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Artigos-->Ouro Preto é assim... -- 05/01/2007 - 19:26 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ouro Preto é Assim

Em julho de 2006, visitei Ouro Preto. Quando cheguei à cidade já era noite fechada e, no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), o termômetro marcava 10º C. O guia Rodrigo da Silva mostrou-me as opções de lazer na cidade e também a dificuldade de encontrar vaga para me hospedar, pois, naqueles dias, acontecia o Festival de Inverno, que atraíra muitos turistas. Pacientemente, ele telefonou em vários hotéis e pousadas à procura de uma vaga. Escolhi três pousadas para conhecer, as únicas que ainda não estavam lotadas. Sendo já tarde, eu tinha de encontrá-las logo, pois, no CAT, havia outras pessoas à procura de estadia. Como eu não conhecia a cidade, levaria muito tempo procurando os endereços. Foi então que o Rodrigo se propôs a ir comigo. Em cada pousada, ele tomava a frente da negociação, se informava dos preços e me dizia as vantagens e desvantagens de eu me hospedar ali. Como demoramos a achar o local ideal, imaginei que ele me cobraria uma fortuna pelos serviços, já que, desde quando cheguei até a hora que ele me deixou hospedado, passaram-se cerca de duas horas de trabalho numa noite fria. Quando perguntei a ele o quanto eu pagaria pelo serviço, para minha surpresa, ele disse que não cobraria nada, pois o serviço seria pago pelo convênio que o Centro de Atendimento ao Turista tem com a Associação Comercial. Ele poderia ter omitido essa informação, ter-me cobrado um preço pelo seu trabalho, mas sua ética falou mais alto. Citando-o aqui é como posso elogiá-lo.

No dia seguinte, fui ao restaurante Máximus Colonial, na Rua Direita, nº 151. O homem que estava no caixa, acredito eu, era o dono do restaurante. Ele tinha um jeito especial de se preocupar com o andamento dos trabalhos e de orientar os funcionários. Eu estava próximo ao caixa, quando chegou um casal de turistas perguntando se ali aceitava determinado cartão de crédito. O moço do caixa respondeu que não, “não trabalhamos com este cartão”. “Ah, tá. Obrigado! É porque ainda não passei no banco pra pegar dinheiro.” Comentou o freguês num tom despreocupado. “Não seja por isso! Podem entrar e se servir à vontade, depois o senhor passa aqui e me paga.” Respondeu o moço do caixa, convidando-os com muita cordialidade e um sorriso de boas-vindas. O casal, então, aceitou o convite. À saída, tentei elogiar o restauranter, mas não foi possível, era grande o movimento de pessoas em volta do caixa, que ficava próximo à única porta do estabelecimento. Dei-me por satisfeito em pegar um cartão que estava sobre o balcão.

Dias depois, no início de uma tarde ensolarada, embora fria, comprei um refrigerante e me sentei no monumento a Tiradentes, que fica bem no centro da cidade. Ali havia também outras pessoas sentadas nos degraus tomando banho de sol. Juntei-me a elas e fiquei observando o vai-e-vem dos moradores e turistas, diga-se, mais turistas que moradores, enquanto alguns jovens praticavam capoeira na calçada.

Lá pelo meio da tarde, observei uma adolescente orientando os motoristas que chegavam ou saiam do estacionamento. Para os que chegavam, ela dizia: “Olá, sou Carmina e pode deixar que eu cuido do seu carro”. Para os que saíam: “Seu carro foi bem cuidado”. Alguns motoristas davam-lhe umas moedas, outros sorriam e agradeciam, mas poucos eram indiferentes àquela jovem de blusa e tênis cor vinho, calça jeans escura, pele clara, cabelos à altura dos ombros e mais alta que as meninas da sua idade.

Percebi que ela guardava latas de alumínio numa sacola plástica de supermercado, e, num certo momento, ela pediu a minha lata de refrigerante. Com essa aproximação, puxei conversa perguntando sobre a cidade. Pergunta vazia, apenas para puxar conversa. Muito atenciosa, ela se sentou num degrau abaixo do meu e ficou surpresa quando eu disse que morava em Brasília e, com enorme curiosidade, perguntou-me se eu já havia visto o Presidente Lula. Disse que sim, várias vezes, e perguntei se ela gostaria de conhecê-lo. “Sim, lá no meu colégio a professora de Geografia falou que ele vai vim aqui.” (sic) Ela também falou que tinha um casal de irmãos mais novos e, como gostava de cuidar das pessoas, queria ser enfermeira quando crescesse. Conversamos ainda por um longo tempo. Ela muito agradável, dividida entre mim e o estacionamento.

Ao fim do dia, apareceu o Circo de Volante,* cantando cantigas de roda e marchinhas carnavalescas, acompanhado por uma pequena multidão. Quando o circo emparelhou ao monumento, despedi-me de Carmina, desejei-lhe boa sorte e me misturei ao cortejo. Dançando e cantarolando, seguimos nessa farra até o pátio da Universidade, onde a Orquestra Tabajara nos aguardava, e embalamos até alta madrugada.

Pois é... Ouro Preto é assim!









*Circo de Volante é uma imitação de carrinho de pipoca, com alguns alto-falantes na parte de cima. Compõem o circo: músicos que tocam violão, surdo e sax, o rapaz ao volante que dirige o carrinho e uma moça suspensa numa perna-de-pau, que dança, pula e remexe as cadeiras como ninguém àquelas alturas.



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