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Contos-->10. O ARGONAUTA -- 14/04/2002 - 06:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

É costume antigo relatar as viagens de seres mitológicos para regiões estranhas, de sorte a estimular a fantasia, à falta das próprias aventuras acalentadas no fundo da personalidade, pois é inata a tendência de se buscar o mistério e decifrá-lo. A par, pois, das considerações de caráter filosófico e religioso, todas as pessoas encerram desejos de descobrir o desconhecido. Cada um de nós, portanto, pode ser considerado um argonauta.

Jovelino tinha em alto grau desenvolvido esse prisma de sua natureza. Munido de mapas, após minuciosos estudos das ilhas mais distantes, punha-se a velejar sozinho, organizando expedições escoteiras às mais longínquas plagas. Pode-se dizer que deixou tudo o mais de lado para aventurar-se pelos oceanos. Evidentemente, quando chegou ao etéreo, do muito que realizou, pouco sobrou para seu desenvolvimento espiritual. Não se importou, contudo, com isso, pois, se não progredia, também não sofria desditas severas, já que não desejava e não praticava o mal contra ninguém. O que mais pesava no prato dos descréditos era a indiferença à sorte dos familiares.

Tantas vezes, no entanto, internou-se na carne, que passou a conhecer os povos e as regiões como a palma de sua mão. Não fora atrevimento nosso, poderíamos até supor que não houve expedição famosa a qualquer ponto do orbe de que não tivesse participado. Em algumas, deixou em depósito os andrajos mortais, mas carreou sempre consigo as maravilhosas experiências do encontro do novo.

De volta da última investida ao mundo dos encarnados, após longas reflexões, chegou à conclusão de que nada mais havia para conhecer na face da Terra e solicitou permissão para percorrer o universo: transformar-se-ia em argonauta das esferas siderais. Por estranho que possa parecer, recebeu anuência integral e salvo-conduto que lhe permitia visitar todas as moradas do Senhor, no setor de responsabilidade das entidades galácticas. Mas, assim que se pôs a preparar-se para a primeira viagem, constatou, desolado, que não havia roteiros seguros para sequer afastar-se do âmbito do planeta.

Investiga que investiga, não achou ninguém que lhe parecesse inteiramente confiável para indicar-lhe os caminhos iniciais. Após ter vasculhado diversas bibliotecas junto às instituições educativas mais próximas do globo, verificou a ausência total de informações. Nessa pesquisa, minuciosa e séria, despendeu o equivalente a duas inteiras internações na carne.

Meditou bastante, leu e releu os dizeres de seu documento sideral e terminou por perceber que estava autorizado, sim, a viajar, mas nada se dizia a respeito de sua categoria na ordem evolutiva. O tópico havia sido deixado em branco.

Procurou, então, aquele que chamava de assessor de viagens, seu protetor e guia, e pediu-lhe explicações.

Os informes vieram de modo a aborrecê-lo pois necessitaria, para realizar os intentos, de certos atributos que só poderia conseguir se voltasse à Terra. Avaliou a situação e propôs-se a caminhar na carne, determinado ao preenchimento do quesito em falta. Escolheu logo a profissão de professor de Geografia, crente de que seus conhecimentos poderiam auxiliá-lo a passar o tempo, já que lhe parecia impossível cumprir os objetivos específicos do encarne, ou seja, cuidar de numerosa prole e assistir a vasta família, como capitão de navio ou comandante de aeronave, por exemplo. Comprou passagem e embarcou para nova aventura, desta feita extremamente sacrificial, segundo seu ponto de vista.

Jovelino agora se chamava Oscar e tornou-se, realmente, professor de Geografia. Casou-se cedo com jovem colega de profissão e passou largos anos sonhando com o céu, observando as estrelas e cuidando de fornecer a imensa quantidade de espíritos oportunidade de ingresso na carne. Aliado ao péssimo salário o fato de a esposa não conseguir manter-se no emprego, à vista das sucessivas gestações, precisou buscar no excesso de trabalho os meios de sobrevivência física. Certo dia, cansado da labuta, pôs paradeiro à situação, abandonando o lar e deixando para depois a solução dos graves problemas que assumira. Mas a sua vida não transcorreu feliz, uma vez que seu objetivo maior não mais se situava na face da Terra. Esquecido dos compromissos, revoluteou pelo planeta até o ponto de deixar a vida pelas próprias mãos.

Foi aventura com que não contara. Tendo sobrevivido nos círculos da crosta por largo tempo, não se lembrava de ter jamais penetrado nas zonas umbráticas. Mas o seu interesse pelas novidades sofreu abalo muito profundo, pois o que lhe era tranqüila e imperturbada vilegiatura nos tempos antigos, quase diríamos morna felicidade, se transformou em angustiada peregrinação. Sofreu inúmeros percalços em seu desejo de safar-se dos liames com os que o procuravam, cobrando-lhe a prometida assistência, e hoje clama pelo orientador, para explicar o que lhe acontece.

Vai ser preciso muito navegar nas águas revoltas das provações terrestres para receber no passaporte o visto de saída para as regiões siderais.

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