Fernando Pessoa
maria da graça almeida
Cada qual constrói o retrato do semelhante não de acordo com as reais características, mas sim amparado pelos próprios sentimentos, pela vivência e sobretudo pelo grau de empatia estabelecido com tal personagem ou com suas obras.
Cada qual parece ser o que desperta no outro, e não o que é realmente.
A imagem que criei do Pessoa, muitas vezes, até a mim confunde.
Uma vez que aos imortais atribuem-se os mais diversos perfis, a minha opinião sobre ele é cheia de dúvidas gerais e de certezas específicas.
Esquizofrenia, psicografia ou talento, simplesmente?
Só talento, não...não, muito mais do que apenas talento, um grau de inteligência superior, vasta cultura, abundante conhecimento e um espírito precocemente envelhecido.
Passou pela vida, apressado, e, ainda assim, foi como se, vagarosamente, tivesse vivido centenas de anos. Amadurecimento não adquirido, maturidade inata.
Poesia a transpirar filosofia. Filosofia a poetizar a vida, o amor, a terra o cotidiano de um homem apaixonado pelas letras e pronto para compartilhar experiências e sentimentos.
Visão simplista? Pode ser...
Freqüentemente me pergunto: por que viveu tão pouco?
E eu mesma me respondo: e precisava mais?
Para falar dele basta o nome: Fernando Pessoa, em pessoa e nome ou em heterônimos.
Tão-só?
E necessita mais?
Vidas somadas, inspiração multiplicada!
O alumbramento, advindo de fontes diversas, fez do homem um poeta múltiplo e do poeta, um artista plural.
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