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cronicas-->caquinhos coloridos -- 07/02/2002 - 09:29 (maria da graça almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caquinhos Coloridos

Maria da Graça Almeida

Quando passei distraída,
estranhei o homenzarrão
atento, dobrado ao meio.
Colocava cacos de azulejo
na calçada, na tentativa
de recobrir a aspereza
encardida do cimento.
Compenetrado,
parecia montar
um imenso quebra-cabeça.
Quantos cacos
pediriam o largo espaço?
Ora, vejam!
E isso lá era da minha conta?
Se molhados, não seria a calçada
de um escorregar inevitável?
Ah! Sim, da minha conta!
Afinal um tombo
nunca é bem-vindo!
Perguntei a alguém
que estava por ali,
esperando pela cabeleireira,
que escovava, com cuidado,
os longos cabelos dourados
de uma jovem cliente:
- Quem é este que se dá ao trabalho
de nos tornar a passagem perigosa?-
apontei para o homem, através
da imensa parede de vidro.
- É o marido da Margarida!
- Margarida?
- A dona da lanchonete aí de baixo.
- Você viu o que ele está fazendo?
- Ele é cheio de modas!
- Modas?
- Inventa uma janela,
retira uma porta, põe toldo, tira.
A cada dia, uma novidade.
- A mulher não se incomoda?
- E adianta?


O dia mal amanhecera
e, mesmo prequiçoso,
já se alardeava com a insistente
sirene do resgate.
Nessa hora o coração
parece que quer andar
mais rápido do que as pernas.
Espiei pela janela.
A sirene não se calava mesmo
com o carro parado.
Estremeci.
Ouvi choro alto e era de adulto.
Minhas pernas bambearam.
Retirei-me da janela.
Descaso? Não, impotência.
Quando chora o adulto,
não é por simples manha.
As providências
já haviam sido tomadas.
Fazer mais o quê?
Liguei para a portaria
- Antonio?
- Sim, dona Maria!
Ai! Ele insiste em me chamar
de dona Maria
e eu sempre lhe digo,
prefiro Graça ou Maria Graça.
Nesse dia não retruquei.
Bobagem...
Que diferença faria?
-O que aconteceu aí ao lado?
-Não sei, dona...
(silêncio, creio que tentava
lembrar-se da melhor maneira
de chamar-me ...desistiu)
parece que morreu alguém!


E morrera mesmo.
De enfarto.
Enfarto fulminante.
Morrera alguém que
inventara de morrer.
Morrera alguém que aqui não
mais inventará modas.
E agora, enquanto
Margarida desfolha
um choro dolorido
no branco do papel,
por certo um homem
atento, dobrado ao meio,
coloca cacos coloridos
nas alamedas do céu.


Maria da Graça Almeida

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