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Artigos-->É POSSÍVEL PREVER A OCORRÊNCIA DE PRAGAS? -- 21/05/2000 - 03:35 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É POSSÍVEL PREVER A OCORRÊNCIA DE PRAGAS?



Paccelli M. Zahler



As pragas agrícolas, na maioria das vezes, surgem nas lavouras como resultado do desequilíbrio causado pela intervenção do homem no ambiente. Isto significa que, para implantar um pomar, uma horta ou um cultivo extensivo, há necessidade de se desmatar uma parte do ecossistema, no qual vegetais, animais e o meio abiótico estão em um equilíbrio relativo. Entretanto, em determinadas ocasiões e condicionadas por mudanças climáticas favoráveis, podem ocorrer explosões populacionais que, devido à competição por alimento e à ação dos predadores, acabam voltando ao equilíbrio anterior.

Em um agroecossistema, as coisas são diferentes. Normalmente, ele é constituído por uma só população vegetal (soja, milho, arroz ou feijão, por exemplo), a qual se constitui em uma excelente fonte de alimento para insetos e de substrato para o desenvolvimento de fungos, bactérias e vírus fitopatogênicos. Basta uma pequena mudança nas condições ambientais (em geral um aumento da temperatura ou da umidade) para que uma doença se instale ou para que uma população de insetos aumente consideravelmente e passe a se alimentar da cultura causando grandes prejuízos econômicos.

Sabe-se, com certeza, que alguns fungos e insetos têm a sua população aumentada ou favorecida por elementos climáticos. Por exemplo, a ferrugem do trigo (Puccinia graminis tritici), além de Ter estrutura especializada para a disseminação pelo vento, tendo sido transportada do México ao Canadá por correntes aéreas, leva apenas 5 dias para se desenvolver se a temperatura do ar permanecer próxima de 23,7 °C; os insetos, por sua vez, mantêm a sua temperatura corporal próxima à do ambiente, atingindo seu maior desenvolvimento e maior produção de descendentes quando a temperatura fica cerca de 25 °C.

Pode-se inferir então que, sabendo-se quais as condições mais favoráveis para o desenvolvimento de um patógeno ou de um inseto e as mesmas sendo verificadas em condições de campo, é possível prever, com relativa precisão, o seu aparecimento e tomar as medidas necessárias para o seu controle.

Ainda hoje, muitos agricultores aplicam produtos químicos de maneira "preventiva" e sem nenhuma orientação técnica. Graças a isso, os alimentos chegam à mesa dos consumidores com doses elevadas de resíduos tóxicos e, ao invés de nutrirem, acabam sendo agentes de muitas doenças, dentre elas, o câncer. Para se ter uma idéia, os cultivos de morango, tomate e batata podem ser pulverizados de 3 a 5 vezes por semana, sem o devido respeito ao "período de carência", ou seja, ao período de tempo entre a última pulverização e a colheita.

Sabendo-se qual o período mais favorável ao aparecimento de uma praga ou doença, a pulverização pode ser feita de forma racional, com o produto específico e na dosagem correta para solucionar o problema. Dessa maneira, é possível reduzir o número de aplicações e, conseqüentemente, a quantidade de resíduos tóxicos nos alimentos assim como os custos de produção.

Para se conhecer o período mais favorável ao aparecimento de uma praga, além dos estudos de sua biologia em condições de laboratório, é necessário contar com uma rede de observadores de campo, para que enviem semanalmente amostras para um laboratório central com vistas ao diagnóstico preciso do organismo que está atacando a cultura. Com o passar do tempo, tais informações podem ser processadas em um computador, possibilitando a determinação do período de maior probabilidade de ocorrência da doença ou praga de importância econômica.

Tal informação, conjugada com dados climáticos daquele período, permitirá que se chegue às condições climáticas favoráveis ao aparecimento do referido organismos, desde que este seja influenciado pela umidade relativa do ar, período de molhamento da folha, temperatura, etc. e assim chegar-se a um modelo matemático que estime, com a maior precisão possível, a probabilidade de ataque para que o produtor tenha condições de tomar algumas providências para a proteção da cultura, dentre elas, a pulverização com agrotóxico específico e seletivo, recomendado por um engenheiro agrônomo, mediante receituário.

Durante a elaboração do modelo matemático, todos os fatores controláveis que condicionam o aparecimento da praga ou da doença devem ser eliminados como, por exemplo, o manejo inadequado da água de irrigação, o uso de sementes ou mudas contaminadas, o baixo nível tecnológico dos produtores. Portanto, é recomendável trabalhar em uma região com microclima uniforme, com produtores de mesmo nível tecnológico e que aceitem passar por um treinamento para entender e saber usar as informações geradas pelo sistema de previsão de ocorrência de doenças e pragas dos vegetais.

Devido ao grande número de informações necessárias para se chegar a um bom modelo, a previsão só tem sido viável para um pequeno número de culturas de importância econômica, geralmente frutíferas, como por exemplo, macieira, pereira, marmeleiro, pessegueiro e nogueira pecan. Para as demais culturas, o que tem dado bons resultados é o monitoramento através do uso de armadilhas e da observação direta do número de insetos por folha ou por área da plantas; e da percentagem da área foliar atacada por algum patógeno (bactéria, fungo ou vírus).

Na Europa, além da experiência de décadas na coleta de dados no campo e da integração pesquisa-extensão rural-produtores, já é possível determinar com antecedência os períodos de maior probabilidade de ataque através de equipamentos que conjugam a coleta de dados microclimáticos com a informática e a biologia das pragas. Tais aparelhos, desenvolvidos pela indústria com a assessoria de instituições oficiais de pesquisa e a colaboração dos produtores rurais, são instalados no interior das lavouras, hortas ou pomares e registram os dados microclimáticos (umidade e temperatura da folha, a umidade relativa do ar, a temperatura do ar à sombra, a temperatura do solo, a precipitação pluviométrica), transmitindo-os a uma unidade central. Esta processa os dados em um programa de computador específico para cada doença ou praga. Assim, existem programas específicos para o controle do míldio da videira, da batata e do tomateiro, indicando o perigo de infecção e o número de horas desde o momento em que o perigo da infecção começou.

Também existem programas específicos para monitorar o desenvolvimento de ovos de insetos, calcular os graus-dia (importantes na previsão do crescimento e da fenologia das culturas e do ataque de pragas); a quantidade de produto químico após uma chuva, importante para que o agricultor saiba se há necessidade de fazer uma nova pulverização, e a determinação do risco de geada, permitindo uma maior eficiência e economia na proteção da lavoura.

O Brasil ainda não dispõe, até o momento, de uma tecnologia desse porte. Primeiro, porque a maior parte do seu território possui um clima tropical e os programas de computador existentes foram desenvolvidos para pragas e doenças que ocorrem em clima temperado e teriam que ser adaptados para as condições brasileiras. No entanto, poderiam ser perfeitamente utilizados nos Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), cujo clima é intermediário entre o subtropical e o temperado. Segundo, não dispõe de muitas pesquisas que determinem as condições microclimáticas favoráveis às pragas e doenças dos vegetais de importância econômica que aqui ocorrem, o que deveria ser implementado.

Uma experiência pioneira vem tendo lugar desde 1987, em Pelotas, RS, com a criação da Central de Alertas Agrometeorológicos do Sul (convênio EMBRAPA/UFPel/INMET), que coleta dados meteorológicos da Estação Agroclimatológica da Universidade Federal de Pelotas, os processa e emite Alertas Agrometeorológicos, através dos meios de comunicação disponíveis (rádio, jornal, televisão, telefone, fax) para os agropecuaristas, informando sobre os períodos favoráveis à ocorrência do míldio da batata, a quantidade de água necessária para a irrigação das culturas, o risco de resfriamento dos cordeiros, o risco de ocorrência de geadas e de podridão parda do pessegueiro, a necessidade de suplementação alimentar do rebanho e os períodos mais adequados para a pulverização das lavouras.

Quem sabe, em um futuro próximo, a prática da previsão de doenças e pragas dos vegetais esteja difundido por todo o país, ajudando o agropecuarista a produzir alimentos mais saudáveis e com maior economia.



(Publicado na Revista BRASÍLIA nº 67, abril/maio/1995, p. 32-33)



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