Vestígios
maria da graça almeida
Ai, se todos os seus verbos
pudessem-me reflorescer,
por certo eu não teria
a presente nostalgia
versada no anoitecer.
Das trevas tenho receio,
da noite, crescente horror,
que me venha seu poema,
tendo o lume como tema,
a clarear-me o temor.
Meus vestígios nesta vida,
sei que ainda deixarei,
mas levarei a malícia
dos ritos, das rimas e mimas,
dos arrepios, das delícias,
das doçuras e carícias
de sentir as suas letras
enredarem–se nas minhas
e penetrarem-nas com jeito,
pelas próprias entrelinhas.
Ai, se todos os seus versos
pudessem-me perpetuar,
por certo eu conjugaria
em tempo e modos confessos,
o verbo de me entregar.
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