Se próximos ficam pontos,
juntinhos, lado a lado,
nossos olhos ficam tontos,
não vê nenhum separado.
Tão juntos, eles parecem
aumentar a sensação
de que mais se enrijecem,
pra mostrar a direção.
Esta cadeia, afinal,
distingue-se como novo
elemento visual__
linha, na língua do povo.
Do mesmo modo, um ponto
que está em movimento,
ou que já virou um conto,
é linha neste momento.
De lápis ou de caneta,
linha tem contínua marca,
atravessa o planeta,
na direção que abarca.
Se em artes visuais,
energia linha tem.
Por virtudes naturais
cresce quem ela contém.
Linha nunca é estática.
Ela se mexe e pergunta
mais que bebê, fanática,
se ao esboço se junta.
Onde quer que útil seja,
pra mostrar de alguém a graça,
é ela quem nos enseja
antever o que se traça.
Sem a linha, a visão
jamais desenvolveria
nenhum dom de percepção,
em nada aguçaria.
Fluidez, simplicidade,
e o seu contínuo traço,
reforçam a liberdade
do tentar algo que faço.
Porém, ela não é vaga.
Tem intenção, direção,
segue sempre sua saga
pra uma definição.
Assim, a linha será
técnica e rigorosa,
nos projetos estará
como parte preciosa.
Em gráficos de mecânica,
bem como arquitetura,
ou desenhos de botânica,
é essência da feitura.
Ela faz representação
em qualquer uma escala,
onde alta precisão
ultrapassa a cabala.
O que ainda não há
só pode ter existir
se, quem o imaginar,
com a linha exibir.
Nas letras e em sistemas
que exprimam notação,
está presente nos temas
e símbolos, de fundão.
Na arte, porém, mais tem
de útil em um desenho,
sistema que nota bem,
sem um outro desempenho.
Informação captura
o que vê, reduzindo
e tirando a gordura,
e pinta o que é lindo.
É nestes sóbrios suportes
que ficam nossas maestrias:
em pontas-secas, águas fortes,
xilogravuras, grafias.
Muitos dos tons de espírito
como formas são expressos
duma linha, num só grito,
que assume sem excessos.
Será muito imprecisa
e, também, sem disciplina,
quando a fim de esboços
ilustrar a graça fina.
Delicada e com ondas,
ou nítida e grosseira,
nas mãos vão como sondas
do artista de primeira.
Hesitante, meio tonta
e muito perguntadora,
dos visuais só aponta
o que a faz caçadora.
Pode ser tão pessoal
quanto é um manuscrito,
como rabisco neural,
refletindo mais um fito.
Mesmo em mapas, projetos,
engrenagens muito frios,
ela revela trajetos
e visões de senhorios.
Muito rara "in natura",
é vista no ambiente,
seja numa rachadura
ou num fio reluzente.
Entre dois tons ela fica.
De ambos, como vizinha,
a quem transita explica
quem são eles e a linha.
Só não contorna a graça,
que nunca limite terá,
para o bem ou desgraça
de quem não a desenhar.
***
Com os cumprimentos do Tim, crente
em elementos básicos da comunicação
visual, filho de mulher de boa forma
e servo da linha sinuosa.
Não clique aqui, abaixo, para ler
do cordel sobre o ponto:
História do ponto
href="http://www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.php?user=toledo">Elpídio de Toledo