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Contos-->8. UMA HISTÓRIA DO ALÉM -- 12/04/2002 - 06:03 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Juventino era rapaz dedicado aos estudos evangélicos. Não tinha, porém, o dom da mediunidade, com o que não se conformava. Estudou a fundo O Livro dos Médiuns e pesquisou todas as formas de manifestações espirituais, tendo tido a felicidade de presenciar e catalogar cada uma delas. Mas, através de si mesmo, nada ocorria. Não lhe valiam as horas que destinava conservando-se ao lado dos amigos junto às mesas doutrinais. Nenhuma lembrança lhe chegava à mente dos momentos de sono, para lhe indicar que estivera em companhia dos amigos da espiritualidade. Deixava-o acabrunhado, ainda, o fato de seu guia trazer-lhe informações do etéreo, através de diversos médiuns; mas, diretamente, nada. Sabia que havia influenciação de caráter intuitivo, mas nada lhe parecia configurar objurgatória, auxílio, prevenção ou informação que não fosse elaborado pela própria mente.

Sofria, contudo, sua desdita, sem angústia e sem acoimar a sorte de nenhum apelido desairoso, como acontece com quantos se revoltam. Juventino compreendia a sua sina e calava-se, franzindo o sobrolho, sempre que algo lhe parecia vir que representasse qualquer ameaça de mediação entre os planos.

Certo dia, encheu-se de coragem e interrogou diretamente a entidade que se anunciava como sendo seu protetor. A resposta veio pronta:

— Bondoso amigo, fique na paz do Senhor! Graças a Deus! Você deseja saber por que motivo não é utilizado para a intermediação entre os planos. Pois bem! Prepare-se para revelação que pode deixá-lo estonteado ou estarrecido. Em encarnação anterior, você foi dotado de imensa capacidade mediúnica. Concorda você em que a vontade de agora possa representar a memória camuflada da performance pregressa? Pois creia que você se apossou desse apanágio para menosprezar as pessoas, julgando-se intimamente superior a todos. Em determinada época da vida, abriu certa tenda de atendimento e passou a ler a sorte através do auxílio de entidades que se divertiam às custas de sua ingenuidade e da crença dos fregueses. Muito dinheiro rolou-lhe pelas mãos, mas você não soube aproveitar nem dos dons que possuía nem do dinheiro vertido, de modo que malbaratou a encarnação. No campo da espiritualidade, ao ser consultado a respeito dos atributos que lhe seriam fixados na presente personalidade, fez você questão de se recusar terminantemente à tentação de nova investidura mediúnica, desejando, por outro lado, ter a facilidade de acesso intelectual aos trabalhos filosóficos a respeito da doutrina espírita. Quando nós lhe negamos a mediunidade tão sonhada, estamos tão-só acatando-lhe o desejo. Pretende alterar o rumo da vida ou prefere prosseguir com o plano em curso?

Deveras, o nosso amigo tinha tido ocasião de se pronunciar a respeito do novo modo de encarar o espiritismo. Por esforço de imaginação, acreditou piamente na informação da entidade e, do fundo d alma, desejou testar a capacidade mediúnica mais uma vez, guarnecido pelo conhecimento exato das conseqüências de quem não respeitou os princípios insertos em sua maneira de ser. Respondeu sem ambigüidade, ressaltando o fato de que a alteração da caminhada tinha ainda o cunho do desafio ao protetor, para a certeza de que estava falando sério, e a si mesmo, para avaliar até que ponto conseguira refrear os baixos instintos. Como vemos, as lições aprendidas pelo veterano cultor do espiritismo tinham-se arraigado profundamente em sua mentalidade, sendo capaz de expor com clarividência os pensamentos e os sentimentos.

Respondeu-lhe, então, a entidade consultada:

— Vamos ter de ouvir as razões sempre ponderadas de nossos maiores e voltaremos dentro em breve para a resposta definitiva. Entrementes, vá produzindo só obras boas, pois é através delas que todos somos medidos. Adeus!

Durante várias semanas, Juventino voltava às sessões e, ansiado, se punha na expectativa de receber a resposta que lhe daria integral satisfação. Durante as reuniões, perpassavam-lhe, porém, pela cabeça idéias angustiantes, que representavam sentimentos e pensamentos sofridos de almas em estado de perplexidade diante da dor e do arrependimento. O instrutor do centro, vendo entidades desejosas de se comunicarem ao derredor do companheiro, dava-lhe a palavra, mas ele emudecia, crendo-se na necessidade de permanecer atento para a resposta do protetor.

Depois de sucessivas reuniões, finalmente, fez-se presente o amigo orientador que lhe perguntou de chofre:

— Então, meu caro, como vão indo as comunicações?

Aturdido com a inquirição, Juventino não soube o que responder e gaguejou algo como:

— Estava aguardando sua informação a respeito da deliberação do plano superior.

— Fique tranqüilo, Juventino. Você já está de posse dos antigos poderes de intermediação. Se não percebeu que o trabalho tinha surgido é que talvez estivesse esperando algo muito especial. Como sabe, culto e lido que é, a mediunidade é fácil de se exercer: basta abrir a mente e o coração para o etéreo. Volte às aulas iniciais da escolinha de médiuns e experimente reiniciar o aprendizado. Vamos desenferrujar as dobradiças mentais e azeitar os gonzos, para que as portas do coração possam de novo abrir-se para o trabalho. Boa sorte!

Juventino ficou exultante; entretanto, a perspectiva da aprendizagem assustava-o um pouco, pois acreditava que iria envergonhar-se por ter de voltar a freqüentar os mesmos bancos por onde passaram muitos de seus aluninhos. Encheu-se, contudo, de coragem e inscreveu-se, humilde.

Na primeira aula, ouviu pacientemente a recomendação às preces. Na segunda, impacientou-se um pouco com o relato a respeito do plano espiritual e das necessidades de contacto para superação de diversos problemas espirituais. Na terceira, explodiram-lhe as reservas de calma e tentou induzir a orientadora a mudar os planos, pois, do modo como as coisas andavam, passar-se-ia mais de ano e não teria oportunidade de apresentar-se para o trabalho. A muito custo, foi contido pela jovem discursadora e resolveu-se, de comum acordo, que poderia intentar trabalhar na recepção dos sofredores nas sessões de doutrinação.

Chegado o dia da reunião, compareceu o confrade cheio de esperanças, mas com o coração opresso, pois, em suas meditações, foi capaz de perceber os vários itens da doutrina que tinha contrariado. Antes do início dos trabalhos, pôs-se a orar contrito, pedindo desculpas de coração pela ansiedade e descontrole. Estava compenetrado da falta. No fundo da consciência, ouvia fina vozinha que o aconselhava a retirar-se e a só voltar para as sessões após passar por todo o curso que lhe fora propugnado, devendo, ainda, ter de superar o momento dificultoso do pedido de desculpas aos parceiros.

Nesse instante, fez-se a luz. Prestou bastante atenção naquela advertência e pôde perceber que todo o seu procedimento se dera à revelia das influenciações que sempre recebera. Acordou para a realidade, pediu licença ao dirigente da reunião e afastou-se para o recesso do lar, para meditar a respeito da intuição que fora capaz de decifrar. Finalmente, parecia que tudo lhe ficara claro na mente.

No dia da reunião de estudos mediúnicos, procurou o presidente da instituição, que fora colocado a par de todas as ocorrências, e, olhos nos olhos, relatou-lhe todos os sucessos, com a humildade de quem se reconhece indevidamente apaniguado pelas forças espirituais.

Nem é preciso dizer que recebido foi com todo o carinho e alegria. Em pouco tempo, reatou os vínculos rompidos com a jovem instrutora, pôs-se de bem com os companheiros de estudos e perfez todos os passos da instrução, como se nada soubesse a respeito da doutrina. Diplomou-se com lauréis e pôde desempenhar a função que tanto almejara, com integral eficiência. Venceram, enfim, a humildade e o desejo de contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos de assistência espiritual.



Juventino é o relator destes acontecimentos e procura honrar a confiança que lhe foi depositada pelos instrutores. Entretanto, dado o corte muito rente que procedemos nos acontecimentos, devemos dizer que outras muitas circunstâncias concorreram para os eventos, de modo que alertamos o leitor para não se deixar influenciar pela simplicidade da narrativa. Leia-se ela como se produzida fora em branco e preto, precisando que lhe sejam impregnadas as diversas cores da íris para ganhar em veracidade e em importância. Faça-o por nós.

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