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Artigos-->As diferenças entre o corrupto e o ladrão -- 02/10/2006 - 16:42 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em abril de 2006 a minha casa foi assaltada. Felizmente, não sofremos nenhum dano físico, só psicológico, ao chegarmos à casa e a encontrarmos aberta e toda revirada.

Depois de passarmos a madrugada com a polícia dentro de casa levantando pistas e também na delegacia registrando queixa, sentamos para conferir os estragos e tentar botar os nervos no lugar.

Então nos lembramos que aquela era a segunda vez que nossa casa fora invadida e, assim como da primeira, o susto passaria. Com disciplina nos gastos reporíamos o que foi levado e continuaríamos a vida.

Aí me veio à mente o Dr. Walter Sérgio de Abreu, delegado de Polícia de São Paulo, que foi muito feliz ao dizer que: “assim como nós, o ladrão procura um negócio perfeito”. Então filosofei que fomos vítimas, porque éramos mais bem sucedidos que o ladrão, e, se o que nos foi roubado, ele vendesse e com inteligência investisse o dinheiro para nunca mais precisar roubar e deixar as pessoas com os nervos em frangalhos, eu me daria por satisfeito e até o perdoaria.

Lembrei também que uns cinco anos antes uns colegas com os quais trabalhei num certo órgão, estavam sendo investigados por desvio¹ de dinheiro público. Essa notícia também deixou meus nervos estraçalhados. Foi muito ruim vê-los cabisbaixos tentando se proteger dos jornalistas e das câmeras de televisão. Daí me perguntei quais seriam as diferenças entre o ladrão que entrou na minha casa e os meus ex-colegas. Enumerei algumas:



1. O ladrão é pobre, sem emprego e vive de bico. Rouba um aqui e outro ali; os colegas eram da classe média, tinham emprego, nível superior e salário fixo;

2. O ladrão certamente nunca leu o Código Penal para saber quais as penas que lhe seriam aplicadas; os colegas são plenos conhecedores do Regime Jurídico Único, do Código Administrativo e do Código Penal (só para citar os principais). Eles eram funcionários graduados, e juntos até estudamos e discutimos a aplicação dessas leis;

3. O ladrão levou-me bens materiais, mas, se eu disciplinar os gastos, em breve comprarei tudo novamente. Passados quinze dias eu já estava com os nervos plenamente restabelecidos; os colegas não me levaram nada palpável, nada material, me levaram algo pior, a confiança, o carinho, a amizade. Cinco anos se passaram e ainda não me restabeleci;

4. De certa forma eu já esperava o ladrão, tanto é que já havia instalado alarme na casa, no carro e tranca nas portas; assim como o ladrão, o colega corrupto também agiu de surpresa. Só que contra o colega eu não me preveni, não me armei. Eu não o esperava. Inúmeras vezes almoçamos juntos, falamos de futebol, da família, fizemos planos para o futuro, compartilhamos alegrias e angústias... Enfim, deixei que eles entrassem na minha vida e já naqueles dias, sorrateiramente, eles estavam roubando a minha confiança, o meu carinho e a minha amizade;

5. Eu tenho mais que o ladrão, por isso ele me rouba. E o funcionário público ou o político que têm mais do que eu, por que eles roubam?

6. Contra o ladrão eu pedi proteção à polícia e saí da delegacia na esperança de que ele fosse preso e pagasse pelos danos que me causou; e contra os colegas que me protege, há quem me queixar? A minha única proteção é fugir deles sempre que os vejo.

















¹ O verbo “desviar” tem sido largamente usado para definir o furto praticado por agentes públicos. “Roubar”, é para outro tipo de ladrão.

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