eventos que nos estabilizarão a vida. Dessa forma, jamais iremos ter momentos de profunda reflexão, pois até os horários de descanso estão cheios de programações de lazer, cujo resultado irá propiciar melhores condições para o desempenho da profissão, e nunca o círculo deixa de volutear em espirais que desaparecem no infinito.

Bem pensando, as indefinições estão muito presas aos atropelos, pois, se o homem não se dá ao trabalho da reflexão, como irá adquirir condições de se definir evangelicamente, conforme o propugnar cristão? E assim a vida se esvai em intermináveis querelas retóricas, sem que as pessoas, deveras, se coloquem positivamente perante o carma, na tentativa de elucidar os principais pontos da doutrina espírita, que lhes servirão de base para o enfrentamento dos deveres existenciais.

Querem saber quais foram os nossos problemas na Terra? Se tiverem o desprazer de reler o texto, poderão verificar que estamos atropelando o tema, tornando indefinidas as conclusões, exatamente de acordo com as raspanças que estamos passando nos desleixados. A diferença que vemos é que temos tido condições de meditar a respeito, sob o prima das lições evangélicas, o que tememos não esteja ocorrendo com a maioria dos leitores em mesmas condições. Que valha o alerta!















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O SENTIDO DA POESIA ESPÍRITA











Melhor que nós, poderia explanar sobre o tema, do ponto de vista literário, o mediador. Mas, como nos interessa o relacionamento da linguagem poética com os sentimentos puramente espirituais, vamos atrever-nos a discorrer a respeito.

Evidentemente, supomos que os amigos tenham noções de que a poesia a que nos referimos seja a transmitida por via mediúnica aos mortais, pois a que apreciamos, nestas esferas, se diluem pela temática mais diversificada, dado que existem criaturas inspiradas em todos os círculos, até mesmo nas zonas umbráticas mais tristes.

As poesias que passamos aos encarnados trazem a necessidade do despertar para a doutrina espírita, de modo que se tornam expressivamente didáticas, mesmo quando derramam sentimentos pessoais contundentes, dado que os sofrimentos se fazem presentes, pelo menos na memória dos acontecimentos recentemente curtidos em condições de inferioridade moral, junto aos impenitentes e impiedosos.

Entretanto, havemos de considerar que os humanos precisam de nomes para se justificarem perante o destino, pois joões-ninguém não soem estimular desprendimentos de caráter moral, tornando-se, ao contrário, símbolos do despreparo, quer das péssimas condições terrenas que revelam na temática desenvolvida, quer da pouca capacitação na utilização dos metros e das rimas. Assim, conteúdo e forma vão servir de motejos, para os que não querem ver o próprio caminho, nas desventuras dos poetas.

Graças a Deus, temos tido a felicidade de encontrar amigos corajosos, que enfrentam a descrença e a insipidez dos mortais, e lançam algumas composições através de médiuns pouco conhecidos, até mesmo no intuito de estimulá-los a prosseguirem prestando serviço ao etéreo.

Quando se trata de ler O Parnaso d Além Túmulo, a grandiosa obra transmitida pelos poetas mais importantes à pena operosa de nosso caríssimo Francisco Cândido Xavier, as pessoas se ressentem da pequenez de sua cultura, para refugarem a leitura, ou se vangloriam da grandiosidade de sua percepção crítica, para malharem os versos como indignos dos nomes que os assinam. E, assim, o grande trabalho dos mestres vai ficando nas prateleiras, de onde só saem, quando alguns bons seareiros do Espiritismo desejam assenhorear-se dos temas mais comuns, para a confirmação de postura ideológica, sem, contudo, avançar no desfrute estético da obra.

Muitos se limitam a deixar cair o queixo diante da facilidade das trovas, mas não se preocupam em avaliar tecnicamente as composições, o que lhes daria o sentido mais íntimo do versejar, em condições espirituais.

Mas existem os que se empolgam e se embalam nas delícias artísticas e emotivas, favorecendo que a alma se envolva nos problemas e nas soluções dos carmas definidos.

Vemos que nossa postura se deslocou acremente para condição pessimista. A verdade, porém, é que não só a poesia não tem merecido leituras aprofundadas, mas todas as manifestações provindas do etéreo, como se a mediunidade servisse apenas para as comunicações elementares entre familiares, para a comprovação das condições de estabilidade dos que partiram, para sossego e apaziguamento dos que ficaram. Isto é importantíssimo, mas quem se limitar a ficar nessa casquinha superficial, jamais irá perceber o que existe de mais filosófico nas demonstrações de inteligência que se encontram nas mensagens doutrinárias; nem o que há de mais fortemente impregnado de sentimento, nas poesias.

Em suma, para não desagradar quem nos acompanha, sugerimos que estas palavras venham a receber tratamento melódico, para que se possam fixar as diretrizes sentimentais que eventualmente transpareçam nas frias dissertações. Será isso possível, à luz de nossas próprias afirmações?















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COLABORANDO COM O MÉDIUM











Se estivermos trazendo muitas informações para um único dia de trabalho, já que definimos o número de cinco para as mensagens de cada jornada, não teremos dúvida em diminuir o volume, para que o mediador não se sinta fortemente pressionado.

Se é bem verdade que todos os amigos de que dispomos para o atendimento mediúnico estão trabalhando com amor e dedicação, também não deixa de ser verdadeiro que existe certa pressão a torná-los ansiosos para constatarem que os textos que vão apanhando são merecedores de respeito e, portanto, dignos do favorecimento de suas inteligências.

Dessa forma, não fica ninguém sem um pouquinho de angústia, perante a execução das tarefas que se instituíram como sagradas, pois, obrigatórias para os aluninhos, não deixam de ser fundamentais para o desenvolvimento mediúnico dos humanos, os quais não podem perder as oportunidades que se lhes são dadas, dispostos que estão a colaborar com o plano da espiritualidade, conforme compromissos assumidos diante da comunidade de que participam, os quais, quase sempre obscuros, se deixam evidenciar pelas realizações em si.

Por isso é que nunca deixamos de trazer à baila o tema da própria mediunidade, dando aos mediadores condições de avaliação dos trabalhos que vêm desempenhando, para poderem aquilatar do quanto estão progredindo a cada nova fornada de comunicadores.

Eis que a colaboração que podemos proporcionar aos amigos muitas vezes não vai além dessas mesmas informações, dado que o teor das comunicações falece de profundidade doutrinária, repetindo-se, interminavelmente, as mesmas diretrizes básicas iniciais da codificação e as recomendações evangélicas que se fazem presentes constantemente no pensamento de quantos vão dando à consciência condições de manifestação. São palavras por demais simples, mas que envolvem conceitos mui difíceis de assimilar, no sentido de serem colocados em prática naturalmente, como se as almas estivessem impregnadas da verdade deles, tornando-os inerentes à contextura delas.

Outra maneira de facilitar o entendimento entre os planos é demonstrar que o mediador tem condições de apanhar os dizeres mais difíceis, aqueles que quedam adormecidos no que se resolveu denominar de acervo inativado de conhecimentos, que só dão mostra de existência quando explorados nos textos.

Para o nosso médium, a nossa colaboração vai no sentido desta matéria, pois sabe ele exatamente quais os limites que serão definidos, especialmente porque os grupos estabelecem roteiros que cumprem à risca. Dessa forma, fica fácil apanhar os ditados, pois o hábito, aqui, faz o monge e o uso do cachimbo, a boca torta.

Entenderam por que estamos insistindo na citação dos anexins? Pois é para dar seqüência lógica aos pensamentos, configurando ao irmão o que decidimos que seria o término do parágrafo. Aliás, neste último, resolvemos imprimir ao cérebro do amigo as palavras, uma a uma, dando-lhe noção bastante diferente do que vínhamos desenvolvendo.

Tendo verificado a sua potencialidade de fixar as idéias em terminologia adequada, fica bem tranqüilo o escrevente, cumprindo nós o objetivo de auxiliá-lo decisivamente na compreensão dos méritos do seu próprio aparato intelecto-afetivo.

Precisaremos dizer que este texto também apresenta a finalidade de cooperar com todos os médiuns, no sentido de propiciar-lhes meios de avaliação de seus recursos e da aplicação deles?















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COLABORANDO COM OS ESPÍRITOS











Qualquer leitor acostumado aos temas da espiritualidade iria suspeitar de que a seqüência dos textos incluiria, obrigatoriamente, a apreciação dos atributos da bondade, da comiseração, do desprendimento, da caridade, do amor, da fé, da esperança, da boa vontade, do espírito de sacrifício e demais virtudes de que se apaniguam os mediadores, para poderem prosseguir, destemida e eficazmente, emprestando colaboração, no sentido de facultar aos amigos do etéreo que entrem em contacto com os encarnados, para as finalidades beneméritas que os organizadores administrativos do sistema planetário admitem que se concretizem, para facilitar-se o reingresso dos humanos nos caminhos das conquistas espirituais.

Certamente, o ponto de vista mais comum de que existem fortes vínculos entre as entidades não prevalecerá para todos os casos de intermediação entre os planos. Está claro que muitos médiuns se desenvolvem em função de determinados orientadores espirituais, pela maior facilidade que encontram de ajuste das freqüências das ondas energéticas, tendo em vista a proximidade de desenvolvimento moral, intelectual e emotivo entre os companheiros.

Entretanto, quando o médium se dispõe, honesta e lealmente, ao aperfeiçoamento das técnicas de recepção mediúnica, abrindo a mente para todas as influenciações, irá ver-se protegido pelos guias, os quais impedem que haja manipulação mental da parte de espíritos menos evoluídos, mais imperfeitos e, portanto, desejosos de usurpação dos direitos que se estendem para toda a espiritualidade.

Se o oferecimento for diuturno e se se destina a certos grupos como o nosso, as providências de sustentação do amigo são bastante amplas, para que não se disvirtue o trabalho e se perca o colaborador. Por outro lado, aos que tão decididamente se põem à disposição da espiritualidade, são propiciadas condições superiores de trabalho, de sorte que há grande variedade de aparelhagens e de recursos metapsíquicos, para se evitarem desencontros desagradáveis. Dessa forma, poucas serão as sessões que se perderão por injunções aleatórias, já que se definem com precisão os mensageiros de cada hora, bem como a natureza das apreciações que serão transmitidas.

Eis em que resultam todas as qualidades a que nos referimos de início, pois todo trabalhador de campo que se dedique à mediunidade será tido na qualidade de amigo dos espíritos e benfeitor da humanidade.

Não está interessante este texto, no sentido de motivar a vontade das pessoas, para que se ofereçam ao serviço mediúnico? Pois, então?!...















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FRUSTRAÇÃO DE MÉDIUM











Estava querendo ver em que dariam as coisas que se explicaram nesta tarde, para sentir, com propriedade, o valor do depoimento que me coube. Foi com agradável surpresa que presenciei os companheiros irem avaliando a importância do fenômeno mediúnico e dos médiuns, em função das lições evangélicas de que necessitam os encarnados e às quais não podem fugir todos aqueles que avançaram no conhecimento doutrinário do Espiritismo.

Em minha derradeira exposição aos fluidos materiais — colocação que sinto inédita, mesmo nos meios espíritas —, perdi excelente oportunidade de progresso nesse campo maravilhoso do contacto entre os planos.

Se me tivesse deixado levar pelas intuições, teria desenvolvido amplamente a capacidade de mediar as comunicações, pois recebera dos companheiros da comunidade familiar a incumbência de me tornar o auxiliar humano dos trabalhos de evangelização e de orientação dos familiares e outros parceiros de existência, conforme a pregação que os maiores executariam por meu intermédio.

Mas não me contentei em ficar apanhando ditadinhos, os quais considerava muito simples, porque se dirigiam a determinadas pessoas, rogando-lhes que adotassem sistemas de vida mais coerentes com a palavra do Cristo—Jesus. Eu queria oferecer ao plano da espiritualidade superior um veículo carnal de possibilidades infinitas, tanto que, aos poucos, fui pondo de lado a contribuição espontânea dos protetores, para ficar no aguardo das diretrizes emanadas diretamente das entidades de luz, as quais deveriam estabelecer os planos da regeneração universal.

Contrastantemente, passei a servir os poderes da malignidade, dando vazão, em terreiro de candomblé, às piores mensagens daqueles seres mesquinhos, cujo intento maior era possibilitar o curso das vinganças, do ódio, da má fé, do desamor e de todas as estranhas deliberações que se tomam com o intuito de prejudicar os seres humanos.

Qual a desculpa que utilizava para tão estranha atitude, justamente quando tinha a intenção de estar a serviço das forças mais poderosas do Universo?

Simplesmente, achava que médium que prestasse deveria tão-só exercer os misteres para que se destinara, por força do desenvolvimento das qualidades dos mediadores. Fazia por desconhecer os pruridos conscienciais, que me apontavam o campo do amor e os caminhos do bem, dando trela a algumas sugestões, que deixava passar como provindas de minha completa dominação intelectual dos meios de que dispunha para a mediunização.

As faculdades, que manipulava com facilidade, exerciam-se, muitas vezes, independentemente da vontade, justamente quando me fazia dominar por sentimentos diretamente contaminados por superior orgulho e profundo egoísmo. E eu — incrível! — não percebia que estava nas mãos dos obsessores, que, terríveis, matreiros, sutis, vinham para transtornar os conceitos doutrinários, jogando na lata de lixo das desconsiderações todos os argumentos que sorvera nas aulas primitivas do aprendizado mediúnico.

Não será preciso dizer que, na condição de indigno sacerdote da religião do amor espiritual, espreitei o momento do desencarne para suplicar que os serviços se contassem como superiores, dado que havia conseguido possibilitar ao plano da espiritualidade milhares de comunicações. Como não houvesse recebido, evidentemente, as comunicações de caráter superior, sofria com a íntima revolta por ter sido relegado à ínfima condição de servidor de espíritos malévolos. Por outro lado, como orava fervorosamente para que a humanidade se redimisse, julgando possuir livre trânsito entre os espíritos mais evoluídos, queria impor-me às forças que me recebiam, como vigoroso cultivador da seara evangélica, pronto para ser alçado a esferas mais elevadas, onde o nível da angelitude se compararia ao dos obreiros mais destacados do Espiritismo.

Queria bater um papinho com Bezerra, trocar impressões com Emmanuel, folgar com o Irmão X e definir estratégias de salvação com o próprio Mestre Jesus, relegando Kardec a novas iniciativas de sistematização, como se o emérito codificador fosse figura sem importância, para as graves conjunturas administrativas de que eu seria mentor. Acabei cara a cara com descomunal negro dementado, que desejava exterminar com a minha raça, tanto lhe havia azucrinado a paciência com os pedidos de sustação dos efeitos fluídicos dos protetores, para que o desígnio dos maldosos pudesse correr sem empecilhos.

Eis no que deu a minha desenvoltura mediúnica. Que, pelo menos, sirva de exemplo do que se deve evitar a todo custo.















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O PODER PELA PALAVRA











Não poderíamos deixar de apresentar comentário a respeito do poder de influenciação que se consegue exercer através da utilização da palavra. Está claro que não temos total conhecimento do tema ou faríamos dissertações e mensagens seguras da receptividade dos amigos, o que até prescreveria como norma de exemplificação a nossa desenvoltura lingüística. Mas tal apanágio não irá coroar esta pobre obra mui pretensiosa, que almeja dar roteiros seguros para o pensamento doutrinal dos que estão equipados para perlustrar a filosofia espírita.

Pois bem, embora não possuamos o dom do discurso absoluto, vamos tentar resumir o que consideramos de mais importante no campo do exercício da retórica, com a finalidade do prevalecimento sobre a idéia dos que se deixam conduzir docemente, ou se fazem de entendidos, para burlarem, às escondidas, o com que, às claras, afirmaram concordar.

Eis que demos algumas diretrizes do pensamento de quem recepciona os discursantes, de forma a desacreditar, de imediato, que haja total assimilação dos dizeres que se desejam impor, por força do maior traquejo que se tenha no emprego do instrumental idiomático, em função da coerência adquirida no campo do pensamento lógico, para o envolvimento pelas razões sacadas dos ouvintes ou leitores.

Apesar das disposições de má receptividade, encontram eco no espírito alheio certas afirmações decalcadas em verdades parcialmente consideradas pela maioria como fundamentais para a manutenção da estabilidade social que se admite como ideal, para que as pessoas, em sua individualidade, possam transitar livremente por entre a multidão. Assim, o respeito aos demais se reflete na opinião de que todos devam ter direitos iguais perante a lei, não importando, muitas vezes, considerar que a lei seja restritiva e que o status quo deva preservar-se.

Deverá, então, o discurso respeitar a opinião alheia como importante para a fecundação dos espíritos, o que enseja aos oradores e escritores a possibilidade de se afinarem com as diretrizes mais comuns, para se insinuarem, por meio de palavras que carreguem nos compromissos de sustentação dos efetivos raciocínios e estruturas mentais, sobre que se erigiram os conceitos predominantes.

Apenas para exemplificar, não é verdade que a primeira coisa que se faz ao se adentrar algum país estrangeiro é avaliarem-se quais os usos e costumes, para que não se cometam gafes ou impropriedades de palavras ou de gestos, que redundariam em agressões, involuntárias, embora?

No que concerne aos ditames do Espiritismo, sucede exatamente a mesma coisa, de forma que os textos ou as exortações orais vêm eivadas de expressões correntes entre os que freqüentam os centros, para que se assegurem as pessoas de que o espírito vem de Deus, conforme a orientação do Senhor.

Por isso, muitas pessoas não se deixam envolver por mensagens que, de alguma forma, ferem tais princípios silogísticos, não permitindo que haja manifestações diferenciadas, por temerem não poder exercer domínio absoluto sobre os dizeres. Muito poderá quedar, então, sob suspeita, até que outros irmãos se transformem em arautos das transformações, quer no plano espiritual, através de mensagens concordantes, quer entre os encarnados, quando os comentaristas e os exegetas principiam a aceitar as novas teses, buscando interpretá-las aos que têm por hábito reagir mais arraigadamente pelas formas acima apontadas.

Caso os amigos vejam nestes textos muitos dos artifícios que estamos a denunciar, acusem-nos, por favor, para que possamos tornar a comunicação o mais isenta possível dos recursos simplesmente retóricos e para transformá-las em pura luz evangélica.















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ACEITAÇÃO PARCIAL











Tem o irmão escrevente o hábito de solicitar-nos comentários a respeito de intuições que lhe chegam, como se fossem totalmente extraídas das profundezas das meditações conscienciais. Sabe muito bem que temos a possibilidade de infiltrar-nos em sua intimidade, para depositar-lhe no cérebro as sementinhas que pretendemos ver desenvolverem-se e frutificarem. Mas, muitas vezes, temeroso de estar impedindo que o tempo da germinação se complete, não nos dirige as interrogações, porque não sabe, exatamente, se se trata de pensamentos próprios ou daquelas inspirações que lhe demos.

Uma dessas idéias, por exemplo, diz respeito ao tema da aceitação parcial, emblemática, simbólica até, de conceitos que lhe transmitimos nestas tardes de psicografia, momento em que se alheia do discurso, para apanhados cada vez mais precisos das teses, sem que possa manifestar-se a respeito, pois lhe impedimos qualquer contribuição. Temos, então, um ouvinte de luxo, que não pode apreciar devidamente as lições, embora receba, em primeira mão, todos os informes.

A predisposição ao recebimento dos textos, sem preocupação com as estruturas conceituais ou doutrinais, torna-se empecilho para a compreensão integral e imediata dos dizeres, de forma que o pobre escriturário se vê às voltas com problemas de caráter moral superior, sem que saiba direito como solucionar, se algo não lhe parecer absolutamente justo ou consentâneo com aquelas idéias que mantém como prioritárias, para a fixação das diretrizes evangélicas.

Este mesmo texto corre à revelia, em cruel desafio à sua argúcia, pois, ao mesmo tempo que despejamos as frases, vamos procurando contextos em que se devem aplicar os conceitos, de forma que o pobre fica alienado, quase completamente, dos termos que vai datilografando. Correm-lhe céleres os dedos sobre as teclas, o que resulta em apanhado extremamente rápido, sem tempo para reflexões em relação ao conjunto. Ficam-lhe as impressões de que os termos se ajustam, pois substantivos e verbos, principalmente, se combinam para os efeitos fraseológicos, ao mesmo tempo que os adjetivos vão constituindo-se em agradáveis surpresas, dado que os atributos que desejamos impor ao principal nem sempre estão sob aquele domínio aludido.

Eis que, portanto, no momento da escritura, se dá apenas parcialmente a aceitação das mensagens, resguardando, contudo, o mediador o direito de revisão, com ajuda espiritual, o que se dá no dia seguinte, de forma a configurar que tudo esteja devidamente registrado, de acordo com os roteiros combinados e segundo a experiência que vai adquirindo, pela leitura diuturna a que se obriga de textos tomados e divulgados por outros médiuns, especialmente os consagrados.

Por outro lado, o mesmo efeito ocorre freqüentemente com os leitores, que não se acostumam com a idéia de que os roteiros mediúnicos se deixam fundamentar nas excelsitudes evangélicas, buscando colocar sob reserva os tópicos que contenham os pensamentos mais sutis ou, na opinião daqueles irmãos, mais perigosos. Assim, muitos só admitem aceitar parcialmente os dizeres que têm debaixo da vista, o que reputaríamos como atitude saudabilíssima, não fora o caso de que o que fica de lado jamais será devidamente argüido, à luz das considerações obtidas por outras fontes.

Não estamos fazendo referência só a textos deste teor, em que o roteiro se faz em torno de princípios de difícil acatamento, qual seja o da cutilada no baixo ventre das concepções irremovíveis, mas também quando se trata de simples romances, em que, ao derredor de singela ou trágica história de amor, se evocam pensamentos filosóficos, profundamente pesquisados no plano das realidades espirituais, mas dificilmente comprováveis no campo denso da matéria, para usar expressão corrente no jargão a que fizemos referência no texto anterior.

Utilizando-nos de expressão ultramoderna, diríamos que se costuma zapar os trechos que suscitam desconfianças, para se agradar daqueles que reforçam os antigos posicionamentos, como que para se ter a certeza dos benefícios que se conseguirão, ao retorno do atual peregrinar sobre a crosta.

Não se desagradem, por favor, dos trechos em que suas teses se confrontem com as nossas, mas coloquem-se de sobreaviso para a rejeição crítica, caso em que os beneficiários seremos nós, ou para a aceitação completa, momento em que se poderá alcançar conhecimento até agora vedado para a visão distorcida que se mantinha, de acordo com os pruridos de sensibilidade acima comentados, referentes à obtusa condição do mediador.















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ROTEIROS REQUERIDOS











Vamos dar descanso ao médium, no sentido de não comentar qualquer das iniciativas psicográficas, pois o que iremos expor não lhe diz respeito, uma vez que, verdadeiramente, busca ele não cair na armadilha que iremos desmontar.

Alguns podem estar estranhando tanta consideração pelo companheiro encarnado, mas a verdade é que as orientações devem dar-lhe segurança no apanhado dos ditados, impedindo que se perca em ilusões prejudiciais ao bom andamento dos trabalhos. Serão entendidas estas precauções assim que se der por encerrada a presente leitura.

Vamos, então, dizer que muitos companheiros da seara espírita requerem roteiros específicos, sobre que devem discorrer os patronos das comunicações. Muitos pretendem que os protetores ou, como costumam chamar, os benfeitores espirituais só exerçam o direito de manifestarem-se, caso tragam discursos que se coadunem com seu estrito modo de pensar. Qualquer idéia dissonante colocam imediatamente na conta de interferências de obsessores, passando a temer o encontro com as entidades que consideram malignas, para o que deixam, muitas vezes, até de dar curso às legítimas expressões de carinho de quem os quer com elevado amor. São pessoas por demais dominadoras, que desejam, inclusive, manter ascendência sobre o plano da espiritualidade, como se todos os seres devessem pautar os procedimentos, segundo os preceitos que elas instituíram para si.

Evidentemente, não temos a obrigação de acatar semelhantes injunções, particularmente quando estamos vendo quais são as reais necessidades dos pupilos, freqüentemente outras bem diferentes daquelas que se constituíram em suas sugestões. São personalidades inseguras, apesar da pretensa fortaleza moral que desejam demonstrar.

Preferimos o contacto com pessoas mais maleáveis, mais benévolas, mais ativas espiritualmente, mesmo que não tenham interesses pronunciados em determinados temas a que dão vazão, pois se tornam retransmissoras mais fidedignas, mais conformes às considerações que deixam passar inconscientemente, reprimindo as intempestivas intervenções, que desvirtuariam as comunicações.

Ao paciente médium, demos-lhe lição à altura do texto que estamos ditando, pois o fizemos escrever alguns termos desconexos com o teor do texto, para demonstrar-lhe que o que estamos criticando nada tem de ver com o seu trabalho. Logo em seguida, demos-lhe conhecimento do que deveria apagar, para que pudesse perceber que estava proporcionando ao grupo e a este mensageiro, total possibilidade de manifestação. O mais será corrigido oportunamente, de sorte a facultar aos leitores comuns o ensejo de avaliarem somente a cópia final, expurgada dos defeitos que nos parecerem evidentes.

Não é verdade que será sempre muito melhor que os amigos deixem que os da espiritualidade digam tudo o que lhes der na veneta, exercendo o poder de correção logo após, sob as vistas e orientação dos mentores? Quem sabe não venham a estar aí algumas fórmulas inovadoras a que fizemos menção em O poder pela palavra?!...















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DEMARCANDO OS LIMITES











Para não parecermos libertários demais, a ponto de facultar aos piores elementos da espiritualidade o domínio das diligentes penas que dão colaboração para que os amigos do etéreo possam contribuir para o entendimento da vida e da existência, através de sábias e oportunas recomendações, vamos afirmar que devem ser estabelecidos limites rigorosos para as comunicações que se contratam.

Assim, os grupos que se apresentam devem, de início, indicar os pontos que desenvolverão, propondo os esquemas que darão firmeza ao mediador, para que possa assegurar-se de que esteja em boas mãos. Para isso, todos devem concordar em que os textos da codificação sejam conhecidos e propalados, sem o que a doutrina não se estabelecerá definitivamente.

A partir daí, os conceitos não podem incidir em contrariedades dos postulados ou premissas dos Evangelhos, aquelas leis essenciais que determinam as virtudes e os esquemas de assimilação delas, principalmente pelo amor que se dedica a Deus, soberano em sua justiça, e a todos os semelhantes, reconhecendo-se em Jesus o peregrino da luz e o náufrago da dor, pelo fato de se ter encarnado em missão de salvação da humanidade. Evidentemente, Kardec se posicionará a seguir, para as devidas complementações, tendo em vista as revelações patrocinadas pelo Espírito de Verdade, em conjugação com extraordinária plêiade de entidades vigorosamente dotadas de bom senso e de conhecimentos superiores.

Eis que revelamos alguns tópicos que justamente serão exigidos dos comunicadores, para que não se firam os amigos nos espinheiros das desilusões ou nos pedregulhos do egoísmo elevado à condição de supremacia, pela soberba que flui dos argumentos melífluos com que se costuma engodar os incautos.

Muita serenidade, paz de espírito, confiança no Senhor e nos protetores familiares, muita consideração a respeito das palavras que forem sendo apanhadas, mas nenhuma ingenuidade apostólica, para o que devemos consignar, em nossa agenda, as ações de benemerência como prioritárias, para a limpeza dos pruridos da superioridade, e os estudos, como imprescindíveis, para a configuração do quanto devemos avançar, para sermos só um pouquinho evoluídos. Se nos considerarmos bastante despreparados para o ingresso direto na angelitude, estaremos demonstrando a humildade necessária para a recepção de quaisquer comunicados, os quais respeitarão, sem dúvida, os roteiros que se tiverem estabelecido, mesmo que haja malícia e má fé, pois tudo ficará sob o crivo dos protetores, que nos darão os esclarecimentos para desmontarmos, judiciosamente, os argumentos aplicados astuciosamente com o intuito de nos enganarem.

Finalmente, desconfiemos também dos termos por demais simples ou simplórios dos que se pretendem fiéis cumpridores das normas evangélicas, pois os roteiros que se determinam pelos grupos formados nas plagas da espiritualidade superior não podem incluir a bajulação do pequeno e o desprestígio da erudição, em nome da verdade, que é complexa e tremendamente difícil de ser assimilada, tanto que os indivíduos vão e vêm, nesta escada de Jacó que é a reencarnação.

Que todos os tópicos que se vão fixando nas mensagens sejam vistoriados com olhos de ver e ouvidos de ouvir, conforme a sagrada recomendação do Mestre, e tudo ficará mais fácil e acessível para o mediador. Que se sinta a proteção dos mensageiros, em questões pessoais, pois jamais deverão expor os auxiliares a situações vexatórias, dado que o respeito que desejam receber será o mesmo que devem dar.

Eis que, de certa forma, estamos consignando o nosso próprio roteiro, o qual deve cotejar-se com os das outras equipes que se servem deste e de outros médiuns, para que se possa avaliar o quanto estamos confirmando ou inovando em matéria doutrinal ou formal. Não será plausível esperar que todos os grupos ofereçam este mesmo tipo de informação?















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AJUDA INESQUECÍVEL











O Grupo das Ações Beneméritas não trará só depoimentos depreciativos dos que se vêm aprimorando no trato das matérias doutrinárias. A pedido dos companheiros, vim para lembrar passagem de felizes conseqüências que se deu comigo.

Quando encarnado, era médium muito cobiçado pelas forças espirituais inferiores, pois dava trela a quanta conversa fiada vinham propor, não só porque desejavam que perdesse meu precioso tempo, mas, principalmente, porque iria fazer frutificar o exemplo dos apanhados inconseqüentes e irresponsáveis, já que a doutrinação acabava quedando em segundo plano, dado o vigor que imprimia aos brados com que retransmitia os sofrimentos.

Através de minha voz, gritaram não só suicidas, mas também carbonizados em incêndios, atropelados da via pública, estraçalhados pelas fumegantes locomotivas, chacinados por perversos assassinos e demais furiosas criaturas que despertavam no etéreo em desarmonia e em descompasso com a divina justiça. Levava a sério a dramatização que me solicitavam em angústia e dor, na desesperança total de que se pudesse recuperar os bens perdidos com trespasses tão cruéis.

Os pobres orientadores das mesas ficavam perplexos com os argumentos que se depositavam em minha boca, não tendo sido poucas as vezes em que a última demonstração de dor indicava para o mergulho trágico nas profundezas abissais do Hades. Eram terríveis as cenas de desespero que eu deixava impressas nas mentes dos companheiros de mesa.

Ainda bem que havia um protetor que costumava aproximar-se de mim, embora não conseguisse manifestação que correspondesse aos verdadeiros intuitos, pois, quando eu percebia que vinha com expressões que poderiam aplicar-se à minha pessoa, consoante os atributos que não desejava ver moldados pelas diretrizes dos vigilantes do etéreo, exercia feroz restrição, repetindo dizeres que constavam impressos na mente, conforme estruturação codificada por mim como a mais consentânea com os verdadeiros princípios da doutrina espírita. Estranhavam os irmãos da casa que os alucinados estertores que retransmitia eram todas as vezes diferentes, enquanto as ponderadas palavras do benfeitor espiritual sempre repetiam o mesmo discurso, no qual as recomendações se generalizavam, podendo qualquer pessoa aproveitar-se dos ensinamentos que nele se continham.

Após vários anos nessa vida desatinada, surgiu no centro pessoa mais experiente, que propiciou ao meu protetor diversas oportunidades de manifestação, sem que se truncassem os principais conselhos diretamente endereçados a mim.

Mas essa participação especial não se deu sem contrariedades e sem sutilezas de transmissão, uma vez que não se saberia dizer como é que reagiríamos, o grupo e eu, diante de palavras contundentes, particularmente porque pronunciadas através de voz ainda não acatada como amiga e confiável. Iria ser preciso sacrificar o médium ou a transmissão, caso se desejasse, deveras, ver o incauto retransmissor das malévolas intenções dos prestidigitadores do espaço ser esclarecido, devida e definitivamente.

A história de como cheguei a compreender que deveria aceitar o fato de estar sendo obsidiado é longa e intricada, perpassando por fases de aguda desesperação e profunda incompreensão. Em todo o caso, depois de muito batalhar, conseguiu o orientador fazer-me entender que não existiam tantos sofredores, denegridos pelas dores físicas, em condições de receberem socorro justamente em centro que não lhes possibilitava, tendo em vista a timidez do grupo, qualquer auxílio real, quer fossem verdadeiramente quem se diziam, quer se desconfiasse de mistificações.

Pererequei durante bom tempo, refugando os ensinamentos, até que recebi forte pancada cármica, com a morte de um filho, em condições semelhantes às dos que vinham procurar-me. Aí, orei com fervor, para que me propiciassem a oportunidade de receber a primeira comunicação da querida entidade. Empenhou-se muito para que eu fosse atendido o sublime benfeitor, de forma que não demorou muito para estabelecer contacto.

Surpresa das surpresas! Quando pensei que viesse alguém em supremo estágio de desesperança, chegou quem me iria conduzir, definitivamente, à reformulação completa dos meus princípios doutrinários. O meu caro amigo — já que na espiritualidade não estamos em situação de preponderância de pai para filho — atendeu-me em minhas reais precisões morais e, demonstrando que estava pronto para prosseguir em sua linha de aprendizado espiritual, deu-me verdadeira aula de conformação a carma tão terrível, serenamente encaminhando a entrevista para os trabalhos socorristas que se dão de imediato, em relação a todos os que partem sob o impacto das tragédias.

Até hoje me arrepio todo ao me lembrar de minha ressurreição espiritual, para a proteção dos amigos e mentores. Muito devo a eles, pois, a partir de então, sofreei os impulsos de desonestidade que me mantiveram escravizado, revigorando a magnetização pelos bons fluidos dos instrutores da instituição e equilibrando as vibrações, para poderem os doutrinadores, desembaraçadamente, realizar as tarefas socorristas.

Não sei até que ponto irão dar crédito a esta modesta explanação, mas podem ter a certeza de que, se estiverem atentos, irão inferir alguns ensinos que tencionei imiscuir no relato, para possibilitar que a leitura tenha algum proveito.

Fiquem na paz de Deus!















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AS AÇÕES DE BENEMERÊNCIA











Sempre que os amigos encarnados se põem despertos para este tipo de leitura, ficam a indagar como é que podem auxiliar os irmãos sofredores, uma vez que, por experiências antigas, muitas frustrações se deram ao intentarem deixar algo de bom, para certas pessoas indignas e não reconhecidas.

Quase sempre os conceitos de dignidade e de benevolência andam juntos, pois a maioria considera que o fato de doarem algo seu, ou mesmo de se deixarem envolver por forte halo de caridade, gera compromissos morais para o assistido, como se todos os atos tivessem, obrigatoriamente, de ser retribuídos. Serão, sim, não pelos beneficiários das ações, mas pela natureza da justiça que emana da Divindade, pois o bem que se realiza, em função do amparo aos semelhantes, se transforma em energias condensadas dos fluidos espirituais, de forma a consignar, para quem age em harmonia com as prescrições evangélicas, pontos valiosíssimos, a se acrescentarem ao conjunto das benemerências que advirão do Alto, em forma de bênçãos, aproveitando o ser em ascensão de todas as obras com que favoreceram os irmãos sofredores.

Entretanto, ao se saber que Deus é pai de misericórdia, dulcíssimo em sua justiça e perfeitíssimo na aplicação das leis do perdão e da salvação, não se pode presumir que tudo deva ficar nas mãos dele, senão que devamos agir em consonância com os deveres da solidariedade e da fraternidade universais, conforme aprendemos pelos ensinos que Jesus nos trouxe, em sua sublime peregrinação.

Hão alguns de suspeitar das colocações, pois configuramos o Senhor como o Salvador tradicional das instituições religiosas do Ocidente, de modo que fica subentendido que os povos preexistentes ao bondoso mestre não tiveram direitos à cidadania celestial, conforme se consigna nos cânones de certas seitas, que pretendem que só o batismo, em nome da Santíssima Trindade, é que pode predispor as organizações espirituais para o ingresso ao reino de Deus.

Para estes, devemos afirmar que as ações de benemerência sempre existiram, podendo qualquer ser vivente, segundo as estruturas mentais e culturais permitiam, viver em consonância com os mandamentos superiores do Pai, sem, contudo, conhecer, especificamente, as determinações como normas de conduta moral, agindo por instinto ou por conhecimento empírico fundamentado no seio das organizações primitivas, onde não entraram os ditames evangélicos de Jesus.

Mas não queremos desviar-nos para discurso paralelo, senão iremos esbarrar em conceituações de diferentes civilizações e culturas. Esforcemo-nos por limitar as apreciações ao contexto de vida de quem conseguiu chegar a este ponto da leitura de obra absolutamente impossível de realizar-se naqueles centros de menor desenvolvimento civilizatório.

Pois aí está o nosso aparato espiritual sendo posto à prova, nestas apreciações, que elaboramos crentes de recebermos o alvará da boa vontade dos amigos, para o que desejamos que se organizem em grupos de pregação, para dar aos irmãos a notícia de que Deus irá recompensar todas as ações caritativas, consoante as promessas que nos chegam de inúmeras fontes, não fosse o lema inabalável do Espiritismo: fora da caridade não há salvação.















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A NECESSIDADE DO AMOR











Tema cediço no conjunto dos textos de origem espiritual, a necessidade do amor foi pregada desde tempos imemoriais, tanto que consta de todos os códices de leis, em todas as estruturas sociais, quer sejam mantidas por tradição oral, quer estejam registradas indelevelmente pelos mais diferentes processos de escrita.

Quando interrogado a respeito do maior mandamento, Jesus só confirmou o que estava assinalado na lei judaica: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É bem verdade que o Nazareno acrescentou o amor aos inimigos, afirmando, categórico, que serão salvos, para a eternidade com o Pai, todos os que se amem uns aos outros, conforme ele mesmo nos ama. Rigorosamente, a universalização do conceito se deve a Jesus, de forma que pontuamos, na história, o momento exato em que se deu a confirmação da excelsitude moral, como norma superior de conduta, aquela que transforma os seres humanos em santos, propiciando-lhes condições de angelitude.

Todavia, não vamos insistir em que devamos amar a todos os indivíduos, mas somente àqueles que fizerem jus ao amor. Parecerá estranho que estejamos frontalmente contrariando as palavras que colocamos na boca do inolvidável Mestre e Senhor? Pois, acreditem, o conselho que se consignou nos Evangelhos se destinava apenas aos homens de boa vontade. Se nós considerarmos todas as criaturas como apaniguadas pelos superiores sentimentos que se deverão desenvolver para a compreensão da superioridade do amor, deveremos deixar registrado que todos os seres humanos são puros e merecedores de ascensão imediata aos páramos celestiais, para reinarem ao lado do Pai.

Será que estamos errados em prejulgar os homens como dignos de piedade e necessitados de ajuda? Será que aqui estão encarnados só seres de caráter imaculado, realizadores das determinações evangélicas, prontos para receberem a graça da canonização, perante Deus? Ou estamos diante de seres falidos, que se arrastam pelos descaminhos dos vícios e dos crimes, muitos buscando compreender as razões do fato de estarem encarcerados na carne, enquanto mourejam, destemidos, para o enfrentamento dos horrores conscienciais, na mais pura intenção de superação das condições de inferioridade?

Pois julgamos que muito deveremos aprender e uma das principais falhas de nossa formação é o fato de nos considerarmos aptos a praticar o amor, nos termos estabelecidos por Jesus, enquanto, na verdade, vamos levando os preconceitos avante, esquecidos de que existem nas pessoas centelhas existenciais ou almas imperecíveis, que deveríamos respeitar, segundo a consignação da lei: amar ao próximo como a si mesmo.

Não temos a pretensão de avançar muito neste tema. Nossa palavra está limitada a uns poucos pontos importantes, para que possamos oferecer aos amigos, motivos preciosos para considerações, numa espécie de desafio intelectual, sem que se envolvam demasiadamente nos aspectos emocionais, para que a rejeição não se dê completa, nem o acatamento se faça sem a interferência das luzes da razão.















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A CARIDADE RECONDICIONADA











Desejou Kardec institucionalizar a caridade, motivo pelo qual deu ao Espiritismo nascente o dever de agir sob o impulso dessa virtude. Mas estaria certo o irmão codificador em acatar as intuições dos espíritos que o assistiam, nesse particular dispositivo universal? Não teria sido melhor que tivesse dito, por exemplo, fora do amor não há salvação, ou fora da perfeição não há salvação? Por que insistir na caridade, que vinha sendo pregada como uma das virtudes essenciais ou teologais pela igreja de Roma: a fé, a esperança e a caridade?

Já tiveram os amigos a preocupação de dedicar alguns momentos para a resolução da questão? Conseguiram definir o porquê das considerações a respeito da configuração da caridade como elemento maior, a justificar o ingresso dos seres no reino de Deus?

Reflitamos um pouco.

O que é a caridade, finalmente? Um sentimento? Uma decisão intelectual? Um pensamento moral? Um eflúvio consciencial? Ou uma ação a exteriorizar todos esses pontos?

Para nós, a caridade é a confirmação de todos os princípios evangélicos, consubstanciados em atos e vivenciados, ou seja, toda a pureza missionária, apostólica, envolta pelos sentimentos mais profundamente cristãos, se incrusta no espírito e desabrocha em dulcíssima fragrância para o mundo, em ações de benemerência iluminadas pelas bênçãos de Deus. É a vida em harmonia com as forças cósmicas emanadas diretamente da Divindade. É, realmente, o salvo-conduto para as terras do Senhor.

Vejam que estamos divagando a respeito do tema, pois, se soubéramos agir em consonância com tais pensamentos, teríamos grandioso deslumbramento de aura, a ofuscar de luminosidade as pobres criaturas que se acercassem de nós, sôfregas por se virem apaniguadas por um pouco de nossa sabedoria. Mas cá estamos em apuros, para realizar simples tarefa escolar, elementarmente dispondo as idéias, na intenção de que algo de bom possam produzir e na expectativa de que, dessa aplicação, possam germinar alguns aspectos mais das realidades da superior concepção dos princípios universais, oferecidos a nós pela bondade dos mentores.

Que bom seria se os amigos conseguissem avançar um pouco mais na caminhada gloriosa que empreendem, estendendo a nós o manto da compreensão, pelo emprego de seu espírito de caridade na aceitação destas discussões e fornecendo-nos alguns elementos mais, para que possamos estabelecer novos parâmetros no cotejamento do que sabemos, com os infinitos que temos pela frente! Humildemente, gostaríamos que nos congraçássemos caritativamente, no respeito mútuo do divino amor.















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OS ESFORÇOS CARITATIVOS











Muitos irmãos não se julgam com a alma pura, pois não conseguem sublimar os sentimentos, esforçando-se por conter reação contrária, quando exercem atos caritativos. Dão com a mão direita, mas a sua esquerda, ao contrário da pregação do Mestre, fica sabendo bem do fato.

Seria injusto desconsiderar a doação, por não se ter tido suficiente esclarecimento emocional, de forma a tornar a caridade mais mecânica, segundo a exposição anterior. Os homens estão em fase de aprendizado, de crescimento intelecto-afetivo. Se fôssemos perfeitos, não necessitaríamos perpassar pela carne, em angustiosa expectativa de progresso, isso quando adquirimos a consciência das explicações espíritas.

Vamos restringir as ações, só porque não temos a exata compreensão da extensão dos conceitos, em função do roteiro cármico que palmilhamos?

Não seria justo para a realização de vida dos irmãos em condições de inferioridade. Isso seria o mesmo que dizer a nós que suspendamos a pregação, porque não temos o aperfeiçoamento superior dos sentimentos nem a intelecção completa dos princípios existenciais. Se estamos aqui, é porque desconfiamos de que será melhor para nós agir em benefício da divulgação destes estudos, não só para oferecermos subsídios aos irmãos, como ainda para conseguirmos estabelecer a crítica de nossos avanços, mediante o produto final destas escriturações.

O fato de se doar algo, mesmo com estremeções, é positivo, pelo menos para que se possa avaliar o atual estágio emocional. Se nada déssemos, iríamos, forçosamente, desconhecer as reações psíquicas e conscienciais decorrentes.

Claro está que, se tivermos reações absurdamente negativas, acusando-nos de perdas irreparáveis, por nos desprendermos de bens materiais, será preferível sustar este tipo de auxílio, mas nunca iremos propor que se afastem os irmãozinhos da seara caritativa, pois existem muitíssimas maneiras de socorrer os desvalidos, a principiar pela aplicação do tempo livre, em proveito de alguma ação benemérita. Mais tarde, com a luta que se travará no íntimo consciencial, certamente preponderarão os sentimentos mais puros, terminando por ser reconhecida a superioridade emocional dos seres que se capacitam para integrais doações.

Eis o sentido mais profundo das aquisições pretendidas pelos amigos da espiritualidade que insistiram junto a Kardec no sentido da consignação do lema fundamental. Mas não se espere que a salvação seja automática, como na regra comercial do toma-lá-dá-cá. Haveremos de muito pelejar até instituirmos, na profundidade do ser, todas as virtudes como básicas para a evolução que nos guindará a outras esferas mais purificadas.

Pratiquemos o bem, sem dúvida, mas façamo-lo de olho nos desenvolvimentos que deveremos providenciar no seio da alma, para que nos justifiquemos perante o Senhor.















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PROBLEMAS DE CONSCIÊNCIA











Sempre tive para comigo que exercer a caridade iria prejudicar-me, pois justificava o azedume com que estendia a mão através dos oito filhos que deveria alimentar e educar. Contava com a ajuda do marido, mas não tinha um momento sequer de sossego, tanto que nunca saí de casa durante os vinte anos em que estive casada. Era, verdadeiramente, prisioneira do matrimônio, ou, como pensava na ocasião, escrava do marido e dos filhos.

Entretanto, após pertinaz moléstia pulmonar, vi-me arrojada no espaço, depois de muito sofrimento físico e emotivo, principalmente porque a maior parte dos filhos não se dignou sequer visitar-me no hospital, durante o período em que quedei naquele catre de dor.

Gostaria de evitar mencionar emotivamente o fatos, pois tenho ciência das falhas de procedimento e estou lutando muito para soerguer as demais criaturas, personagens obrigatórias do meu drama.

Fui designada para manifestar-me perante o público encarnado, pois pareceu ao grupo que minhas desavenças íntimas com as leis morais serviriam para exemplificar a contento as explicações das composições do dia (desde As ações de benemerência). Por isso, tenho de explicar que minha formação moral, adquirida no lar paterno, incluía a necessidade de calar-me perante a sociedade, não protestando jamais contra qualquer ato de injustiça que se procedesse institucionalizadamente contra mim. Era para ser dona-de-casa, e fim! Estavam estabelecidas as diretrizes fundamentais do respeito ao marido e da criação dos filhos. Fora disso, era ir ao templo toda vez que os ministros determinassem, acatando, humilde, todos os preceitos religiosos.

O tempo das primeiras e doloridas gestações me prenderam em casa, de forma que até as idas à igreja diminuíram sensivelmente o contacto que ali poderia estabelecer com outras pessoas. Quando chegava à idade de aproveitar-me dos relacionamentos com as noras e familiares, adquiri a doença que me trouxe muito nova de volta ao etéreo.

O fato de ter dado à luz do mundo oito criaturas, facultando-lhes razoável desenvolvimento, pelas palavras de temor a Deus que lhes incuti nas mentes, não foi suficiente para justificar-me perante mim mesma, pois considerava-me prisioneira incomunicável, tanto que não assumi definitivamente as responsabilidades, fazendo o possível para que as duas meninas não se formassem na escola primária, com a desculpa de que deveriam ajudar-me nas tarefas domésticas. Não era tão pobre que me visse relegada à miséria das favelas, nem tão abonada que pudesse valer-me dos serviços de algum fâmulo.

Por outro lado, às escondidas, lia quanto almanaque ou revista pudesse comprar, deixando-me embalar pelas ilusões da riqueza material dos outros, descaracterizando fundamentalmente as lições da moralidade apostólica que recebera na infância e na adolescência. Em suma, não era capaz de sistematizar a existência, presa por preconceitos a antigas concepções de civilizações que só existiram para a publicação da Bíblia, pois jamais pude coordenar as idéias ali impressas, com os eventos que via desfilar na vida.

O resultado final foi que me mantive íntegra exteriormente, jamais denunciando os furores da alma ou as angústias do coração. O intelecto como que funcionava por controle remoto, pois tudo fazia mecanicamente, sem reclamar, relogiozinho ao qual jamais faltaram as cordas, sempre fortemente acionadas pelo marido ou pelos filhos.

Após doze anos dessa vida azeda, pude refrescar-me nas águas menos fétidas de um companheirismo absurdo que me surpreendeu em paixão honesta, porém, profundamente imoral, tanto que me recusei a qualquer contacto físico, acabando por ser abandonada até por aquele que manteve o meu despertar sentimental pelo restante da vida. E era ele um bom homem, casado com a única amiga verdadeiramente leal que possuía. Não trocamos juras de amor, nem poderíamos moralmente fazê-lo, mas nos entendemos um ao outro pelos gestos, pela solicitude mútua, pela atração que sentíamos, a ponto de suspirar pelos momentos em que iria vê-lo no templo ou o receberia com a família em casa, para a confraternização da amizade.

Por que estou a relatar tantos pruridos de caráter, aparentemente inconsistentes e até contraditórios? É que terminei por não crescer totalmente, arremessada em plena adolescência em matrimônio de conveniência familiar, fundamentada nos aspectos da mais asquerosa religiosidade sectária, conforme pude compreender tardiamente, quando irremediavelmente presa nas malhas daquela vida de sacrifícios e por injunção das reflexões a que me obriguei, durante o tempo de internação nas profundezas do báratro.

Hão os amigos de querer saber se não obtive qualquer tipo de anistia, já que, apesar de conclamar as forças celestes para os reparos das injustiças, dei guarida a oito criaturas, tendo-me mantido fiel ao esposo, que contava comigo para sua estabilidade social e psíquica.

É bom esclarecer que a terminologia que estou empregando me fugia completamente ao domínio, na derradeira passagem pelo orbe, pois obliterara-me, como sói acontecer, dado que me havia predestinado a sofrer tal carma. Assim, a intelectualidade que possuo adquiri em encarnações anteriores, estando atualmente em fase de restauração do patrimônio antigo, malversado muitas vezes, mas finalmente colocado à disposição para o efeito dos cursos que estou freqüentando. Portanto, não precipitem conclusões a respeito desta manifestação, como impossível de realizar-se, tendo em vista a cultura de almanaque que declarei.

Após curto período de permanência na escuridão, saí para a luz destas paragens amenas, conduzida por alguns amigos de outras épocas, familiares cuidosos do meu desenvolvimento e responsáveis por muito do meu progresso, na derradeira passagem pela carne.

Terei sido sutil demais em sugerir que houve lucro espiritual, apesar das reclamações? É que cumpri à risca todos os compromissos, insatisfeita, embora, com as condições de inferioridade próprias de quem ingressa nas roupagens do sexo feminino.

Arquei com as conseqüências das revoltas, mas obtive a consideração pelos atos caritativos, de forma que estou aprestando-me para volver ao ambiente familiar, na condição de protetora dos filhos.

Os problemas de consciência pelas incompreensões cármicas estão totalmente resolvidos, tanto que me permiti considerações de ordem teórica, para o que peço que me perdoem. Aceitem abraço carinhoso e lembrem-se de que o sofrimento calado pode também representar uma forma de ação caritativa.















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CONCEPÇÕES DE DEUS











Não temos muito traquejo em discorrer a respeito dos temas teológicos, por isso, estamos tendo de prevenir os amigos para possíveis escorregadelas vocabulares.

Feita a ressalva, vamos estabelecer, de início, que a presença de Deus pode representar para as criaturas algo extraordinariamente superior, impossível de se determinar lingüisticamente. Desse modo, transformar sentimentos, percepções intelectuais sutis, vibrações energéticas de puro envolvimento sobrenatural, em palavras, será, por certo, ferir o que se passa nas almas.

Entretanto, posicionamentos existem que merecem comentados, como no caso das culturas primitivas, cujo princípio de orientação religiosa obriga a representação do Pai sob as mais disparatadas formas, sejam animalescas, sejam humanas. Esperamos que os caros leitores concebam o Pai, sem a necessidade de delimitá-lo pelas ondas materiais, por mais fluidas possam ser.

Com o progresso das idéias, foi desligando-se a humanidade de concepções tão sensórias, conquanto encontremos muitos que se sentem mais seguros, quando portam algum amuleto ou se postam perante imagens de santos, para o recolhimento espiritual, no momento em que se encontram com o seu deus particular. Também esperamos que os amigos não prefiram forma tão rudimentar de trato com o Criador.

Pensamos estarem os leitores convencidos das idéias desenvolvidas por Kardec, sob as luzes provindas do plano da espiritualidade, para o que os remetemos para O Livro dos Espíritos e para A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, onde se encontram os conceitos discutidos e explicados.

Assim, devemos, de pronto, considerar o Pai o espírito supremo, ou a suprema inteligência, causa primária de todas as coisas. Evidentemente, não há como materializar esses pensamentos abstratos, sem o infalível desvirtuamento da sagrada concepção. Mas nem todos os indivíduos estão aptos a compreender a magnificência da informação, principalmente porque a mentalidade dos humanos está presa a mesquinhos problemas pessoais, mesmo que adquiridos geneticamente, como no caso dos que têm deficiências mentais pronunciadas, impedidos de organização cerebral capaz de situá-los no mundo.

Sentimos que tenhamos de fazer menção a obstáculos cármicos significativos, mas foi a maneira mais fácil que encontramos para demonstrar, com clareza, que o nível de concepção da Divindade está dependente do ponto de evolução intelectual (o que compreendemos também como espiritual, desde que se aceite a tese de que, após a morte, se poderão verificar importantes transformações para melhor, nesse aspecto, pois podem ocorrer casos em que o embotamento cerebral se dê por força de alguma necessidade específica).

Citamos primeiro os problemas de caráter social e, em seguida, apresentamos as dificuldades individuais. Poderíamos referir-nos a restrições de outras ordens, como o momento político, a filosofia característica da civilização etc., mas julgamos inoportuno estender-nos para além dos limites de simples dissertação escolar.

Como encaram os amigos as definições de Deus que conhecem? Gostam de discutir a natureza divina, ou julgam o tema restrito às individualidades e, portanto, não passível de discussão? Não sabem o que pensar, ou não desejam receber informações que possam não se justificar perante a verdade a ser desvendada? Temem ofender o Senhor com a declaração de seu nome, ou, simplesmente, se recusam a admitir, agnosticamente, a potencialidade humana de conceber-lhe a existência, na definição dos divinos atributos? São ateus, ou estão tão desiludidos da vida que não se atrevem a imaginar algo que possa representar a absoluta felicidade?

Se determinarmos qualquer conceito pessoal, iremos contrariar as teses que desenvolvemos, pois limitamos as concepções aos estágios evolutivos. Como nos temos definido como aluninhos das primeiras letras evangélicas, fica fácil de derrubar qualquer idéia, pelo argumento da falta de autoridade. Se nos referirmos à aprovação dos mentores, teremos, em contrapartida, a fixação dos conceitos através de Kardec, provindos diretamente das esferas de luz responsáveis por este círculo existencial. Se reforçarmos a idéia de que as concepções são meramente teóricas, incidiremos no erro de desprezar as sublimes experiências dos que se arcangelizaram, cujos argumentos estamos impedidos de avaliar com propriedade, dado que as vivências são intransferíveis.

Que fazer, então?

Respeitar todos os posicionamentos teológicos, admitindo a tese evolucionista, para ficar no aguardo de que a caravana passe, sem que os cães ladrem. E orar fervorosamente, para que os principais desvios conceituais encontrem logo explicação, através das ponderadas influenciações espirituais que os guias têm a possibilidade de exercer. E aceitar as falhas humanas como próprias de quem não é perfeito. E receber as bênçãos do Pai, acreditando piamente em seu amor infinito, deixando para depois a compreensão de sua realidade, para o momento em que estivermos aptos a reconhecer-nos cheios de graça e de luz.















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A PRECE











Apanhando o gancho do derradeiro parágrafo da mensagem anterior, temos para conosco que, qualquer seja a noção que temos do Pai, desde que não desacreditemos de sua existência, bem como do plano das realidades espirituais, o que ocorre muitas vezes até entre espíritos mais céticos, os quais materializam o etéreo, lhe damos o crédito de ter criado um universo solidário, em que há amor e em que a virtude esteja ao alcance de todas as criaturas. Sendo assim, é forçoso admitir a prece como o meio mais eficaz de se submeterem as vontades à suprema vontade de Deus, o que irá permitir que os mais evoluídos cuidem dos irmãos infelizes. Essa é decisão espiritual de profundo respeito para com as leis estatuídas no Cosmos.

Por outro lado, reverenciar o Senhor e aspirar a crescimentos espúrios nos campos materiais será, certamente, acender vela também a Mamon, conforme nos asseveram as Sagradas Escrituras. Dessa forma, asseguremo-nos de que não estamos orando justamente para as forças negativas, que agem à revelia dos preceitos evangélicos, lamentavelmente desinteressadas pelo aperfeiçoamento dos atributos não totalmente deteriorados, o que nos faria seres dependentes de quantos obsessores se sentissem no dever de nos dar o que têm, ou seja, as piores recomendações e influenciações.

Orar, por isso, muitas vezes, pode constituir-se em algo absolutamente perigoso, se não tivermos forte a convicção de que os sentimentos estejam conectados às origens da bondade e do amor divinos.

De que nos adiantará repetir as sublimes palavras de Jesus, orando o pai-nosso sem comprometimentos de caráter moral ou espiritual? Será ouvida a prece, pois não se pode conceber que o Pai faça ouvidos moucos, mas os pedidos não surtirão o efeito verdadeiramente desejado, pois Deus não nos atenderá naquilo que estapafurdiamente solicitarmos. Aí haverá quem seja designado para esclarecer-nos, se estivermos disponíveis para a revelação da verdade psíquica, ou, então, tendo repudiado as boas influenciações dos benfeitores, abriremos caminho para a recepção dos maus conselhos dos que só desejam arruinar a obra do Senhor, pois, infelizmente, existem criaturas tão mal informadas que se julgam donas do universo, sempre prontas a ascenderem sobre os incautos para a escravização consciencial.

Estamos, posto não pareça, desenvolvendo tópicos do tema prece, pois o que julgamos mais importante para os amigos é o estudo da vontade, para ver se conseguem acatar as determinações da moralidade superior de quem se desenvolveu no campo das virtudes bem mais que nós. Assim, só nos resta repetir, para conformarmo-nos às prescrições de Jesus: Pai nosso [...] seja feita a vossa vontade...















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HUMILDADE E TRABALHO











Sempre que nos alienamos da realidade circunstante, para nos entregarmos a meditações de temas tão profundos e tão importantes, corremos o rico de nos desatualizarmos em relação aos misteres mais vulgares que precisamos desempenhar, para irmos adquirindo os méritos, para a percepção de novas atribuições no campo das ações beneméritas.

Dessa forma, afastemo-nos um pouco das concepções superiores e envidemos esforços no sentido de melhor compreensão de nossa real personalidade, a que se encontra sob os escombros dos desejos e das preocupações. Mantenhamos livre o pensamento, para a compreensão dos pequeninos defeitos de toda hora, e consignemos tudo aquilo que pode ser melhorado no relacionamento com os demais seres, independentemente dos auxílios pleiteados e da percepção de que temos sido abençoados pelo Senhor. Isto nos trará a felicidade suprema de estarmos sendo considerados como filhos diletos do Criador, mas a ascensão só se completará após termos conseguido suplantar todas as deficiências de caráter, as quais nos mantêm presos nestes círculos rudimentares do orbe terrestre.

Em suma, procuremos estabelecer como principal meta da vida o amanho do terreno sobre o qual deveremos plantar as sementes da humildade, para que possamos oferecer, com lealdade, aos companheiros de existência, todos os nossos recursos, como se não tivéssemos qualquer outro objetivo na vida. Está claro que a aquisição da humildade incidirá no melhor aproveitamento possível de todos os ingredientes da moralidade superior que formos capazes de amealhar em nosso repositório de harmonias evangélicas.

Estamos aptos a entender as razões de precisarmos definir tão simples aspecto do carma, neste momento em que nos interessamos em conceber a verdade divina e em estabelecer contacto com o Pai? Pois é o nosso viver de cada hora que deverá ser preservado invulnerável para os ataques dos maldosos. Sem humildade, jamais conseguiremos usufruir a paz relacional dos bons, nem a serenidade íntima dos justos. Como, então, proporcionar aos semelhantes aquele amor de que nos falou o Cristo, através da pureza das ofertas de benemerência?

Eis aí revelada a importância deste tema, pois se trata da individualidade, em conjugação com os carmas de todos os irmãos que conosco convivem, compartilhando das mesmas condições bioenergéticas, para empregar termo da moda na designação do mundo, tal qual se apresenta para o conjunto das criaturas.

Ser humilde, contudo, não quer significar que devamos alhear-nos dos problemas mais complexos. Ao contrário, quanto mais nos compenetrarmos de que o muito que nos falta conhecer é infinitamente superior à parcela de sabedoria que conseguimos acumular, mais iremos submeter-nos à necessidade de nos julgarmos seres em evolução, ainda muito no princípio das conquistas dos méritos, para estarmos aptos ao progresso.

Por isso, é importante a segunda parte do tema, ou seja, o trabalho, que é o meio de que dispomos para superar de vez todas as solicitações conturbadas pelos desejos menos dignos. Dediquemo-nos com afinco às ações que redundarão, inequivocamente, no favorecimento das aquisições das virtudes, seja na aplicação diuturna aos estudos dos temas mais urgentes para as definições pessoais, seja na prestação de auxílio a todas as entidades que vêm socorrer-se de nós, nas dificuldades.

Humildade e trabalho, portanto, são faces da mesma moeda com que adquiriremos as condições do aperfeiçoamento espiritual.















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O MUNDO











Nos relacionamentos com o mundo, devemos preservar as virtudes, aplicando-as em cada conjuntura das circunstâncias, que se organizam como que de propósito, para que sejamos testados. É bem essa a idéia que nos fica após os eventos, como resultantes da interação entre os planos da espiritualidade e da materialidade.

Se estamos aqui, nós, espíritos, é para confirmar as intuições dos que não se julgam sós no universo, concebendo a existência de seres, em outras dimensões, como se não fosse possível aceitar que o Criador se tenha limitado a uma única criação, não se apaniguasse ele com o atributo da eternidade.

Sentimos estar avançando nas conclusões, sem deixar especificados os argumentos de que nos valemos para a comprovação das teses. Infelizmente, o mundo nos recebe com desconfiança, fazendo com que tenhamos excessivos cuidados com os desenvolvimentos dos textos.

Pois é esse o sentimento mais geral, quando se assumem compromissos sociais, o que não se poderá jamais deixar de fazer, dado que o homem tem incrustado, em sua formação, o espírito gregário, o que o obriga aos relacionamentos. Casos de isolamento e de repulsa podem considerar-se deformações de caráter ou sintomas de moléstias dos sistema nervoso ou linfático, a subsidiarem os procedimentos anti-sociais, sendo, portanto, exceções à regra.

Estabelecido o princípio de que os homens só podem existir em sociedade, imediatamente se deve concluir que existe interdependência, para que possam subsistir. Desse modo é que se definem as atribuições de cada qual, mesmo quando indivíduos se juntam ocasionalmente, náufragos em ilha deserta. Se alguém deixar de executar os serviços que o grupo determinou, estará contrariando o princípio existencial do homem sobre a Terra.

Não é verdade que tais raciocínios são extremamente simples? Pois também é verdade que muitos não se deixam envolver pelos ideais comunitários, buscando prevalecer sobre os companheiros, fugindo aos compromissos, alienando-se do conjunto dos mortais, afastando-se, inclusive, do grupo familiar (obrigando a que os demais membros na espiritualidade se desdobrem na assistência de quem está falindo).

Assim, nenhum mortal é ilha no oceano da existência, já que os compromissos com o mundo simplesmente refletem os deveres que todos temos em relação ao grupo que nos ampara espiritualmente, e para o qual temos a mesma obrigação. Não há fugir deste tipo de considerações, caso estejamos interessados em descobrir as razões que levam os acontecimentos a se disporem do modo mais provocativo, para as ações que devemos realizar em consonância com a programação cármica.

Se não estamos definindo o tema em obediência estrita à lei de causa e efeito, não correspondendo cada argumento às conclusões parciais que deveríamos inferir, é porque desejamos incitar a inteligência dos confrades, para que descubram se não está aí justamente a falha de seu raciocinar a respeito do mundo.

É elaborado o nosso pensamento? Contudo, não exijam de nós aquela simplicidade que não encontramos nos seus. Fiquemos no digladiar intérmino das opiniões, e jamais chegaremos a resultados práticos definitivos, de como enfrentar as diretrizes estabelecidas para a vida. Despendamos o tempo em inúteis querelas, e jamais conseguiremos cumprir todos os itens dos deveres para com o próximo, em função do cumprimento das provas. Alheemo-nos dos temas que nos conduzem à apreensão das virtudes, e nunca mais iremos ter sossego perante as acusações conscienciais.

Eis que estamos denunciando vários dos artifícios retóricos com que se burlam as normas evangélicas impostas para os encarnados. Não é verdadeiramente desse jeito que agem os que não se vêem desejosos de assumir as suas responsabilidades, perante a vida e os parceiros? Respondam-nos sinceramente, e teremos condições de emitir vibrações através das quais as definições se completarão. Ajudemo-nos a enfrentar os problemas carnais, e teremos a felicidade de passarmos para outras esferas de lutas mais purificadas e menos densas em relação aos sofrimentos. Não é bem isso que todos queremos?















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SUTILEZAS ARGUMENTATIVAS











Qualquer dos companheiros poderia apresentar-se para o depoimento do dia, uma vez que nos pareceu ter ficado bem esclarecido (desde Concepções de Deus) que, apesar de haver leis rígidas para o desenvolvimento espiritual, os homens não se afeiçoam à disciplina necessária para a aquisição e retenção das virtudes.

Esse foi bem o meu caso, pois não desejei jamais volver ao campo das expiações terrenas, uma vez que tinha em alta conta a minha intelectualidade, pondo-me em plano superior aos facínoras e demais seres enegrecidos pelos vícios com quem me debatia nas trevas, sem justificar tal necessidade, à vista de meus pensamentos serem mais argutos e minhas conclusões mais abrangentes.

Arremessado de novo para encarne despropositado, segundo as idéias de então, busquei realizar tudo ao contrário do que me parecia o mais fácil de conceber-se como o necessário para o crescimento moral. Evidentemente, deveria ter sido supressa a minha condição de inferioridade, qual seja, exatamente, a causa de estar considerando-me superior aos outros, mas os amigos fizeram questão de enfrentar todas as dificuldades que lhes imporia e permitiram-me utilizar-me livremente da inteligência de que tanto me orgulhava.

Foi uma festa!

Precipitei-me nos estudos das teorias mais complexas, tornando-me mestre em filosofia, dedicando-me quase exclusivamente aos apetrechos da lógica, para configurar que conhecia todos os mecanismos do raciocinar superior.

Sem perceber, estava encaminhando-me justamente para o ponto que me fora programado pelos benfeitores, pois me pus em rota de colisão contra os cérebros melhor dotados que já perpassaram pelo planeta.

Enquanto ia assimilando, na adolescência, os conceitos e fundamentando-me nas teorias, para a formação acadêmica imprescindível, pude observar as tendências do pensamento humano universal, a ponto de concluir quais as que eram factíveis de comprovação metafísica e quais eram simplesmente produtos de lucubrações imaginativas.

Pela amostragem descritiva, podem os amigos inferir que iria, fatalmente, ter de demonstrar coragem espiritual para o enfrentamento das dúvidas levantadas a partir dos posicionamentos filosóficos conflitantes. Não foi outra a minha condição existencial, a partir do momento em que me dei com a testa no primeiro monólito consistente da filosofia ocidental.

Dada a arrogância que portara incólume das trevas, fui arrebatando-me nas argumentações mais sutis de quem buscava a verdade pela razão, enquanto eu me deliciava, simplesmente, em argumentar, como deleite intelectual superior.

Em suma, para não adentrar nos problemas específicos das querelas filosóficas, devo dizer que a vida se me encheu de percalços terríveis, como a perda de vários parentes que me davam sustentação emocional, precisando reorganizar, a cada vez, os tópicos através dos quais me mantinha lúcido para a luta contra as diretrizes mentais que havia estabelecido.

O que começara como sutilezas argumentativas passou a constituir-se no subsídio indispensável para a manutenção do equilíbrio psíquico, tendo de me esforçar superiormente para aceitar o destino que se mostrava cada vez mais rijo, mais severo, mais penoso. Era roteiro de dificuldade extrema, bem ao nível das ponderações a que me levara a presunção de ser melhor que os outros.

Durante o sono, tendo em vista a correlação entre os defeitos e a necessidade de aprimoramento moral, era esclarecido dos problemas que se conjugavam nos fatos que não parava de enfrentar. Punham-me em estado de lúcido adormecimento, como se tudo o que me passava pela mente se realizasse segundo as normas que eu havia estabelecido para a realização de meus argumentos, impedindo-me de refutação, uma vez que o artifício de que se utilizavam me remetia a ponderações pessoais, como se tudo não passasse de criação mental.

As sutilezas retóricas de que me orgulhava foram voltadas contra mim mesmo, de forma que, em vigília, me lembrasse com perfeição das ocorrências mentais, como se fossem o resultado de intuições proporcionadas ao consciente pelas circunvoluções cerebrais do chamado id, ou, como atualmente se prefere, do inconsciente profundo, aquela parte da personalidade sobre a qual não se tem qualquer controle através da vontade.

Não preciso dizer que houve revolta, houve resignação, houve, enfim, compenetração da necessidade de se equilibrarem os argumentos em sistema coeso, para que pudesse justificar a dor no mundo.

Volvi ao etéreo absolutamente desguarnecido no campo das pretensas conclusões definitivas, pois muito do que elaborei não se coadunava com a realidade. Mas fui soerguido, pois obtive a vantagem de não me rebelar contra a eventualidade de me ser demonstrado que estava equivocado, o que deveras ocorreu, não tendo demorado muito para aplicar todos os recursos intelectuais, no sentido de ir assimilando os temas que me eram colocados como prioritários. Estava em classe de primeiros estudos, mas avançava celeremente, deixando por conta da razão o aproveitamento de todas as informações.

Surpreendi-me muitas vezes de ter desleixado os aspectos religiosos, pois, por me considerar melhor constituído mentalmente, deixei a religião para os fracos e negligentes, como se não houvesse necessidade de forte aplicação intelectual, para a compreensão das diretrizes que se imprimiram em todas as concepções religiosas, em função da percepção do que possa ser a verdade, a partir dos parcos recursos que se concentram nas mãos dos encarnados.

Revigorei-me para o serviço e hoje estou buscando formar-me socorrista, com a graça de Deus.

Fiquem em paz!















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AS QUESTÕES FILOSÓFICAS











Não devem os amigos ficar preocupados com as apreciações de alguns componentes do grupo, que se manifestam com propriedade e se declaram estudiosos deste ou daquele assunto, como foi o caso do mestre em filosofia (ver mensagem anterior). Não estamos interessados em discussões sutis do pensamento humano, mas vamos levando os temas adiante, conforme estruturação programática definida pelos mentores. Assim, caso nos vejamos na necessidade de tocar em aspectos concernentes à ciência, à religião, à moral, à história, aos estudos específicos de algum ramo do conhecimento humano, em suma, iremos fazê-lo apoiados nos informações espíritas, já que não temos luz suficiente para avançar no desvelamento das realidades encobertas para o saber da Terra.

De tudo, extrairemos, primordialmente, as conclusões diretamente relacionadas à salvação da alma para o reino de Deus, mas não de maneira completa, como se fosse possível aos homens despedirem-se da matéria para ingressarem na angelitude. O encaminhamento, porém, temos por obrigação facilitar, para o que estamos desenvolvendo estas pregações de moralidade evangélica, sob a orientação das necessidades mais gerais do proceder atual.

Se tivermos de arrancar a máscara da face dos que se escondem para a realização de atos contrários às virtudes propugnadas por Jesus e confirmadas pelo Espiritismo, iremos fazê-lo com todo o cuidado, sem corrermos o risco de cair nos defeitos que estivermos apontando, embora não possamos afirmar categoricamente que tenhamos méritos suficientes para a tarefa a que estamos propondo-nos. É isso que nos caracteriza como aluninhos da instituição, e não como professores.

Após tal preâmbulo, será justo esperar que tenhamos em mente alguma questão filosófica de transcendental importância, para conseguir-se o apogeu possível do espírito, nesta viagem forçada pela densidade material? Cremos que não, a não ser que se queira que repitamos todos os textos anteriores, na ânsia de se verem comentados os temas, segundo enfoque que privilegie as idéias dos encarnados, que não se sentem à vontade para o abandono das mazelas e dos maus hábitos. Mas isso não iremos fazer, impedidos que estamos pelos superiores compromissos de quem jurou obediência aos princípios e mandamentos evangélicos.















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O GATO E O RATO











Exemplo vívido da luta perenal que se estabeleceu na natureza é a universal perseguição que os ratos aturam, por todos os tempos, especialmente dos arquitradicionais inimigos, os gatos.

É justo estabelecer-se o princípio como natural e daí estendê-lo para todas as criaturas? Ou melhor: é plausível buscar, no fundo inconsciente dos homens, a mesma tendência de caçador que justifica as ações dos felinos? Melhor ainda: seria procedente inferir do exemplo do gato que os seres humanos têm o direito instintivo de exercer domínio sobre as demais criaturas, inclusive no que tange a humanos considerados inferiores por algum critério excludente, como no caso dos negros escravizados ou discriminados pelos brancos?

Pela exemplificação, já se pode perceber que estamos levando os amigos a ponto de vista enaltecedor das similitudes de caráter divino, para a configuração da necessidade do amor incondicional a todas as criaturas, sem qualquer distinção.

Se existem necessidades completamente inadiáveis, como as da alimentação, a exigirem a morte como forma de retribuição pela vida que se mantém, também é certo que há sentimentos e que há inteligência; os primeiros a delimitarem a extensão da hecatombe; a última a proporcionar os elementos através de que iremos condicionar as necessidades ao mínimo de sacrifícios, para que não haja devastação junto às progênies, buscando-se, ao contrário, facilitar o ingresso na esfera carnal do maior número possível de espíritos, procedam eles de qualquer parte, para a oferta maior da possibilidade de progresso.

Se desenvolvermos o raciocínio que faculta ao gato estraçalhar o rato, generalizando o instinto, poderemos contar como certo que o homem se desumanizará, pois estará readquirindo os pendores da época em que vagava pela crosta, sem consciência da individualidade.

Este raciocínio nos propiciará desenvolvimento inédito, qual seja o de que os humanos estão elementarmente sendo conduzidos para a superação dos últimos aspectos de animalidade, através de conscientização primitiva, o que significa que estamos muito mais próximos do ponto de origem do que do ponto de chegada, ou seja, a perfeição dos humanos enquanto seres totalmente evangelizados.

Isto é mau ou bom? Nada disso: é só a constatação de que estamos caminhando em linha evolutiva, conforme a promessa de Jesus, que nos assegurou que, um dia, viremos a estar com ele no reino do Senhor.

Não queiramos ser gatos nem nos contentemos com a condição de ratos. Sejamos seres humanos integrais.















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O DIA DE HOJE











Se nos ensejarmos oportunidade de avaliação do dia de hoje, em cotejo com todos os anteriores, dar-nos-emos condições de programar o amanhã. E isto indefinidamente, porque o hoje é só o que importa, verdadeiramente, momento sublime de concretização da eternidade, se nos desvincularmos completamente das idéias, das paixões, das necessidades, concentrando-nos na sensação absorvente da plenitude existencial.

Eis severa questão filosófica, que extrai o pensador do contexto vital, para arremessá-lo, integralmente, nas ações superiores da condição essencial de espírito.

Mas o retorno ao circunstancial se dá dentro de pouco tempo, pois existe o íntimo temor do desmembramento da personalidade, terminando por quedar o indivíduo preso a um único fator, o que redundaria em fundamental desequilíbrio, vindo a perder a razão do viver, dado que a quintessência existencial não se coaduna com a realidade carnal.

Se nos transportássemos para zonas tão subjetivas da contextura energética primária, em confrontação acintosa de todos os valores de que nos deixamos impregnar, enquanto seres gregários, poderíamos ter experiências fundamentais para a compreensão da verdade da criação, o que responderia eficientemente às questões do quem?, do de onde? e do para onde? Não responderíamos, por certo, à pergunta por quê?, pois ali não se encontra a explicação das causas, que só o Pai irá esclarecer, mas iríamos proporcionar-nos a satisfação de nos sentirmos um pouco mais próximos da essência divina da natureza.

Terá o dia de hoje o condão desse despertar? Sim, se levarmos a sério esta leitura, caso não estejamos pontos à frente nas considerações a que aludimos nos desenvolvimentos do dia (desde As questões filosóficas). Se esta última hipótese for verdadeira, queiram perdoar-nos o atrevimento de termos considerado possível levar a todos os encarnados exercícios filosóficos aproveitáveis. Mas sempre será possível confirmar as intuições e as ações correlatas, de forma que algum benefício se poderá extrair desta mensagem.

Caso tenhamos feito os amigos perderem precioso tempo, lembrem-se de que o dia de amanhã reproduzirá, em essência, exatamente as características do de hoje, embora, para o humano devir, o grau de experiências terá recebido o incremento de mais algumas ações, a forçar transformações muito sutis em todos os setores da vida. Não deixemos, pois, passar as oportunidades de aperfeiçoamento, forçando até a natureza adaptável da conformação orgânico-cerebral, para, sem ferir os princípios da fraternidade e da solidariedade, participarmos do vertiginoso vórtice existencial.

Apelemos para os amigos da espiritualidade, se não formos capazes de decifrar estas misteriosas recomendações, mas não nos percamos em fastidiosas posturas intelecto-emotivas. O que estamos propondo é algo muito mais importante: que se transforme o dia de hoje na ante-sala da eternidade, pela anulação real de todos os anseios acidentais. Será muito difícil para a maioria, mas saibam que haverá de chegar o momento da compreensão integral destes dizeres, quando nos lembraremos de ter respeitado a leitura, apesar de nos parecer extremamente perigosa, tendo em vista os roteiros de vida que elegemos.

Façamo-nos fortes para a visitação aos campos eternos do Senhor!















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MORTES FÍSICAS











É elementar, para os filiados ao movimento espírita, a teoria da reencarnação, o que induz a concluir que haverá tantos desprendimentos físicos quantas forem as encarnações.

Mas nós não estamos interessados em proclamar os efeitos desses abandonos de carcaças, para o progresso do espírito. Para cada existência na Terra, haverá sutis julgamentos conscienciais, que declararão, peremptoriamente, quais os atributos desenvolvidos e quais os que permaneceram inalteráveis. Isto é do senso comum de quantos se habituaram a ouvir as pregações doutrinárias do Espiritismo.

O que desejamos adiantar no estudo dos despojamentos físicos é que a natureza do segundo corpo, aquele a que se resolveu chamar de perispírito, também é material, não da essência da matéria como a vivenciamos neste orbe e que somos levados a crer que fundamente todo o Universo tangível para os sentidos, mas com outro teor energético a compor os tecidos, conforme a designação consagrada de ectoplasma, que seria a energia condensada dos fluidos cósmicos em que está imerso o espírito desencarnado, interpenetrada de elementos desconhecidos da contextura física deste campo magnético em que perambulam os corpos vivos.

Pois bem, se, para além desta matéria, somos forçados a prever a existência de outra; por generalização de conceitos, também podemos inferir que existe a possibilidade de que, ao nos desvestirmos do perispírito, tomaremos outra vestimenta, conforme a natureza da esfera seguinte em que ingressarmos.

Se, para o contexto terrestre, afirmamos que o perispírito permanece como envoltório sutil do espírito encarnado, também podemos configurar que o mesmo espírito, em outras condições existenciais, poderá manter esse duplo envoltório: um mais sutil e outro mais denso, conforme, evidentemente, o nível de seu adiantamento evangélico (se não for sacrilégio utilizarmo-nos de tal termo para caracterizar o grau evolutivo dos seres), próprio da esfera em questão.

Assim, se há degenerescência material, também pode haver sublimação ou aperfeiçoamento, conforme as características ambientais dos círculos existenciais. Dessa forma, nem sempre o perispírito (ou o nome que se der ao envoltório espiritual) irá desfazer-se, como no caso do corpo dos humanos, mas poderá vir a ser purificado pelas ações beneméritas, de sorte que, no avanço evolutivo para esferas mais adiantadas, a troca da vestimenta fluídica poderá verificar-se sem traumas, quando se der o completo desenvolvimento de todas as supernas virtudes a adquirirem-se naquele ambiente.

Nesse caso, não parecerá a morte física, suprema glória, apogeu possível para aquele estágio?

Eis o ponto filosófico mais puro a que desejamos conduzir os amigos, através das questões que vimos desenvolvendo ao longo destas páginas: a consideração da morte como simples passagem para outra realidade, que poderá ser melhor ou pior, conforme o desempenho moral de cada criatura.

Caberia a indefectível perquirição do julgamento dos confrades relativamente ao tema levantado e ao modo de desenvolvê-lo? Pois que cada qual perscrute a mente, para saber em que elementos essenciais de suas concepções estes dizeres têm tocado.















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LIGEIRAS APRECIAÇÕES











Quando perpassei pela carne, na última romagem, não me considerei muito inteligente para as apreciações filosóficas a respeito da existência. Admirava a imensidão dos oceanos mas não tinha capacidade para conceber a grandiosidade do universo. Via as estrelas e, por mais me dissessem o quão longe se situavam, não conseguia definir tais grandezas.

Eis que os eventos físicos muito tiveram que ver com o teor de minhas abstrações, transferindo, para o campo filosófico, moral, religioso e até cultural e científico, as limitações conceptivas do intelecto. Em suma, julgava meu cérebro desprovido de recursos para a compreensão das teorias, preferindo manter-me ativo no mundo dos relacionamentos fáceis patrocinados pelo suceder das ocorrências sociais e profissionais. Tornei-me indivíduo prático, para quem tudo deveria ter peso, medida e local em que se situar.

Quando pensava em Deus, julgava-me extremamente pequenino diante da magnificência dos conceitos de eternidade, perfeição e indivisibilidade, e não me atrevia a deslocar os pensamentos para a configuração da existência do Criador como causa primária de tudo. O meu Deus (permitam-me a maiúscula) convivia comigo no dia-a-dia, patrocinando-me os ganhos com que sustentava o lar ou aplicava para a renda bancária, para futura aquisição de bens, conspícuo que era no emprego mais rentável das economias.

Reconheçam que os dizeres demonstram que me encontro bastante diferente daquele ser mesquinho e arguto em seu próprio menoscabo, tendo em vista a realização deste texto, eivado de apreciações muito mais do que ligeiras, conforme acusei no título.

Realmente, ao volver ao plano da espiritualidade, recobrei os sentidos perispirituais, restabelecendo os padrões intelectuais predominantes na personalidade. É que me havia imposto a condição da obtusidade, para facilitar o desenvolvimento das nobres qualidades que me faltavam, relacionadas, principalmente, aos compromissos familiares.

Se me tivesse mantido íntegro, com todos os atributos em atividade, certamente iria sentir comichões de realizações mais amplas, relegando a segundo plano as atenções que deveria prestar à família, na condução dos carmas, em consonância com as programações estabelecidas em conjunto. Submeti-me a restrições severas, mas tive a felicidade de não ter ofendido os princípios evangélicos essenciais do amor, da caridade e da harmonia vital com a natureza.

Se não era inteligente para compreender os ideais cósmicos, isso foi graça a ser considerada como o dedo de Deus a orientar-me nas sendas evolutivas. Contudo, devo dizer que o reingresso, nesta atmosfera espiritual em que atuo, não se deu sem sofrimento, pois vilipendiei demais os recursos disponíveis, não aceitando os desafios da compreensão, desprestigiando os estudos, menosprezando a sabedoria, perdendo oportunidades valiosíssimas para restabelecer os elementos enfraquecidos, uma vez que bem poderia, à vista das dificuldades, ter desenvolvido fortes tendências para a suplantação dos ingredientes vitais em níveis de inferioridade. Se posso ser considerado um lutador, em determinados setores da peregrinação, o mesmo não posso dizer de mim como personalidade integral, já que me pretendia superiormente dotado nessa virtude.

Sofri nas mãos de alguns obsessores, que me acusavam de usurpador de seus bens, pela minha sovinice íntima. Mas logo fui apartado deles, assim que tomei consciência de que havia protegido os meus com profunda dedicação. Pedi-lhes e peço-lhes insistentes desculpas, mas nem por isso carrego a culpa desses desvios de conduta não essenciais. Preparo-me, agora, para enfrentar novas lutas, pretendendo adquirir condições de resgate dos débitos adquiridos.

Que Deus nos proteja a todos!















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O TEOR DO TEXTO EVANGÉLICO











Até bem pouco tempo atrás, possuíam os humanos integral respeito pelos dizeres consignados nos Evangelhos. Entretanto, dado que o materialismo ganhou vulto no pensamento das civilizações mais modernas, principalmente pela ânsia em se ter e em se manter a riqueza terrena, as palavras da boa nova de Jesus vão sendo desprestigiadas, como utópicas, impossíveis de serem concretizadas no campo dos relacionamentos. Quando muito, alguns seres mais cordatos com a divina justiça, pois acatam as distinções que os carmas determinam, ficam a reverenciar os conselhos e ensinamentos que lá se consignam, por se encontrarem perante o mistério de além-túmulo.

Apesar de tudo, a Bíblia tem resistido ao tempo e, conquanto não lida como gostaríamos, vai sendo reeditada, principalmente pelos evangélicos, que pretendem ver nesses escritos a palavra de Deus, mesmo quando enuncia a necessidade dos morticínios e do cumprimento dos sacrifícios cruentos. Não vamos ficar comentando a receptividade dos textos mas a atualidade, pois, se estivéssemos interessados em achar o anúncio da chegado do final dos tempos, verificaríamos que a sociedade se presta fundamentalmente para que se cumpram as predições dos cataclismas e da ruína completa das civilizações, quer pela destruição provocada pela ciência corrompida pela política, através dos dispositivos nucleares, quer pela ignorância unida à ganância da propriedade, através dos desmatamentos e demais formas de poluição ambiental.

Por que estamos fazendo valer a única constituição de direitos morais, em função da salvação do planeta?

Em primeiro lugar, porque nos cabe, na qualidade de socorristas em potencial, preservar a dignidade espiritual dos companheiros encarnados, lutando para que permaneçam íntegros, perante a responsabilização que se fará dos que forem acusados da catástrofe derradeira.

Depois, haveremos de convir em que o ambiente terrestre é o mais adequado para que nos reencarnemos, já que está preparado, por milênios de esforços de mui dignos trabalhadores da espiritualidade, justamente para que o nosso perfil espiritual possa encontrar condições de desenvolvimento, por meio das batalhas que se travam nesse campo de expiação e de provas, de dores, mas também de alegrias, de derrotas amaríssimas, como ainda de vitórias definitivas.

Seríamos profundamente egoístas, contudo, se pensássemos só em nós. A salvação da Terra será essencial para inúmeros outros seres em ascensão evolutiva, que se vestem ainda de formas rústicas, na caminhada constante rumo à angelitude. Estamos referindo-nos aos animais, criaturas de Deus, que seriam impedidos de prosseguir nas conquistas evolutivas, conforme ampla e inteligente programação que se lhes fez.

Caso os amigos tenham lido outros textos desta Escolinha, devem ter topado com a explicação de que haverá recursos adicionais para se suplantar a dificuldade da destruição total do ambiente de vida deste planeta. Assim, podem argüir-nos de ignorantes, já que a bondade do Pai é infinita e nós estamos a lamentar a perda de simples corpo celeste, quando existem quatrilhões deles pelo espaço sideral, centenas de milhares a se despedaçarem a cada hora.

Tudo isto é muito certo, mas quem se lembrou dos textos a que aludimos, também deverá lembrar-se dos argumentos utilizados para a preservação da vida, conforme a entendemos para este orbe, pois o cosmopolitismo humano favorece inúmeras condições de aplicação cármica, em função de cada dificuldade a ser sanada.

Evitemos, com todas as forças, que a Terra se deteriore ainda mais e cuidemos de educar os parceiros de existência para a compreensão de que os problemas só tenderão a aumentar, se persistirmos no caminho da perda dos elementos essenciais para a manutenção da vida.

Se tivermos a pachorra de volver à leitura dos textos sagrados, iremos encontrar todas as razões para seguirmos ao Cristo em suas exortações, vendo, em cada carinhosa ação de proteção do ambiente, gesto iniludivelmente caritativo, de verdadeiro amor pela humanidade, a refletir, não a ânsia da sobrevivência na Terra, em gozo de todas as vantagens de quem se delicia no poder e na satisfação do querer, mas o amor a Deus, no respeito à criação.

Não estarão tais recomendações impressas nos textos evangélicos? Pois, então?!...















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UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL











Sombrias são as perspectivas de quem vem lembrar aos mortais a catástrofe final do orbe, tendo em vista as trágicas palavras com que se anunciam os horrores da destruição pelo fogo.

Não obstante, muitas gerações de encarnados passaram desde que Jesus prometeu que haveria o julgamento final para a repartição dos bons e dos maus, sem que o mundo se tenha desintegrado ou perdido a condição ambiental favorável à vida. Não poderíamos considerar que, a cada morte, tenha a criatura perpassado pelo final dos seus tempos?

Sabemos que tal interpretação é livre e, talvez, ousada demais, porque estamos deslocando as palavras ditas por Jesus e reproduzidas pelos evangelistas, para contexto bem diferente, pois não seria justo acreditar que os sublimes escritores não seriam capazes de tal exegese, se fosse realmente essa a intenção dos dizeres.

Sendo assim, perdoem-nos estarmos digressionando aleatoriamente, para forçar a concepção de que os tempos são chegados, foram chegados e continuarão a ser, enquanto houver civilização humana organizada, o que, presumimos, irá ocorrer enquanto a inteligência for capaz de prevalecer sobre a ignorância, ressalvados os casos apontados na dissertação anterior.

Mas os textos sagrados dos evangelistas não estão isentos de imperfeições, tanto foram escritos por seres mortais, por mais inspirados possam ter sido. Por isso, será necessário considerá-los com cautela, conforme a tradição eclesiástica cristã determina, pois não houve um só grande comentarista que não tenha organizado as idéias, segundo conclusões pessoais, a partir das informações que ali se contêm, para que se pudessem ajustar os temas à visão histórica e social, conforme o perpassar do tempo ia determinando.

Dessa forma, é possível que nos aproveitemos das recomendações e ensinos superiores, sem nos deixarmos envolver pelas crendices e demais argumentos do maravilhoso literário, mais adequado para assustar a multidão ignara ou para incrementar a obediência. Sejamos sensatos, da sensatez kardequiana, e leiamos os Evangelhos, através das explicações fundamentadas nas explanações dos espíritos superiores que assistiam ao Codificador. Eis que aí se acenderá, certamente, linda luz de esperança, no fundo daquele túnel de angústia, que as predições catastróficas ajudam a entenebrecer.

Saiamos da vida com a sensação de que haveremos de começar existência nova no etéreo, mais avançada e mais lúcida do que a que desenvolvíamos anteriormente ao encarne. Para tal, ajamos, sem cessar, em consonância com os ditames evangélicos, equilibradamente, confiantemente, com segurança e sob o amparo dos protetores e benfeitores espirituais. Que Deus nos abençoe nas iniciativas de benemerência e nos ilumine nas deliberações intelectuais, para que mantenhamos acesa a nossa pequenina chama de sabedoria!















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A BOLA DE CRISTAL











Quando nos sentirmos cansados de escalar estas montanhas argumentativas, procuremos olhar para o horizonte mais distante, na crença de que algo de bom iremos aproveitar com esta dedicação ao trabalho, especialmente se estivermos objetivando superar certas dificuldades de natureza existencial, ainda não inteiramente afetados pelas exortações espíritas.

Seria preciso que tivéssemos mágica bola de cristal, dessas que os ledores da buena-dicha utilizam para a visualização dos eventos futuros, que se delineiam a partir das informações do passado e das tendências psíquicas dos consulentes, para que indicássemos os melhores caminhos para cada qual, segundo as necessidades pessoais. Mas não temos o dom da adivinhação, tanto que estamos esforçando-nos ao máximo para tornar as mensagens o mais diversificadas possível, para ver se conseguimos alcançar os desejos de maior número de leitores.

Temas por demais abrangentes, contudo, devem ficar a cargo dos moralistas do mundo, que costumam discursar para a Humanidade, como se todas as pessoas se posicionassem de forma a merecer tais reprimendas e orientações. Para nós, o respeito às individualidades deve exercer-se em cada ponto desenvolvido, para que a obra psicográfica tenha real valor de programação cármica. Se pudéssemos, faríamos com que os protetores de cada um assumissem este posto e anunciassem o nome daqueles pupilos especiais, para a manifestação específica, de coração para coração, envolvida sentimental e intelectualmente, de forma a propiciar o conforto moral e o consolo das aflições, de acordo com os problemas individuais, sempre tão importantes para as considerações dos que se estão formando neste curso de socorristas.

Muitos deverão estar interrogando-se sobre a razão desta apreciação íntima das preocupações dos mensageiros, particularmente porque a denúncia da situação não afetará os relacionamentos entre os planos, tendo em vista que, após a elaboração deste texto, tudo quedará exatamente como antes, sem que nada se possa avançar no sentido da resolução dos problemas pessoais.

De acordo. Mas pensamos que, se a reflexão dos amigos puder voltar-se para a necessidade de maior abertura espiritual, para o contacto com os beneméritos protetores, talvez consigamos que se decidam ao comparecimento aos centros kardecistas, para a competente matrícula nos cursos de médiuns, não tanto para o desenvolvimento dos aspectos relativos ao apanhado das mensagens, junto às mesas de atendimento evangélico dos necessitados encaminhados pelos doutrinadores, mas para a percepção das intuições, como roteiros infiltrados pelos benfeitores espirituais, sempre com os procedimentos de segurança estabelecidos por Kardec, para que não haja qualquer possibilidade de se cair nos domínios dos obsessores.

Se tivéssemos aquela bola de cristal, iríamos predizer o futuro de cada um, pois acreditamos que quem se dignou palmilhar conosco temas tão áridos irá obter as recompensas que se dão aos que fazem sacrifícios em prol da humanidade. Perdoem-nos a facécia e queiram aceitar o abraço amigo de quem, incessantemente, pede ao Pai mais luz, para a divulgação dos ensinamentos evangélicos, em nome de Jesus.















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OURO PURO











Muitas vezes, encontramos crianças que são verdadeiras jóias abençoadas por Deus. São seres angelicais, que nos estimulam para a simpatia, tão amoráveis se demonstram em relação a todos e a tudo. Entretanto, ao crescerem tomam outras feições morais, deixando na saudade aquelas criaturinhas meigas e gentis, que nos extasiavam e nos faziam verdadeiramente felizes.

Será que aqueles seres vieram predestinados a passageira conformação com todos os rigores do encarne, para nos possibilitarem a visão da bondade e da cordialidade concretizada em atos, em sorriso de confiança nas pessoas e na vida? Ou será que apenas tiveram momento de extraordinária felicidade, a ponto de facultarem aos circunstantes que se apropriassem de alguns laivos de profundo amor, para a configuração da simpatia que deveria testar-se mais tarde?

Eis que estamos colocando o problema ao inverso, pois o que se espera dos indivíduos é que se aperfeiçoem, isto é, que principiem menos completos, para irem adquirindo, com as experiências, as virtudes em falta ou, pelo menos, que desenvolvam as qualidades em potencial, de forma a se tornarem pessoas agradáveis, ao final da existência.

Aí a experiência nos aponta de novo no mesmo sentido, pois muitos dos velhos com quem convivemos se tornam ranzinzas, exigentes, impertinentes, incapazes de compreender as nossas imperfeições, a ponto de se constituírem em pesos mortos, que devemos carregar até que exalem o último suspiro.

Criaturas argutas estão a se perguntar se não estaria aí mais um teste, pois, em qualquer dos casos, os seres com quem convivemos se tornam espinhos a nos ferir a delicadeza da epiderme consciencial.

Todavia, o que deveremos fazer é aproveitarmo-nos ao máximo dos momentos de pura harmonia com as pessoas, fazendo com que frutifiquem, através da consubstanciação em nós das qualidades supremas da vitalidade, expandida em ações de profundo respeito pelas criaturas, o que, em palavra mais comum, traduziríamos por amor. Se os que nos rodeiam, um dia, demonstrarem corações de puro ouro, valiosíssimos na cotação universal das benemerências superiores, apreendamos tais vivências nos escrínios da memória, para utilização oportuna, em favor da felicidade alheia, na mesma proporção com que nos tivermos deleitado com presenças tão sugestivas da perfeição.

Façamos por sustentar em nós as impressões mais importantes do que chamaríamos de visão do paraíso, para que possamos manter repositório formosíssimo de eventos de caráter evangélico, como se banhados tivéssemos sido pelas graças do Senhor. Saibamos reconhecer, em cada instante de supremo êxtase, um pouquinho da divina misericórdia, que teremos, um dia, integral roteiro para apresentar a todos os que estiverem sob os nossos cuidados.

Principiemos, se assim lhes parecer melhor, por contar histórias cheias de peripécias felizes para os pequenos, para dar-lhes da vida a idéia de que sempre será possível alcançar picos de realizações muito próximos dos páramos celestiais, na confirmação de que Deus é pai de misericórdia, que a todos agasalhará no Reino das Eternas Alegrias. Ser otimista, afinal de contas, não será nada mais do que externar o verdadeiro amor a Deus, sobre todas as coisas. É ouro puro!















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PEQUEI, SENHOR!











Costumamos, na vida diária, deixar passar certas falhas, sem perceber que provêm diretamente de más formações de caráter. Diante dos companheiros, muitas vezes, até damos como sem importância tais desvios de conduta, fazendo-nos de desentendidos quanto ao seu valor moral. Isto em sociedade.

Teríamos a mesma desenvoltura de comportamento diante do Pai, ou somos obrigados a reconhecer que agimos de modo não inteiramente justo, procedendo em desarmonia com as leis evangélicas, agredindo, de alguma forma, os semelhantes?

Diante do Pai, não há fugir da confissão mais sincera, mesmo que se tenha como supremo e absoluto apanágio do Criador sua infinita capacidade de perdoar e de compreender. Diante do Pai:

— Pequei, Senhor...

Freqüentemente, na peregrinação pelo orbe, ajoelhei-me perante o altar das igrejas católicas, para, batendo discretamente com o pulso sobre o peito, reconhecer que estivera errado, ao insistir em cometer certos erros reconhecidos pela Igreja como ofensivos às leis de Deus e aos ensinamentos da Santa Madre.

Entre parênteses, devo dizer que não resisto ao desejo de citar a fórmula empregada pelos sacerdotes, no intuito de revelar deslize de caráter fundamental, na presunção deles de que fora da igreja não há salvação. Contudo, eu o fiz para o alerta que se seguiu e não para, sorrateiramente, lançar irônico sorriso contra essa instituição, que, se se tem comprometido, às vezes, com as trevas, tem também oferecido contribuições de respeito para a concretização da obra de Jesus. O tempo nos dirá se estamos errados em afirmar que a evolução existirá também para os serviços por ela prestados ao rebanho do Senhor.

Mas eu voltava a cometer as mesmas impropriedades de conduta moral, de forma que a consciência foi acusando-me cada vez mais intensamente, chegando a ponto insuportável, quando precisei reconsiderar a postura perante o Pai, para dizer-lhe, finalmente, com o coração na mão:

— Pequei, Senhor...

Não tem sido exatamente esse o posicionamento de alguns amigos, diante da facilidade com que se saem das encrencas perante os companheiros e familiares? Não tem sido com alguma malícia, na esperança de nos safar às pressões íntimas, que voltamos a prometer limpar o coração das más intenções, crentes de que Deus já nos perdoou e compreendeu, esperando que terminemos os dias, para oferecer-nos as recompensas sublimes da bem-aventurança, ao seu lado, na eternidade?

É preciso cuidado com a tranqüilidade falsa ou hipócrita que adquirimos, pois Deus, além de pai de misericórdia e absoluto no perdão, também age com suprema justiça, distribuindo a cada qual a felicidade, conforme as obras. Ou não terá sido assim que Jesus nos prometeu? Então...



— Pequei, Senhor, mas terá sido, pela minha vontade, a última vez. Caso deva retornar para esta mesma prece de arrependimento, lembrai-vos de que não nos destes os atributos da perfeição, mas os sentimentos dela, de forma que nos possibilitastes saber que devemos regenerar-nos, para alcançar graça perante vós. Que saiba eu robustecer a decisão de não reincidir no erro, para, cada vez mais tenuamente, receber as acusações conscienciais, na expectativa de estar melhorando a cada nova experiência. Que seja esta prece a minha suprema homenagem e o meu mais pungente estremecimento de amor perante vós, pois estou convicto de que nos criastes para a felicidade. Assim seja.















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AS SACRATÍSSIMAS BÊNÇÃOS DO SENHOR











Aproximando-se o final das transmissões, temos de esclarecer essencial ponto das perorações, as quais se fazem a partir das aulas dos irmãozinhos mentores. Trata-se da faculdade de Deus, ser de infinitos poderes, enviar às criaturas, de sua excelsitude, as bênçãos de benemerência, para refrigério dos que se debatem nas dores atrozes das culpas, que tudo das culpas provém.

Muitos encarnados, pelos atributos de superioridade absoluta que depositam na concepção do Pai, temem que o fator da eternidade não possa coadunar-se com o que existe de perecível nos elementos factuais que determinaram esta conjuntura existencial. Dão como acidental, secundário, efêmero, tudo o que se constituiu na obra de Deus, como se as criaturas e tudo o mais que compõe o Universo devessem, um dia, simplesmente, desaparecer.

Aí deveremos perguntar se os seres têm o condão de se destruírem completamente, desfazendo-se de maneira absoluta a obra do Senhor. Não será mais apropriado dizer que caberá ao Pai determinar que fim terá a criação? Pois então? Se a deliberação do Pai receber os mesmos atributos que lhe damos para a contextura existencial, certamente toda a criação, tal como o Criador, deverá ser eterna, podendo desaparecer as formas que adquire, porque, essas sim, são casuais, dependendo da conjugação dos fatores da composição. Mas as leis são eternas, de modo que até mesmo poderemos supor que haja a possibilidade de duplo ou triplo ou infinito volver à primitiva organização.

É só compreendermos que é temporário o ingresso na carne, para saber que as bênçãos do Pai deverão atingir-nos eternamente, através de todas as transformações, até o ponto superior da angelitude, e mais além, onde o mistério habita para nós, mas que ousamos imaginar que seja a ventura maior da reintegração da criatura no Criador, supremo instante da realização do amor maior do Pai por nós e do nosso por ele.

Só nos basta pensar em tal futuro de esplendor e de glória absoluta, para compreendermos que estamos recebendo, o tempo todo, as sacratíssimas bênçãos do Senhor.















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PALAVRAS DE OTIMISMO











Julgam os companheiros que a Terra é orbe de tanta dor e de tanto desespero, que se torna até acintoso vir com palavras de consolação e de otimismo, quando os encarnados vivem com tantas aflições, debaixo de expectativas muito sombrias, principalmente quando se vêem arremessados na miséria mais triste ou quando as desgraças se prenunciam com clareza para seus espíritos argutos. Claro está que estamos trazendo algumas desculpas para os que não conseguem achar nesgas de céu azul em meio às tormentosas nuvens, temerosos dos raios e das inundações.

Mas há quem tenha dominado os conceitos doutrinais do Espiritismo, de sorte que possuem clara visão do dia translúcido junto aos que partiram, tendo realizado experiências evangélicas com extraordinário sucesso, fazendo jus ao aconchego dos orientadores, em especialíssimos aposentos das instituições de superior benemerência, onde assistem os administradores siderais responsáveis por este setor galáctico.

Se adquirirmos a mesma certeza de que os trabalhos e os estudos deverão trazer-nos ao sagrado recanto iluminado pelas palavras de Jesus, só poderemos concluir que o homem seguirá os caminhos ascendentes nas peregrinações, até que se concretizem os anseios impressos na alma pelo desejo do bem, conforme lhe dita a consciência.

Somente quem nega a possibilidade de melhoria, inconscientemente formulando as idéias de degenerescência fomentadas pelos experimentos carnais, é que não aceita a tese de que iremos viver da melhor maneira, no melhor dos mundos, através do progresso cármico irrefreável, mesmo que não seja a Terra o local a que estejamos fazendo referência. "A casa de meu Pai", disse-nos o Mestre, "tem muitas moradas."

Mas, se as palavras de otimismo se justificam perante o evangelho, não é bem assim que devemos considerá-las, diante das ações e reações que presenciamos na sociedade terrena. Aqui o mal viceja, apontando, irremediavelmente, para as cobranças inexoráveis dos débitos que se vão adquirindo, pois muitos tomam emprestado da natureza os bens que não devolvem na forma de ações meritórias em favor dos semelhantes, os quais, freqüentemente, se vêem totalmente desamparados, em virtude da ganância dos irmãos. Se pensarmos, portanto, no aqui e no agora, talvez fiquemos muito inferiorizados, incapazes de compreensão das palavras que estabelecem, como princípio, as virtudes essenciais da fé e da esperança, como obrigação, a prática da caridade e, como bem maior a determinar o procedimento evangélico, o amor, em todas as formas preceituadas por Jesus.

Ainda assim, mesmo que indevidamente recebidas, as palavras do mais profundo otimismo devem ser esparzidas sobre a humanidade, para que se possa auferir da vida o seu melhor.















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A EXTENSÃO DA OBRA











Quando as palavras dos irmãos da espiritualidade são por demais constrangedoras, obrigando os leitores a se definirem a respeito das ações de benemerência que deverão providenciar, tendo em vista os princípios doutrinais do Espiritismo, onde se lê o lema fora da caridade não há salvação, sentimos certa repulsa pelas manifestações, como se estivéssemos, sem propósito, interferindo nas decisões de cada qual, esquecidos de que existe a lei do livre-arbítrio, a se constituir em diretriz imperativa de todos os atos. É como se quiséssemos referendar as ações do Criador, quando estabeleceu os mandamentos como normas a serem seguidas, fora das quais não haverá crescimento espiritual favorável ao ingresso no paraíso celeste, conforme as promessas de Jesus.

Muitos gostariam de dizer-nos que sabem errar sozinhos, impedindo-se o conhecimento da humildade, da paciência, da comiseração, do perdão e da compreensão dos defeitos das demais criaturas. Nós não desejamos que as ações ou as reações dos confrades sejam perfeitas, nem teria cabimento suspeitar que assim pudessem ser, mas um mínimo de consideração pelo trabalho incansável dos grupos de espíritos que vêm esforçando-se por melhorar o nível dos contactos com os encarnados deveria nortear o pensamento daqueles que não se satisfazem, jamais, com o fato de que haja alguém com tanta precariedade espiritual a fermentar-lhes os ideais de evangelização.

Certamente, reconhecemo-nos muito pequenos perante o conhecimento possível para as mentalidades do planeta. Tal reconhecimento, contudo, ousamos dizê-lo, se deveu a muitas horas de estudo de nossa personalidade. A consciência da fragilidade de nossos recursos não decorreu da percepção de que estamos em meio consagrado aos inferiores, aos débeis, aos necessitados de amparo, mas da avaliação corajosa que empreendemos, com a ajuda dos carinhosos mestres, sempre dispostos a nos estenderem os braços, diante das hesitações e das crises depressivas.

O que queremos dizer é que muito sofremos para chegar à convicção de que temos muito que aprender, para começarmos a merecer a atenção dos encarnados, todavia, ainda assim, enfrentamos todas as adversidades, para oferecer auxílio, para tornar mais amena a áspera estrada da compenetração da realidade moral e espiritual.

Vejam que estamos fazendo referência a sofrimentos reais, dores muito profundas advindas de amargas experiências no campo do arrependimento, do remorso, da conscientização de que estávamos errados e de que precisávamos reparar as falhas de relacionamento humano. Se pudermos, com nossas palavras, minorar as angústias de alguns amigos, nessa obrigatória passagem para o campo das primeiras reais felicidades, então não deixaremos de fazê-lo, ainda que tenhamos de ser mal compreendidos.

Sendo assim, para que mantenhamos o equilíbrio da esperança com a possibilidade de desempenho de cada um, vamos afirmar, peremptórios, que a extensão da obra a realizar-se para a salvação deverá limitar-se pelo aparato psíquico, já que as diferenças individuais irão estabelecer barreiras intransponíveis. Alguns poderão, simplesmente, marcar passo, com a mesma quota de benfeitorias que dará a outros condições de progresso. Aí é que entra a necessidade do conhecimento cármico, muito difícil de realizar-se integralmente, mas factível de cimentar-se nas obras do desprendimento, da caridade e do amor.















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LIMPANDO A CONSCIÊNCIA











As pessoas que se sentem muito deprimidas, porque praticaram inúmeros atos contrários aos que estamos propugnando como os mais eficazes para a ascensão aos páramos da eterna felicidade, não devem encostar-se no muro das lamentações, para deplorar a própria fragilidade. Há reconhecimento de que somos inferiores, de que não temos tido a vontade de enfrentar as acusações da consciência, arrumando desculpas para os erros? Pois é chegado o momento do contra-ataque dos deveres evangélicos.

Se a consciência nos parecer extremamente maleável, sempre pronta para aquela palavrinha sorrateira de permissividade do erro, aproveitemo-nos desses instantes de reflexão, para solicitar da alma que assuma compromissos com a verdade, de ora por diante não aceitando mais a repetição dos eventos contraditórios, em relação aos tópicos doutrinais com que, intelectualmente, concordamos, mas que, na realidade, não aplicamos.

Se nos reconhecemos matreiros, astuciosos, cheios de malícia, prontos para operar em defesa de posturas incoerentes e inconseqüentes, formando verdadeiras muralhas, para se evitarem os ataques da moralidade superior do evangelho de Jesus, é chegada a hora de nos situarmos diante do Pai, de cara limpa, ou seja, preparados para apresentar a verdadeira face da personalidade, sem pieguismos, sem lágrimas, sem afetações de arrependimentos. Haverá tempo para ele, caso não consigamos efetivar as programações cármicas. Mas, neste momento de lucidez, baste-nos sentir a presença do Pai, na benevolência da manutenção de todos os dispositivos de suas leis, sem que a terra se nos abra debaixo dos pés, para tragar-nos definitivamente. Caso não dobremos a cerviz, mantendo-nos rigidamente egoístas, inflexíveis diante da necessidade de novas ações para a aplicação das normas evangélicas, dia virá em que todos os prenúncios das catástrofes se concretizarão, em local completamente conveniente, ou seja, o Umbral.

Percebam que, ao mesmo tempo que recomendamos a preservação do otimismo, com base na fé em que Deus nos proporcionará a salvação, e na esperança de que iremos, obrigatoriamente, perpassar por fases de crescimento espiritual, também pintamos, com cores muito negras, a condição dos que fracassam, uma vez que estamos conversando com pessoas cônscias das verdades evangélicas. Ou teremos, inutilmente, vindo pregar no deserto?

Saiamos desta vida plenos de bônus para oferecermos em troca da concretização das aspirações cármicas. Principiemos pela limpeza da consciência, mesmo que parcialmente, diante da impossibilidade de tudo compreendermos. Mantenhamos a atitude de boa vontade da receptividade dos ideais cristãos, conforme os ensinos do Espiritismo, e jamais julguemos o Senhor inabilitado para nos propiciar desenvolvermos todas as qualidades que temos perfectíveis. Saibamos caracterizar as virtudes principais, sem oferecermos resistências à efetivação em nós de qualquer delas. Procuremos ser o mais sinceros possível, que obteremos condições de usufruir as bênçãos do Senhor.

Se a consciência é quem nos vigia os atos, façamos com que se esmere em permitir-nos vida sem culpas, sem arrependimentos, sem remorsos, deixando para o dia da compenetração da realidade o forçoso cotejo das mazelas de antigamente com as ações beneméritas de agora. Quem sabe tenhamos surpresas agradabilíssimas. O que não podemos permitir é o domínio da inoperância, porque, conforme lembramos no início, nos reconheçamos seres inferiores. E quem não é, neste orbe de sofrimentos?!...

















AGRADECIMENTOS E EXPLICAÇÕES











Não temos permissão para prosseguir nestas tardes de psicografia, pois esgotamos os temas que nos foram designados pelos mentores. Por isso, estamos encerrando os trabalhos, agradecendo efusivamente a todos os companheiros pelas orientações básicas da imantação, bem como pelas diretrizes metodológicas que imprimimos aos textos.

Sem dúvida alguma, nada que produzimos teria qualquer expressão sem o concurso do amigo escrevente, a quem enviamos o abraço mais cordial, augurando-lhe muitas felicidades nas tarefas medianeiras. Fique em paz, irmãozinho!

Mas as explicações devemos dedicar aos amigos que levaram a peito realizar séria leitura deste ligeiro opúsculo, dando-lhe o melhor da atenção.

Evidentemente, não esperamos ter realizado obra de mérito, nem sequer pretendemos que as reações nos tragam surpresas de receptividade, tão a medo desenvolvemos as idéias e tão tímidas foram as proposituras, sempre situando-nos muito próximos das conceituações evangélicas, embora muito distantes de qualquer realização de vulto. A bem da verdade, este trabalho deve ser considerado o primeiro que cumprimos com integral responsabilidade, uma vez que existe a possibilidade de cair nas mãos de algum leitor real, quando o discurso esteve sempre voltado para idealizada figura de encarnado, a que jaz em nossas memórias, como fruto da criação a que demos vida, pelas vidas que perpassamos.

Em termos mais simples, nossos leitores não passam de sombras das criaturas que fomos e que guardamos na lembrança, para sabermos exatamente onde tocar para oferecer os recursos da regeneração a quem, não compartilhando, embora, desta filosofia, nos dê alguma importância pelos temas que desenvolvemos a juízo dos orientadores e do querido mestre Amaral.

Deixamos para o fim o agradecimento ao professor, apesar de nos proibir que façamos qualquer comentário elogioso. Pois bem, acatamos-lhe respeitosamente a determinação, mas não podemos deixar de exaltar-lhe a presença constante em todos os textos, a nos propor as alterações mais felizes e os roteiros melhor fundamentados. Que Deus o abençoe, querido professor!





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