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Artigos-->Reeleição: uma questão de renovação do discurso -- 15/11/2006 - 12:18 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O erro de muitos políticos é esquecer que foram eleitos; ficam achando que foram ungidos”.

Claude Pepper (1900-1989), Político norte-americano.



A cada período eleitoral alguns políticos se candidatam à primeira eleição ou à reeleição. No caso da reeleição, trata-se do popular “ajuste de contas” com o povo. Esse o tema desta reflexão.



O caso que mais intriga os institutos de pesquisas e os estudiosos de política é o fato de alguns políticos “bons de votos” não se reelegerem apesar de estarem “à frente nas pesquisas”. A verdade aparece quando se abre as urnas e constata-se que os votos foram insuficientes para reelegê-lo, ou seja, foi demitido pelos eleitores. Aí o tal político cai em prantos, se decepciona com o povo, culpa-o por não saber votar, culpa o adversário alegando que ele “jogou sujo” durante a campanha, falando mentiras para enganar o povo etc. Não adianta o político derrotado simplificar a situação dizendo “que o povo não sabe votar” ou “o povo não sabe o que quer”. Tanto sabe que não o reelegeu.



Quem o político nunca culpa é a si mesmo. Veja que não me refiro àquele político que se envolveu em escândalos ou teve seu nome colocado sob suspeição. O político aqui refletido é honesto, fiel às suas convicções e durante o mandato realmente procurou ajudar os eleitores e tentou cumprir as promessas de campanha. Os eleitores o têm como sério, honesto e trabalhador, só que não votaram nele novamente.



Embora tenha trabalhado com afinco e pronunciado discursos inflamados, o político “derrotou-se” quando não avaliou se sua fala estava em sintonia com o que o eleitor queria ouvir e, mais importante, se o eleitor entendia o que ele (político) estava dizendo. Este político frustrado provavelmente falava e se julgava “onipotente” no seu discurso. Se dizia X ele queria que o ouvinte entendesse X.



Claro que não se deve analisar o ponto de vista do eleitor de uma forma tão simplista. O político se derrota quando não entende a “historicidade” e a experiência que o eleitor traz consigo – seu passado, presente e sua expectativa de futuro – o que leu, viu e ouviu. O pecado de muitos políticos derrotados na reeleição é que durante o mandato ele não se ajustou a essa “historicidade” do eleitor. Embora vivendo na mesma cidade e sendo contemporâneos, tanto os eleitores quanto o político têm cada um a sua “historicidade”. Ele ganhou a eleição porque os discursos feitos durante a campanha estavam repletos de sentidos e significados para aquele momento histórico.



A derrota acontece quando o político não renova o seu discurso ao longo do mandato, ou seja, se distancia da “historicidade” do eleitor. Depois da eleição, o eleitor, a priori, não quer mais ouvir os mesmos discursos da campanha. Quando o político fala, ele imprime significado ao seu discurso e espera que o “sujeito-ouvinte”, neste caso o eleitor, interprete com total fidelidade tudo o que disse, o que não disse e o que ficou nas entrelinhas. Um erro crasso de alguns políticos é não considerar o significado do seu discurso para o sujeito-ouvinte, como o eleitor digeriu esse discurso. A cada instante o eleitor, ou ouvinte, muda de opinião sobre o mesmo assunto. Lembram da “metamorfose ambulante”?



Na sua primeira eleição o político foi eleito porque estava em sintonia com os eleitores. Político e eleitor viviam “o mesmo momento histórico” e tinham os mesmos anseios. Muitos políticos ignoram que no primeiro dia após a eleição vitoriosa o momento histórico dele começa a se distanciar do momento histórico do eleitor. Ao longo do mandato o político deve corrigir essa distância se quiser o voto do eleitor nas próximas eleições. É como guiar um carro, durante o percurso precisa-se ajustar a direção para que ele não se distancie da estrada. Vez por outra é obrigação do político se ajustar à voz do eleitorado. O eleitor vota no político porque acredita nele, gosta dele e o sente presente. Se na eleição seguinte o eleitor muda de voto, a culpa é do político que se afastou desse eleitor.



Ao sair de casa para votar o eleitor irá escolher alguém em que ele acredita, gosta e sente que o protege. Cabe a cada político mostrar isso ao eleitor. Eleitor não sente prazer em mudar de voto, ele é forçado a isso. Se alguns políticos entendessem a dor do eleitor quando tem que abandonar o seu candidato, eles zelariam mais pelas pessoas que o elegeram.



Mesmo sem maiores técnicas de análise discursiva, o eleitor faz a sua análise e interpreta conforme o passado, o presente e a sua expectativa de futuro. Os discursos que deram a vitória na primeira eleição não garantem a vitória na reeleição, por isso é que o eleitor exige a renovação de idéias e vai votar noutro candidato que ofereça novas expectativas e o aninhe.



Depois de eleger um político os eleitores esperam dele um comportamento diferente do que ele adotou durante a campanha. Se o político era briguento e turrão com o adversário, talvez esta atitude funcione apenas nos comícios. Se o político era polido e muito cordial, provavelmente os eleitores esperem dele mais agressividade durante o mandato. O político da campanha é um sujeito diferente do político eleito.



Na segunda eleição é inócuo o político repetir o discurso com que venceu a primeira. Quando discursa para uma platéia tanto o político quanto os eleitores estão considerando “o estado social do emissor, o estado social do destinatário, as condições sociais da situação de comunicação...”, enfim, ambos estão se sintonizando. Depois de eleito, as condições que os uniam, se não se alteram totalmente alteram-se em parte. E isso o político não pode ignorar, ou fazer pouco caso, se quiser abrir a urna e encontrar os seus eleitores.





Referência bibliográfica:



BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 7. ed., Campinas-SP, Ed. Unicamp, 1998.



ORLANDI, Eni Pucinelli. Discurso e leitura, 3. ed., Cortez, Campinas-SP, 1996 (Coleção passando a limpo).



________. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas-SP: Pontes. 3. ed., 2001.



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