E nos acercamos do guarda-comida - que nunca tratamos no plural - que havia
acabado de ser entregue. Era aquele móvel que faltava para completar o mobiliário da
cozinha ou da copa. Feito de madeira levinha, tamanho médio ele tinha e a cor, que
veio ou que pintamos, era verde-clarinha.
Uma gaveta em baixo e uma porta de telinha fina em sua metade superior, que
permitia, a meninos e mosquitos, verem seu interior, composto de duas ou três
parteileiras, que mesmo na ausência de guloseimas, exalavam o aroma das boas
madeiras - e concitavam às boas maneiras.
Na parte inferior da porta, mamãe fez desabrochar seus dotes artísticos pintando umas
garças brancas. Um pincelzinho, as tintas na xicrinha e sobrou até pruma garcinha,
pequetita, e também branquinha.
Pra compor tudo comportadinho, uma chavinha. Que durou pouco, pois quando se
perdeu, ninguém pela sua falta deu, não foi, Tadeu?
A comida que ali se guardou, por perecível, seu lugar nunca esquentou, pois logo em
algum ou muitos papos passou. As quitandas, os bolos, as frutas, a cestinha de pão,
tudo ali, só de me lembrar, medido e contado me deixa de saudades, saciado. |