Água
maria da graça almeida
Do meu olho brota água.
É a impotência liquefeita,
que nasce, escorre, deságua
e nem dormente se deita.
Minhas águas não são lágrimas.
São gotas do pensamento,
que deslizam peito adentro,
feito dor em movimento.
Em minh alma jaz a vida.
O senhor de todos os tempos,
por um mero contratempo,
desistiu de conservá-la.
Em minha boca abunda o sal.
É que a mágoa dilatada
pela dor em movimento
desistiu de dessalgá-la.
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