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Contos-->50. A SAGA DE SAMUEL — VII — A CHEGADA DE RUTE -- 29/05/2002 - 06:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ananias havia previsto, no plano espiritual, que Samuel iria fracassar em todos os misteres em que se envolveria de início. Por isso, pleiteou junto aos maiores que destinassem alguém para secundá-lo nas tarefas de bem orientar o pobre instrutor.

É preciso dizer-se que Ananias era o mentor e guia de Samuel, a quem cabia a responsabilidade de amparar na caminhada redentora.

Sendo de bom aviso, a solicitação foi atendida, para o que se enviou a Rute, espírito de muito amor e perfeição, que desejava reingressar na esteira do bem a ser praticado junto à esfera terrestre. Queria aumentar seu índice de benemerências, para o que iria em busca de mais alguns bônus no âmbito da boa vontade e da caridade.

Inteirada das ocorrências no seio da família de Davi, providenciou desde logo que Isabel pudesse lograr algumas vitórias sobre o mal, uma vez que Samuel pouca atenção dera à jovem senhora ou velha senhorita, conforme o prisma sob que fosse apreciada. Após minucioso estudo de seu retrospecto cármico, concluiu que deveria intentar a sorte na maternidade, mesmo que à custa de penosos sacrifícios.

Mas Rute não poderia atuar sozinha, senão com o concurso de Samuel, responsável direto pelos eventos em favor do crescimento moral de todos. Sendo assim, identificou-se perante o mentor familiar e determinou-lhe que envidasse esforços no sentido de concretizar os objetivos colimados.

Samuel não via com bons olhos a interferência dessa assessora inesperada e intentou argumentar contrariamente à propositura, defendendo a tese de que Isabel se daria melhor na criação e educação de alguma entidade chegada aos seus cuidados por meio da ajuda de outras mulheres mais aptas para a maternidade.

Diante, contudo, da exposição da folha de compromissos da encarnada, onde constava, de modo expresso, que deveria dar guarida em seu seio materno a três criaturas endividadas, cedeu e partiu para a organização de plano específico.

Em suas lucubrações, Samuel não via possibilidade de casamento, pelo menos dentro dos acanhados padrões da raça. Se pudesse influenciar, iria conduzir à esfera da convivência de Isabel algum senhor desapegado de qualquer religião oficial, o que poderia até constituir-se para ele em meio de aproximação do Criador. Mas as pesquisas apontavam, irremediavelmente, para jovem de apenas vinte e cinco anos, dez menos que a pupila. Seria este relacionamento absolutamente difícil e conturbado. Nessas excogitações, deixou transcorrer um ano inteiro, de modo que o tempo de que dispunha para três partos estava imensamente reduzido.

Pôs-se, então, a campo para ver se havia possibilidade de trigêmeos. Como Isabel, desde há muito, regulava a menstruação através de pílulas anticoncepcionais, não só para não engravidar mas, principalmente, para tornar previsíveis os fluxos, viu no fato Samuel a possibilidade de interferir nos aspectos fisiológicos envolvidos e realizar o seu objetivo. Mas Isabel precisava aceder à gestação e à maternidade e esse parecia ser obstáculo difícil de contornar.

Samuel, neste ponto, convidou Rute para observação “in loco” da problemática da consecução do plano. Esta, entretanto, incitou-o a que mantivesse acesa a chama da esperança e que conservasse a fé e a confiança em que Deus é pai misericordioso, mesmo quando os indícios contrariam as expectativas. Que Samuel se limitasse a obter do jovem destinado à paternidade a aquiescência formal para o evento. Que essa declaração fosse explícita e rigorosamente fiel às expectativas consignadas em sua folha de serviços no orbe, durante o presente encarne.



Na saída do clube onde ia “malhar” diariamente, Isabel trocava olhares com jovem gerente de firma de representações que trabalhava no lado oposto da rua. Tais insistentes olhares estimularam a aproximação dos dois.

A revelação do caráter de Carlos nos conduziria para rumos insertos na conceituação psicológica das características da alma dos encarnados. Digamos que tivera infância desvalida e que lhe faltaram os carinhos maternos, apesar de a mãe estar ali bem viva e atuante na família, que conduzia com mão de ferro. Por isso, gostava de mulheres mais velhas, para buscar em seus regaços o conforto dos seios maternos que lhe foram negados. E Isabel tinha-os fartos e belos.

Após breves contactos formais, a experiente moça viu na expressão admirativa do rapaz a capacitação do amor e, examinando a própria vida e o esforço que fazia para se manter esbelta e bonita, considerou que, nessa idade, o casamento com jovem de tanto futuro poderia representar o seguro previdencial para um restante de vida absolutamente tranqüilo. Fez os cálculos das idades, desconsiderou a diferença como significativa e se viu, aos setenta anos, ao lado da figura atlética de um senhor de sessenta.

Isso prometeu de si para consigo mesma. No entanto, ao sondar as possibilidades do enlace matrimonial, esbarrou com séria oposição da terrível matrona que vigiava indócil as investidas amorosas do filho, sempre disposto a se aproximar de mulheres mais velhas.

Quando se encontraram, conheceram-se e a mãe farejou logo que a moça viera com a intenção de ficar. Chamou o filho à parte e disse-lhe, ex-abrupto, que se desfizesse do relacionamento.

Carlos, diante da intransigência materna, correu para Isabel, para o conforto e a compreensão da pessoa querida. Esta o recebeu com extremo carinho e, espírito prático, expôs à minúcia seu planejamento de vida, de modo sincero e leal.

— Se você me der filhos, — disse-lhe o jovem —, serão o fruto do nosso amor.

Assim se encomendaram três frutos de uma só vez, sem que o casal se apercebesse do fato. Dinheiro não seria obstáculo, pois Isabel era dona de várias propriedades e sua renda seria bem elevada, principalmente pela expectativa da participação na herança dos pais.

Escondeu o quanto pôde a gravidez, junto à família, até que, por viva voz, declarou à mãe e ao pai que iria constituir família, mudando-se para confortável apartamento que fizera desocupar pelos inquilinos e que mobiliara secretamente.

Assim, de um dia para outro, ei-la instalada ao lado do jovem, que, por razões sentimentais evidentes, decidiu firmar socialmente o compromisso, enlevado pelo amor que lhe abria as portas à felicidade.

Em bela tarde primaveril, a noiva, em discreto vestido de organdi de seda, trazendo casto ramalhete de rosas também brancas, mal disfarçando as emoções daquela circunstância insólita, com o ventre demonstrando de maneira inequívoca a presença dos que ingressavam na vida, recebeu do parceiro inebriado pela paixão a aliança que selava, definitivamente, o seu relacionamento diante do juiz de paz.

Orgulhosamente, a mãe de Carlos não compareceu à cerimônia civil, mas lá se encontravam os pais, os irmãos e demais familiares de Isabel, como testemunhas mui felizes daquela união. Mais tarde, a sinagoga abriria a porta lateral para íntima cerimônia religiosa, de modo que, para Isabel, Carlos quebrou a taça, na esperança de sorver dos olhos da esposa e da existência o cálido licor da vida.

Seis meses depois, após tumultuada gestação, aportavam as três criaturas prognosticadas pelo Alto para fazerem parte das preocupações de Samuel, o qual, chamado por Ananias, ao lado de Rute, ouviu dele as mais efusivas congratulações pelo bem sucedido planejamento. Incompreensivelmente, Rute recebeu também vários encômios, tendo acrescentado ao ativo diversos bônus. Samuel estranhou mas calou-se na expectativa de que os pensamentos fossem lidos e alguma explicação dada. Mas Ananias limitou-se a dizer:

— Não se preocupe, bom amigo. Se os netos de Davi lhe derem muito trabalho, Rute irá auxiliá-lo, de modo eficaz, a resolver os problemas supervenientes. Por ora, dedique-se a Josias, que está à beira de sério deslize. Vá com Deus e ore muito para que se lhe faça a luz da compreensão dos mistérios que encobrem os feitos do Pai. Vá com Deus!



Samuel desconhecia que Josias corria qualquer risco. Viu-o sorridente e amável para com todos na festa que se seguiu ao casamento. Encontrou-o amigo de todos por ocasião da délivrance dos trigêmeos, distribuindo sorrisos e charutos a quantos foram levar as congratulações à mãe e felicitações ao pai. Registrou-lhe inclusive a intenção de ser o porta-voz da boa nova junto à sogra da irmã, para intentar, através da notícia dos netos, fazê-la compreender que a vida tivera curso natural e que era necessário amparar afetivamente o casal e dar-lhe recursos emocionais condizentes com a tarefa imensa de criar três pequeninos ao mesmo tempo.

Registrou a intenção, verificou a boa vontade mas notou que o ímpeto feneceu assim que percebeu que um dos irmãos do jovem pai lhe trazia curto lembrete da mãe, oferecendo-lhe evasivamente seus cuidados, se viesse a deles precisar. Friamente, mandava dizer ao filho que o amava e que o guardava no coração, e tanto gelo acabou por esfriar-lhe o ânimo.

Josias, portanto, hesitava nas atitudes de amor e caridade. Conhecia o bem e sabia o caminho para atingi-lo, mas não se dispunha a pôr-se em ação. Que lhe acontecera para transformar-se em ser de tanta pusilanimidade, quando, dos quatro irmãos, era o que mais equilíbrio demonstrara desde os tempos da faculdade, quando se enamorara pela colega com quem viera a casar-se e de quem tivera três belos filhos? Que ocorrera no âmbito da consciência desse pai extremado e carinhoso marido, para levá-lo a titubeios e indecisões que, em outra época, não demonstraria?

Eis os problemas que se punham à consideração de Samuel, que não hesitou em ir a campo para as investigações.

“Se cada efeito tem sua causa”, pensava ele, “não será difícil de descobrir o que fez Josias desviar-se do habitual padrão. Vamos percorrer-lhe a vida, consultando inicialmente os registros cármicos à disposição.”

E lá partiu o instrutor, esquecido já dos problemas relativos à sua ciumeira e disposto a desdobrar-se para reencaminhar o discípulo à senda do bem, na realização maior de seus objetivos de vida.

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