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Contos-->18. O LENÇO NA TESTA -- 22/04/2002 - 06:52 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Toda vez que ia escrever para o plano espiritual, o médium pegava perfumado lenço e punha-o de encontro à testa, para impedir que o suor pudesse escorrer-lhe pelas faces, prejudicando-lhe de algum modo o trabalho. Tinha a firme intuição de que a mão, ao prender o lenço, comprimia a arcada superior aos olhos, de sorte a pressionar precioso chacra ali situado. Mas não se atrevia a formular com clareza tais idéias, não transformadas em séria convicção. Fazia-o por costume e por achar que se sentia melhor assim procedendo.

Certo dia, Augusto, assim se chamava, recebeu extensa dissertação do plano espiritual, em que todas as intuições se confirmavam. De início, como primeiro impulso, julgou oportuno firmar opinião. Cauteloso, porém, recebeu aviso da consciência, prevenindo-o de que, tendo sido preocupação sua durante largo tempo, embora jamais se abalançasse a pesquisar a respeito, era de todo prudente resguardar-se de emitir conceitos meramente fundamentados em indiscutível apanhado mediúnico, mas de sua lavra, podendo ter sido tão-só a expressão anímica do desejo de ver confirmados os pensamentos.

Guardou a mensagem, no intuito de pedir confirmação dos dizeres através de algum amigo de mesa. À leitura, disfarçou e não apresentou o texto, mesmo porque outras comunicações de caráter pessoal haviam instigado a curiosidade de todos.

Na reunião seguinte, interessado em consultar os instrutores espirituais a respeito do tema, rogou, durante a prece de abertura dos trabalhos, que fosse atendido. Realmente, ao se findarem as preces de encerramento, íntimo colega seu leu extenso relatório por ele apanhado, em que se estendia o comunicador largamente sobre os chacras e a utilidade que tem a pressão sobre aquele que se situa no frontispício do crânio, o chacra da intuição e da inteligência, para melhor contato com o plano espiritual.

Ficou Augusto entusiasmadíssimo, mormente porque o espírito fizera referência ao fato de alguns médiuns estabelecerem o processo no intuito primário de sustar o escorrimento do suor com o lenço. Nesse trecho da mensagem, todos se voltaram para ele na intenção de fazer ver que o mensageiro estava fazendo menção específica à sua pessoa, único na sala que costumava utilizar-se do lenço, embora todos que escrevessem apoiassem a cabeça na ponta dos dedos ou na palma da mão.

Ao término da leitura, triunfante, Augusto retirou do bolso a mensagem que recebera durante a reunião anterior e fez questão de mostrar aos colegas. Fê-lo no sadio intuito de comprovar que os espíritos guardiães estavam realmente ocupados em dar orientação ao grupo e não para enaltecer o fato de que fora por seu intermédio que o mensageiro se sentira convocado aos esclarecimentos.

Mas nem todos na sala acreditaram na inocente apresentação de nosso Augusto e passaram alguns a desconfiar de que tivessem sido vítimas de aparato fantasioso, para dar a impressão de que os dois amigos estavam sendo alvo de especial consideração por parte dos instrutores. Em suma, provocaram imensa ciumeira no ambiente, inadvertidamente, mesmo porque inúmeras expressões se repetiam nos dois textos. Incapazes de avaliar que certamente o mensageiro do etéreo pudesse ter sido o mesmo, os invejosos emitiram sérias vibrações negativas, que atingiram os dois inocentes cidadãos em sensível parte de seu organismo social: a fama.

Correu à boca pequena pela cidade que ambos estavam conluiando para o efeito. Tanto falaram que, inevitavelmente, chegou aos ouvidos dos amigos o que deles se dizia. A cidade não era grande e as pessoas não eram capazes de sofrear a voz.

Indignados com o sucedido, resolveram abandonar a mesa em que serviam, tendo em vista que o falatório só poderia ter tido início ali mesmo. Procuraram outros centros, mas perceberam que todos tinham sido contaminados pela virose maldosa da maledicência.

Entrementes, o tempo foi passando e chegou o dia da reunião. À mesa, todos os componentes, menos os dois infelizes denunciados pela opinião.

Abertos os trabalhos, o guia espiritual apresentou-se de viva voz, por intermédio do mais eficaz médium presente, elaborando extensa defesa de ambos os acusados, explicando minuciosamente todo o processo utilizado para chamar a atenção das pessoas, a principiar pela insuflação na mente do Augusto da presciência da utilidade da pressão do chacra, insistindo que todo o trabalho tivera como motivação a necessidade de ministrar severa lição à comunidade espírita, quanto ao fato de dar trela à boataria e às difamações, incapazes de perceber, como estavam os servidores, que o trabalho é sério e exige algo mais que simples estudo de última hora. Se quisessem merecer a assistência dos protetores, que cuidassem para melhorar o desempenho moral. Tendo citado nominalmente os dois amigos, exigiu a entidade espiritual que se formulasse pedido de desculpas em nome do grupo, ficando todos responsáveis pela readmissão de ambos no seio da pequena comunidade. Evidentemente, para não onerar o médium por meio do qual se expressava, teve o instrutor o cuidado de preparar alguns fatos de efeito para convencimento de todos de que não se tratava de terceiro integrante do grupo de falsários.

A tertúlia espírita naquela noite encerrou-se cedo, pois os médiuns se sentiram despojados dos atributos, surpreendidos pelo poder de penetração do conhecimento das íntimas conformações conscienciais. Preocuparam-se e, envergonhados, à meia voz, decidiram atender à verdadeira exortação da entidade. Hesitaram quando tiveram de escolher quem amarraria o guizo à cauda dos gatos, mas, cheio de coragem e de brio, o principal incentivador dos falatórios se propôs ao desagradável dever. Temia sofrer nova represália e mais clara, com a citação nominal dos envolvidos.

Na manhã seguinte, o representante da turma procurou Augusto em sua residência e, humildemente, pediu-lhe desculpas, inclusive citando que se colocaria nota a respeito de todos os acontecimentos na folha local, para dar ênfase à inocência de ambos, esclarecendo-se o papel dos espíritos em função da lição que se pretendeu dar a todos.

Augusto ponderou que os irmãos ficariam a descoberto relativamente às pessoas descrentes, mas não houve meio de dissuadir o companheiro da intenção. Para amenizar-lhe a disposição, prudentemente, Augusto perguntou se a notícia deveria ser divulgada através do jornal, por força de imposição espiritual ou por decisão dos encarnados.

— Fomos nós que decidimos, foi a resposta pronta do emissário.

— Então, volveu Augusto, não seria melhor ouvir os espíritos antes da publicação?

O alvitre pareceu justo a toda a turma, quando foi exposto na reunião seguinte pelo próprio ofendido, o qual estava na alegre companhia do parceiro de infortúnio.

Durante a sessão, o protetor do centro se omitiu a respeito do tema, o que ocorreria novamente por cerca de várias semanas, até que todo o sucedido caiu no esquecimento.

Hoje, Augusto, sem que vestígio algum de qualquer mágoa lhe transpareça das atitudes, dirige a instituição que fundou em companhia do amigo, prestigiado que se considerou pelos irmãos da espiritualidade. Mal sabe ele que os espíritos estão insuflando na mente de um dos médiuns que a humildade aparente é tão-só hipocrisia e que, em breve, novos chacras hão de ser pressionados.

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