Em quem os professores votam?
Em 1994, eu lecionava no Centro de Ensino n° 2 de Samambaia, no Distrito Federal. Num certo dia de novembro, durante o intervalo, eu e alguns professores conversávamos sobre as férias de fim de ano. Falávamos sobre o que vimos de interessante nos lugares que conhecemos, sobre os locais que gostaríamos de conhecer e coisas do gênero. Entre nós, dois colegas professores planejavam suas férias. O plano deles era juntar suas famílias para viajarem juntas em uma Caravan rumo a Porto Seguro, na Bahia. Ambos eram casados e tinham filhos. O plano deles chamou minha atenção, porque eles planejavam viajar juntos não porque eram amigos, mas por necessidade mesmo. Como seus salários não davam para viajar sozinhos com suas famílias, eles teriam de juntá-las no mesmo carro e dividir as despesas entre si.
Naquele dia, eu, que morava sozinho, trabalhava em três empregos e podia arcar com as minhas despesas, fui para casa pensando no meu futuro como professor. Mas, no fundo, não era o futuro que me preocupava, o que eu sentia mesmo era uma ponta de tristeza ou de angústia por aqueles colegas competentes, dedicados e que amavam o que faziam. Eu pensava no desconforto que seria para mim ter de partilhar a intimidade familiar com um colega de trabalho – como disse, eles não eram amigos, eram apenas colegas de trabalho – e me embrenhar com pessoas desconhecidas numa aventura tão longa e cansativa – ida e volta são cerca de 2.400 km.
Em setembro de 2006, eu estava numa roda de amigos e falávamos sobre casamento, filhos, netos... Essas coisas. Foi então que o Jorge, que se tornara avô há cinco dias, perguntou à Larissa, uma mocinha de vinte e poucos anos, quando ela se casaria. Ela respondeu que estava querendo se casar logo, mas ainda não podia, porque ganhava o salário da ‘Fundação’ e o noivo ainda era estudante da Universidade de Brasília.
E mais uma vez veio à tona minha angústia e também minhas queixas: Por que professor não pode planejar sua vida independente de outra pessoa? Por que o salário do professor não dá para ele realizar seus sonhos mais simples? Se a solução é o aumento do salário, então por que os governantes não o fazem? Como de 1994 a 2006 já tivemos três Presidentes da República, em quem os professores têm votado? Estariam eles votando em políticos comprometidos com a educação? E sendo professores, estariam eles elegendo pessoas descomprometidas com a educação?
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