Nada é eterno
maria da graça almeida
Se nada é eterno,
nem ao menos nosso rosto;
se nossos olhos não são os mesmos a cada dia,
por que cristalizaríamos os poemas?
Se a sensação transmuda a cada momento,
se os sentimentos variam com o tempo,
por que lhes colocaríamos algemas?
O poetar é uma atividade lúdica. E pictórica.
O poeta é um pincel de traços instantâneos.
O poema, uma tela que aceita retoques,
é um jogo, não de quebra-cabeça,
pois que este, apesar de início vário,
apresenta resultado único,
não admite novas formas de encaixe,
não permite a renovação da gravura,
tampouco a alteração da cor.
O poema é fruta verde
que só amadurecerá quando,
na morte, o poeta se for. |