Usina de Letras
Usina de Letras
137 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62159 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22530)

Discursos (3238)

Ensaios - (10345)

Erótico (13567)

Frases (50571)

Humor (20027)

Infantil (5422)

Infanto Juvenil (4752)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140790)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->50. A SAGA DE SAMUEL — IV — A ENTIDADE AUSENTE -- 26/05/2002 - 06:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dentre os que precisavam volver ao plano da matéria, conforme acordo selado entre Davi, Ester e os espíritos que lhes integrariam a família, estava um derradeiro que, à vista da amarração da trompa da mãe, não poderia vir à Terra de modo absolutamente regulamentar. O pai se demonstrara potente, apesar dos graves percalços, mas Ester se via totalmente impedida. Como cumprir a promessa sem ofensa a quem quer que seja?

Eis o grave problema que se punha a Samuel pelo tempo em que Isaac estava a treinar os grupos de infantaria.

A primeira providência que lhe pareceu inadiável foi reunir-se durante o sono com o casal e solicitar parecer a respeito de determinada idéia que lhe surgira. Surpreendentemente, ambos anuíram em aceitar a vinda do pequeno João, desde que se pudesse obter o alvará das demais entidades que se veriam envolvidas no affaire.

Tudo combinado, pôde Samuel dar curso ao projeto.

Em ensolarada tarde de verão, chega ao ateliê de Davi certa carta do jovem tenente israelense, em que narra as peripécias dos combates. Desarvorado com a crueza da narrativa, em que o filho põe a nu a tendência ao sangue e ao extermínio, Davi corre à casa de Sara para ouvir da amiga o consolo da voz benfazeja.

Lá chegando, encontra-a a banhar-se na piscina da residência, local sossegado e discreto, onde os fâmulos só penetravam a chamado, dado o hábito de a anfitriã tomar sol desnuda. Desse encontro, único e decisivo, é que se ensejou a João tomar corpo terreno.

O velho marido bem queria um filho e tomou a si a paternidade, de modo que tudo se camuflou adequadamente para o efeito cármico. Só Davi e Sara conheceram a origem da personagem que se introduzia em nossa história, embora, em espírito, todo o grupo soubesse a procedência do pequenino ser que se formava.

Ao cabo de sete meses de difícil gestação, veio ao mundo João, assaltando as forças energéticas da idosa mãe e pondo em polvorosa a equipe médica da maternidade.

Esse chegar tumultuado parecia prometer distúrbios de maior extensão. No entanto, João acomodou-se no novo lar, sob o embalo amoroso do pai adotivo, que via no pequeno a realização afinal dos íntimos anseios de vida. Intuiu que aquele ser era o predestinado por Deus para dar-lhe as últimas satisfações.

Dois anos depois, todavia, João ficou órfão, sob a única responsabilidade de Sara. Davi era freqüente durante a vida do marido da amiga. Tornou-se praticamente da casa, após a morte, de modo que, abertamente, protegia o filho, que muito se assemelhava a ele nos traços corretos e nos trejeitos psicológicos. Se, com o pai, João se deu bem, com Davi irmanou as aspirações e os gestos. Era outro artista com potencial imenso.

Sara cedo compreendeu a ascendência do verdadeiro pai e temeu pela segurança moral do filho, entretanto, as tentativas de afastar os dois resultaram inócuas.



Samuel, no plano espiritual, desdobrava-se para dar conta de todas as solicitações de amparo. Isabel crescera absolutamente ausente do mundo. De esplendorosa beleza, não via na humanidade senão súditos a se constituírem em tapetes sobre que desejava eternamente desfilar. Josias e Marcos davam-se extraordinariamente bem e, por isso, apresentavam para Samuel risco de incalculável monta na soma das perfídias que imaginavam. A azáfama do protetor era imensa e as lucubrações que tinha de realizar para impedir a submersão da família nos vícios ocupavam-lhe todo o tempo.

Certa ocasião, tantos eram os perigos a rondar os pupilos que convocou reunião extraordinária de todos para poder colocar certa ordem. Nada conseguiu porque os instrutores não permitiram a união da família no plano espiritual, e Samuel viu-se em palpos de aranha para impedir que a dupla fosse tragada pelo vício da cocaína. Na última hora, o máximo que alcançou foi alertar a força policial para impedir o consumo do narcótico, provocando sério abalo no instável equilíbrio familiar.

Os jovens freqüentavam o terceiro ano universitário, de modo que a repercussão na faculdade foi decisiva para obrigá-los a se retirar do meio dos jovens mais honestos, caindo sob a influenciação direta daqueles que, experimentados nos vícios, não titubeavam no emprego dos recursos mais vis para captar compradores para a mercadoria.

Mas Samuel continuava atento e imaginou plano de contra-ataque rigoroso que sustasse de vez a atração que a droga estava exercendo sobre os bisnetos. Chamou Davi à espiritualidade e manteve com ele longa conversa noturna. Ao acordar, Davi veio com a idéia clara do que fazer: iria separar os irmãos, para facilitar o ataque às deficiências. Certo da tendência do mais novo à gerência dos negócios, propôs-lhe a direção da galeria, em troca da mais rigorosa responsabilidade. Davi dedicar-se-ia com exclusividade à criação artística, ao mesmo tempo que poderia cuidar da educação do jovenzinho produto do arroubo extraconjugal.

Josias, só na faculdade, procurou consolo feminino, não lhe sendo difícil encontrar vários ombros em que se apoiar.

Reequilibradas as coisas, chegou do longínquo Oriente o fatídico comunicado oficial sobre o trespasse de Isaac. Longe de se verem unidos os irmãos pela tragédia familiar, tudo pareceu levá-los à separação.



Por essa época, Sara investia firme na educação do querido João, para quem almejava a carreira advocatícia, sem, contudo, forçar a tendência artística a se desfazer. Ao contrário, incentivava e intensificava as aulas, na expectativa de que o adolescente viesse a desistir dessas atividades, dada a inconstância que se nota nos indivíduos por essa idade. Mas João era firme em seu desiderato, de forma que o plano da mãe terminou não se realizando. Por outro lado, o fato só estimulou Davi a estabelecer roteiros bem precisos para o desenvolvimento do interesse artístico do filho.

João, assim, pôde dar vazão às tendências atávicas mais profundas, liberto para a vida dissoluta e protegido pela preeminência social e econômica do benfeitor. Estava pronto para a falência moral mais completa.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui