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Poesias-->NÃO VIOLÊNCIA PASSIVA -- 19/07/2002 - 00:57 (Ricardo Barreto Ferreira) |
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NÃO VIOLÊNCIA PASSIVA
Do alto da minha sabedoria
Contemplo o mundo e sinto pena.
Pena dos que não têm onde morar,
Dos que não têm o que comer.
Sinto pena mas reprimo os meus sentimentos.
Logo estarei em paz com a minha consciência.
Que me importa se mataram
O economista durante um assalto?
Quem mandou ele sair à noite?
Que me importa se estupraram
A irmã da minha empregada?
Minhas filhas não andam sozinhas.
Que me importa se poluíram os rios,
E o mar ficou coalhado de peixes mortos?
Eu não gosto muito de peixe mesmo.
Ninguém me fará reagir ante as injustiças.
O mundo é deles também.
Se poluírem a terra
Os filhos deles vão padecer
Da mesma maneira que os meus.
Vou me defendendo como posso,
Trancando portas e janelas.
Sair à noite? Nem em sonhos.
Se aumentam os impostos
E diminuem o meu salário,
Corto algumas coisas não essenciais,
Diminuo o consumo de água, luz, etc.
Para a comida pelo menos
Eles têm que deixar alguma coisa.
Eles não são burros,
Não vão me matar de fome,
Pois precisam do meu trabalho.
Enquanto puder trabalhar
Não morrerei de fome.
Não adianta, não vou reagir.
Enquanto tiver um barraco para
Dormir, uma roupa para vestir
E um pedaço de pão para comer,
Eu não reagirei!
Recife, 07 de setembro de 1983.
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