DEVANEIO
Preciso de ar, de espaço para respirar.
Elevar os braços para o céu
E sentir o vento nos meus cabelos.
Quero andar ao léu, sem destino.
Amar todas as mulheres
Que encontrar no meu caminho.
Queria que você estivesse sempre a me esperar,
Porque você é meu próprio sangue.
Você é o ar que respiro.
Mas, apesar de tudo que você representa para mim,
Você me cansa também.
Não é culpa sua,
Talvez seja por causa da minha incoerência
Que nem Freud consegue explicar.
Eu queria lutar no Vietnã,
Ao lado dos vietcongues,
Combater toda forma de opressão,
Toda injustiça social.
Não mais mulheres vendendo o corpo
Para alimentar os filhos.
Não mais velhos mendigando nas filas de ônibus.
Não mais crianças chorando de fome pelas esquinas.
Não mais a infâmia do casamento,
Chaga social que corrói a dignidade,
O amor próprio
E é um crime contra os direitos humanos.
Eu preciso me embriagar com outras mulheres,
Beber o amor em outros cálices
Até sentir a sua falta outra vez.
Então eu volto.
Recife, 16 de junho de 1979.
|