Pena
maria da graça almeida
Para que não deites vãs palavras no papel,
resseco-te, ó pena minha, raquítica e frágil.
Na pobreza de tuas veias, a tinta corre fraca, desbotada,produto de constantes decepções, freqüentes descasos.
Pelo martírio do verso insipiente, de ti nada mais quero.
Por que me meto sob teu dito insosso
e deixo que, presunçosa, opines por mim?
Por que te permito que me dirijas a oração,
se tua sedução ora chega, ora falha, ora fala, ora cala?
De ti e de tuas letras vesgas e indigentes nada espero.
Pelos meus dez que hoje valem menos do que zero,
ao som de velho bolero, minha mão, tal qual escudo, de vez rejeita teu convite
A coreografia que prometes
é estúpida, improfícua e o bailado que ofereces
é paralítico, tolo, mudo. Pena...
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