14 de dezembro de 2001
Pensei na pequena sandália de fivela,
na testa suada, vermelha.
O prédio, antes, um grande quintal,
acolhia a família de gêmeos, japoneses,
morenos, louros, meninas, meninos,
em constante correria, em perene gritaria.
Vendo-a, então, ali, amamentando o filho,
fiquei sabendo o que era alegria triste.
Amamentando!
O tempo correu demais. Tanto que pós meu fólego
pequeno, meus medos enormes, a saudade tão maior.
Saudade cresce e eu que nem sabia. Enquanto nosso
acontecer consome-se, ela avoluma-se.
Todos eles ali, conversando como gente grande.
Experimentando a vida adulta. Gostando da altura.
Eu ainda os queria pequenos.
Um, agora, quase doutor, aliás, vários.
Olho-os, desconfiada... Qual é? Como é que crianças
aprendem a lidar com a saúde do povo,
com os direitos humanos? Eles eram pequenos,
choravam à toa, esfolavam o joelho, quebravam
o braço, tinham janelinhas entre os dentes
e agora se metem...
Se necessário puxávamos suas orelhas, palmadas no
bumbum, pelos menos só para constar e agora...
Aquela que foi para longe e voltou sabida, só não
sabe que muitas vezes carreguei-a no colo,
gordinha, ainda mais pelo amontoado de roupa de
dormir. Macacão de pezinho, sobreposto, o roupão.
A outra, com o marido a tiracolo. O marido.
E eles acham bonito, terem crescido.
Agora não querem mais nossos cuidados.
Não precisam mais.
Também nós não queremos cuidados.
Começamos a precisar...
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