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Contos-->O Empregado -- 08/05/2002 - 20:31 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sítio de Seu Roberto e Dona Rosa não era grande, cerca de 12 alqueires de terra; mas cultivavam sua pequena horta, plantavam o suficiente para sua subsistência e possuíam um pequeno rebanho de gado, do qual tiravam aproximadamente 30 litros de leite. O leite era quase todo vendido para cobrir as despesas com a manutenção do sítio.
Tanto Seu Roberto quanto Dona Rosa, já adentravam a casa dos 60 anos; possuíam filhos, mas estes: moravam na cidade grande e não queriam saber da difícil vida do campo. Diziam que aquela vida não era para eles. Preferiram ser comerciantes em Juiz de Fora. E raramente vinham ao sítio dos pais.
Dona Rosa até que conseguia dar conta da casa. A muito custo, conseguia deixá-la razoavelmente arrumada e ainda cozinhava e cuidava com muito carinho da sua pequena e variada horta. Quanto a Seu Roberto, já não se podia dizer o mesmo: parecia mais acabado, não apresentava o mesmo vigor e tinha certa dificuldade para caminhar apressadamente. Sem contar que manter-se de cócoras por 4 ou 5 minutos ordenhando uma vaca não é tarefa para uma pessoa como Seu Roberto.
Quando ele viu que não era mais capaz de dar conta de suas obrigações, sentiu-se forçado a contratar um empregado. Mesmo a contra gosto, depois de muito refletir, acabou por contratar um rapaz que já trabalhara de empreiteiro por várias vezes na plantação. O rapaz era filho de pessoas conhecida da família e ficou deveras contentíssimo por obter um emprego fixo.
Francisco, esse era seu nome, trabalhou na fazenda por quase dois anos. Era um rapaz dedicado e muito atencioso com os patrões. Não era por acaso que eles sempre o chamavam de “Chiquinho, meu filho”. Contudo, perdera o pai e a mãe nesse período e fora obrigado a voltar para o Ceará com os irmão menores para que sua tia pudesse cuidar deles. E assim, Seu Roberto perdeu seu empregado e quase filho.
Era preciso arrumar outro empregado urgentemente. Um fazendeiro vizinho; aliás, muito amigo de seu Roberto, indicou-lhe um rapaz que havia trabalhado em sua fazenda por seis meses. Segundo esse vizinho, o rapaz era boa pessoa e trabalhadeira. Depois de se afastar por motivos de doença na família, o tal rapaz retornara a procura do emprego de volta. Entretanto, já havia outro no lugar, então o vizinho não hesitou em indicar-lhe o rapaz.
Ele chamava-se Luís Carlos, devido, porém, sua aparência frágil, todos o chamavam pelo diminutivo: Luizinho. A bem da verdade, Luizinho já contabilizava seus 31 anos. Era uma pessoa tímida e falava pouco. Seu cabelo preto, seus grandes olhos negros e sua delicadeza tornava-o, ao mesmo tempo, atraente e enigmático; contudo, era um rapaz trabalhador. É justamente essa qualidade que conta quando se precisa de alguém para trabalhar no campo; alguém que tenha coragem de enfrentar qualquer tarefa fatigante. E Luizinho trabalhava com afinco e cumpria suas obrigações sem que fosse preciso chamar-lhe a atenção.
Não foi necessário muito tempo para que Luizinho se tornasse um membro da família. Levantava antes dos patrões, preparava o café e saia para recolher o gado para a ordenha. Quando Seu Roberto levantava – agora levantava um pouco mais tarde --, o gado já estava no curral e os primeiros litros de leite na lata.
A cada dia Seu Roberto ficava mais satisfeito com o empregado. Agora tinha mais tempo para o repouso e, as vezes, após o almoço fazia a sesta. Dona Rosa também se beneficiava da ajuda do rapaz. Não raras vezes Luizinho capinava o Quintal, a horta e ajudava na limpeza do galinheiro e cuidava do chiqueiro. O casal não sabia mais como se virar caso algum dia perdesse o seu “filho”.
Nos domingos ao final da tarde, Luizinho estava livre para ir à Rosário. Em Rosário ele podia encontrar amigos, beber algo, jogar sinuca ou até entrar num dos times e participar da partida de futebol que acontecia todos os domingos por volta das 17 horas. Ainda havia a possibilidade de encontrar com algumas das jovens do distrito e passear até os limites do lugar ou até ficar conversando e namorando na praça do coreto. Contudo, ele não fazia nada disso. Durante os primeiros cinco meses, somente duas vezes foi à Rosário; mesmo assim para comprar objetos de uso pessoal. De outra, pediu para ser dispensado no sábado e foi a Juiz de Fora comprar algumas roupas e objetos para seu uso.
O que mais Luizinho gostava de fazer nos momentos de folga era de pescar. As vezes, desaparecia por horas e só voltava ao anoitecer, com alguns peixes espetados numa vareta.
Seu Roberto chegou a achar estranho que um rapaz, ainda na flor da idade, não tivesse uma namorada e nem saísse para encontrar uma prostituta. Era de conhecimento de todos que em Rosário havia uma casa em que os rapazes da redondeza eram iniciados pelas três moradoras nos mistérios do amor. Apesar de achar estranho que Luizinho não fosse ao encontro duma mulher, não deu importância a isso; afinal não era problema seu.
Na zona rural é muito comum as pessoas irem dormir cedo, por volta das oito da noite. Em compensação, levanta-se ao raiar do dia; ou até mesmo antes do amanhecer. No sítio de Seu Roberto, não era diferente; todos se recolhiam por volta das 19 horas e levantavam as cinco e meia; inclusive nos sábados e domingos essa rotina não era quebrada. A não ser que a família tivesse algum compromisso social e não desse para chegar cedo em casa. Esses compromissos eram poucos comuns; mas, as vezes, aconteciam. Por duas vezes nos últimos três meses isso havia acontecido e numa das ocasiões os patrões não puderam voltar a tempo e pernoitaram fora de casa. O sítio ficou na responsabilidade de Luizinho e ele deu conta do recado.
Certo dia, numa sexta-feira por volta das nove horas, Seu Roberto acordou com um barulho vindo do curral. Parecia ter ouvido alguém pedir silêncio a um animal. Era como se quisessem que uma vaca, ou o cavalo, ou a égua ficassem quieto. Ele se levantou vestiu a calca e a camisa, acendeu a lamparina e foi ver o que se passava. Quando abriu a porta da sala e surgiu do lado de fora, escutou outro barulho no curral, como se alguém pulasse da cerca. Não era possível enxergar nada pois estava um breu naquela noite sem lua. Deu um grito e perguntou:
-- Quem está aí?
-- Sou eu, Seu Roberto – respondeu Luizinho.
-- O que você está fazendo aí?
-- É que escutei um barulho e vim ver o que era, mas acho que era só algum bicho que assustou os animais – explicou em seguida.
-- Ah! Também ouvi.
-- Mas não achei nada – disse Luizinho vindo em direção à casa.
Os dois homens entraram e não disseram mais nada.
No dia seguinte ninguém tocou no assunto. Seu Roberto não deu a menor importância ao ocorrido e dias depois o fato caiu no esquecimento.
Dona Rosa andava sentindo muitas dores nas costas e era preciso consultar um médico em Juiz de Fora. O filho mais velho insistiu e conseguiu convencer a mãe a consultar um médico; conseguiu também convencer o pai a ir junto. De início partiriam bem cedo e voltariam ao anoitecer, mas o rapaz e Dona Rosa confidenciaram a Luizinho que iram pernoitar e só voltariam no dia seguinte, contudo, Seu Roberto não deveria saber disso, caso contrário poderia não ir.
Na segunda-feira, por volta das nove horas os patrões partiram. Luizinho continuou cuidando de seus afazeres como fazia todos os dias. Agora que estava sozinho, tinha mais coisas ainda por fazer e se não corresse não daria conta de todo o serviço.
Trabalhou o dia todo com afinco. Quando deu sete horas da noite o serviço já estava todo terminado e poderia entrar em casa, por água no fogo para lavar os pés e depois esquentar a janta. Em pouco mais de uma hora já poderia está dormindo. Contudo não foi isso que fez.
Antes de entrar em casa, foi até o pasto e buscou a égua. As vezes, o pobre do animal dormia preso para ser usado no dia seguinte. Aquele não era o caso, mas mesmo assim ele buscou a égua. Era um animal branco, muito bem cuidada e muito mansa também. Luzinho tinha uma intimidade com o animal, que era capaz de montá-lo em qualquer lugar sem cabresto sem nada.
Ao invés de simplesmente trancar o animal no curral, ele o prendeu no estábulo, onde o espaço e bem pequeno e não foi para dentro de casa.
Luizinho estava tão comprenetado que não ouviu Seu Roberto se aproximar.
Seu Roberto, teimoso como uma mula, não quis pernoitar em Juiz de Fora de jeite nenhum. Não teve argumentos que fizessem com que ele ficasse na cidade. O filho foi obrigado a trazer os pais para casa. Infelizmente o carro quebrou cerca de um quilômetro da fazenda e Seu Roberto viera apanhar uma cambona para iluminar e assim tentarem consertar o carro.
Quando ele ouviu algo de estranho no estábulo, aproximou em silêncio pensando em pegar um gambá ou algum outro animal invadindo sua fazenda. Mas o que ele viu foi algo que o deixou transtornado: Luizinho estava de pé na cerca, praticando sexo com a infeliz da égua.
-- O que é isso Luizinho? – perguntou, sem saber o que falar
O rapaz levou um choque tremendo; não só por está praticando algo de obsceno e imundo como pela surpresa do patrão ali, quando deveria está em Juiz de Fora. A primeira reação que teve foi pular da cerca e sair correndo. Pulou no chão, catou as calças e desapareceu na escuridão.
Seu Roberto permaneceu por alguns instantes imóvel na tentativa de refazer-se da surpresa. Foi até a casa e procurou a tal da cambona. Não demorou para encontrá-la. Foi à cozinha, pegou uma caixa de fósforos e saiu.
A luz da cambona não era forte, mas o suficiente para iluminar o caminho a sua frente. Não viu mais Luizinho, mas isso já era de se esperar. Voltou aonde jazia o carro quebrado com a esposa e o filho a espera. Não comentou nada nem com um nem com o outro. O rapaz havia cometido um ato obsceno, mas quantos e quantos rapazes não faziam o mesmo, pensou ele mais tarde.
Descobriu-se que o problema do carro era tão somente um entupimento na bonba de gasolina. Feito a limpeza, o carro voltou a funcionar e puderam chegar em casa. Dona Ana não deu por falta de Luizinho; achou que estivesse dormindo em seu quarto. Seu Roberto foi até lá, pois tinha motivos para se preocupar; contudo não o encontrou. Ficou pensativo tentando imaginar onde o rapaz estaria a uma hora dessas. Achou que talvez ainda estivesse envergonhado e estava esperando os patrões irem se deitar para entrar em casa.
Não tardou para que todos fossem dormir.
Luizinho ficou por várias horas escondido na capineira, pensando no que fazer. Haviam descoberto o seu maior segredo.
Apesar de ser um rapaz dócil, educado e muito atencioso, tinha graves problemas de relacionamento com o sexo oposto. Não conseguia se aproximar de uma mulher. Era como se ele temesse que outra pessoa invadisse sua privacidade e descobrisse algo de sombrio e pavoroso sobre si. Talvez até tivesse o que esconder, mas nada que fosse tão grave assim. Era mais uma questão psicológica e de dificuldade de relacionamento mesmo.
Ele estava confuso e indeciso. Quando era pego cometendo um erro, ficava perdido; não conseguia achar o caminho e todos pareciam não levar a nada.
Durante toda a noite Luizinho ficou ali, tentando encontrar uma saída. Quanto mais pensava, mas perdido ficava. A falta de coragem de enfrentar o patrão levava-o a pensamentos perigosos. Chegou a pensar em fugir daquela casa e não voltar mais, mas sabia que não adiantaria. Mais cedo ou mais tarde, todos saberiam o motivo de sua fuga. Teria que encontrar outra solução.
Quando Seu Roberto acordou e não viu a menor marca da passagem do empregado pela casa desde a sua chegada, concluiu que havia perdido-o. Talvez, de vergonha, Luizinho havia deixado a fazenda. Agora estava sozinho e teria que fazer todo o serviço até arrumar outro empregado. Por isso vestiu-se rapidamente e foi buscar o gado no pasto.
Meia hora depois, as vacas estavam no curral e os bezerros no estábulo; e Seu Roberto partia para a primeira ordenha.
Enquanto isso, Dona Rosa cuidava da arrumação da casa: limpava os quartos, arrumava a cama do casal e preparava o café do filho que ainda dormia tranquilamente no quarto de visitas.
Nem Dona Rosa, nem Seu Roberto, que estava agachado ordenhando uma vaca, viram Luizinho se aproximar cuidadosamente na direção do patrão. Poder-se-ia pensar que o empregado estaria indo se desculpar com o patrão; mas em seus olhos via-se a figura do demônio. Em suas mãos estavam uma ferramenta que ele sabia manejar habilmente: o machado.
Luizinho aproximou de Seu Roberto por trás e ergueu o machado acima da cabeça e toda a força cravou-o na daquele homem idoso, indefeso e inocente. O machado dividiu o crânio ao meio. Luizinho soltou a ferramenta e esta tombou para o lado junto com o corpo sem vida. A seguir, desapareceu para sempre...
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