Tua
Maria da Graça Almeida
Tardia, quero ser tua metade.
Posso ser a brisa leve
a esvair tuas tempestades.
Posso ser fresca aragem
e, com sopro tênue, breve,
amainar tuas ventanias!
Posso ser luz que alumia
as dormentes paisagens,
renovando as imagens,
das tuas telas mais sombrias.
Posso ser a branda chama,
a lamber-te as noites frias,
sem que te esfrie a cama,
sem que a queime em demasia.
Posso atar-te em justos nós,
na medida do carinho,
pra que não te sintas só,
nem acorrentado ao ninho.
Derrama assim uma lágrima
sobre teu rosto de cera,
que talvez depois das mágoas
teu sorriso eu nem mais queira.
Pois que inda és o primeiro
arredio caçador,
a zombar no cativeiro
das delícias do amor.
maria da graça almeida
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