Prezado Fernando,
Há momentos sazonados para escrevermos as nossas cartas: tais como o que flui, repleto de ásperos e tormentosos acontecimentos, cortando a pele da gente como se fosse uma faca afiada, deixando o sangue escorrer vivo e terrível como se fosse uma tinta rubra e incandescente.
E eu fico refletindo e me culpando de que concorri, com a minha santa ingenuidade, para cevar a fera que agora ruge para nós como se estivesse possuída do demo.
Diz o ditado: não dê asas à cobra, mas eu dei, desafiei a sabedoria popular, julguei que a vida é conto da carochinha, mas não é.
E o pior de tudo, caro amigo, é que lá fora, infelizmente, o mesmo quadro gris, a mesma e monótona tristeza, o ramerrão de coisas mal resolvidas e a nossa pátria caminhando para um lugar que a gente nem bem sabe qual é, embora adivinhe...isto é, palpite, torcendo muitissimo para estejamos errados.
Pelas mensagens via internet que você me envia, posso perceber a sua enorme vontade de ver o nosso país no rumo certo, entrando num ritmo de melhor distribuiçãO da renda, fugindo da globocolonização de que nos fala o Frei Betto, dando oportunidades de emprego à juventude que ingressa na faixa de trabalho, com uma justiça mais célere, com um legislativo que legisle, com um executivo que preze mais os nossos valores e nosso patrimônio, que se modernize utilizando as coisas boas que a modernização proporciona, escoimando, evidentemente, a glorificação do mercado como uma deus faminto e insaciável que, tal e qual o bicho Come-come dos primeiro joguinhos eletrônicos, se a gente bobear, ele devora.
Eu, também, caro Fernando, tenho os mesmíssimos ideiais, sou embalado por sonhos idênticos.
Na verdade, apesar de todos os pesares, sou otimista(li demasiadamente os livros infantís das fadas e dos finais felizes), acredito piamente na bondade infinita do Criador e, com toda certeza, mais hoje, mais amanhã, estarei vendo o triunfo do bem. a concretização de todos esses sonhos longamente acalentados.
Um abraço fraterno |
