A insensatez do deixar
maria da graça almeida
Sinto muito, nesta vida ninguém esquece...
O espectro da saudade, voraz e cruel
para sempre nos ameaça a lembrança,
ronda-nos os sonhos.
O homem distrai-se, prioriza novas relações,
muda de rumo, altera a direção,
transmuda o interesse, a disposição,
porém sua história carrega consigo,
como fardo, bênção, saudade ou sina.
O tempo incumbe-se da angústia de quem ficou.
E aquele que se foi
-em face do desperdício do deixar-,
tardiamente, sofrerá as conseqüências
de tal insensatez e constatará
o quão é fugaz a sensação de liberdade
e efêmero o sabor da autossuficiência.
Sinto muito, nesta vida, ninguém esquece;
apenas dissimula as cores do pensamento,
na tentativa de esmaecer as dores dos desenganos
e os males do arrependimento.
|