Ela é de lua
maria da graça almeida
Fui flagrada ao pensar alto: Belo quadro! Simplicidade sofisticada. Sob as pinceladas diáfanas do fundo pastel, a ninfa desnuda-se. Na moldura original, em alto-relevo, folhas estilizadas brotam do metal...
A romper a monotonia da voz do meu pensamento, uma gargalhada, na sala, ressoou vigorosa. Virei-me surpresa:
- Que foi garoto?
- Você é engraçada! Do quadro agora fez poesia, porém, na última vez em que esteve aqui, disse dele: que mau gosto! Onde estava com a cabeça quando o comprei?
Desconcertada com mudança da avaliação, respondi-lhe com voz sumida:
- Creio que no dia em que o adquiri, coincidentemente, estava com a cabeça no mesmo lugar em que está hoje...
Às vezes, o pensamento vaza-me através da voz, expondo a temperatura da minha alma e esta, confesso, sofre de constantes variações. Incoerente, às vezes é objetiva,
outras vezes, no calor da poesia, enxerga além. Mergulhada no alumbramento, escorre.
Alguns me consolam: não ligue, ela é de lua.
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