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Artigos-->OS HERÓIS DE UMA INFÂNCIA QUASE ROUBADA (vers.Portugal) -- 07/01/2008 - 10:32 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
de Carlos Rogério Lima da Mota



(Adaptado para Portugues de Portugal por: Rodrigo Teixeira & Marco Longo)




O pai chega do trabalho. Está exausto. Foram mais de oito horas nocturnas a enfrentar o caos urbano, a exercer uma das profissões menos desejadas da actualidade, a carregar nas costas o dever de manter a ordem pública a qualquer custo: polícia.



Após um bom banho, deita-se e adormece a contrariar uma rotina diária: guardar o cinturão com a pistola calibre 38 num local seguro, inacessível ao filho ou a qualquer outro civil.

Viúvo, além das ruas, tem que manter a organização da casa, os cuidados com a mãe de setenta e três anos e a educação do filho de oito anos - um miúdo lindo, esperto e de um refinamento sublime. O seu sorriso ostenta o retrato intermitente da mulher que o céu lhe levara por orgulho ou plena inveja.



As horas caminham... Ao levantar-se, o pequeno corre para o quarto do pai. Quer dar-lhe um beijo, revê-lo, como faz todas as manhãs. Mas este dia será diferente. Sobre o sofá há algo que lhe desperta a atenção, aguçando-lhe a curiosidade - parasita que há séculos conduz o homem a caminhos ambíguos.



A calçar sapatilhas cujos ruídos são quase imperceptíveis, caminha em direcção ao cinturão. Quer tocá-lo, ter aquilo que carrega em mãos, matar o desejo sagaz de poder, enfim, ser um polícia como o pai, para matar bandidos, cumprir a lei, ser um herói como os do cinema, desses como Homem-Aranha... Espere aí! O Homem-Aranha não usa armas, pelo menos não de metal. Então, seria o Batman. Ele sim cria suas armas! E que armas! Mantendo o silêncio e com o cinturão em mãos, retorna ao seu quarto.



Está eufórico. Os seus olhos reluzem como faróis em alto-mar. Enfim, ele deixaria de ser um simples mortal para exercer o papel do “senhor de todos os poderes”. Aquele que não tem medo de nada, que mata sem dó, em nome de uma Justiça que só existe nas linhas inspiradas do cartoonista Stan Lee. Com o lençol amarrado ao pescoço a fazer de capa e o cinturão do pai pendurado à cintura com a ajuda de um cordel, pula para a cama e finge, ao viajar na própria imaginação - fértil como ervas daninhas - ser indestrutível, o defensor dos fracos e oprimidos.



Ao tocar na arma, a brincadeira acaba. A curiosidade sobe-lhe pela veia até chegar à mente que, sem qualquer resquício de remorso, faz tomá-la nas mãos. Em frente ao espelho do guarda-roupa, ele diz em sussurros: “Sou o super... super... é... o Batman!” Mas a ingenuidade não imita a arte, nem a vida real manipula a fantasia; a fantasia é quem manipula, em muitos casos, a vida real, tornando-a palco de tragédias que vão de Shakespeare a Nelson Rodrigues.



E com a pistola calibre 38 em mãos, exibe-se perante o espelho quando percebe estar a faltar algo para completar a fantástica aventura ao mundo nada crível dos poderosos da Marvel. Uma máscara! Isso, uma máscara! Procura um papel; não encontra. É quando se dá conta que o seu material da escola está na cozinha, mas teme abrir a porta e despertar o pai que, ao vê-lo com seu cinturão e a sua arma nas mãos, poderia dar-lhe uma sova. Assim, resolve fazer o herói sem máscaras, o primeiro super com a identidade revelada! Mas a fantasia parece novamente ruir quando os raios solares atingem a arma e reflectem para olhos do menino que, enfeitiçado, levanta-a até a altura da cabeça e, vendo-se ao espelho, aproxima-a devagar da fronte.



Com os dedinhos no gatilho, parece perder a razão. Naquele momento não há mais um mortal diante de uma arma, há um Deus da banda desenhada diante de um arqui-inimigo. O vencedor herdará o direito de ter o seu rosto estampado em todas as capas de revistas e jornais de todo o mundo. E na batalha que se aproxima apenas um sairá vencedor. Ao que parece, a arma que enfeitava as vestimentas do herói revolta-se e quer agora dominá-lo assim como dominara toda a raça humana, levando biliões para sete palmos abaixo da terra. E assim acontece! Com a arma rente à cabeça, inebriado por um devaneio letal, dispara. Ouve-se um grito ensurdecedor!



“FILHO! FILHO!!! FALA COM O PAPÁ... FALA!!! POR AMOR DE DEUS!!! –diz, pegando-o ao colo, após pressentir a desgraça, acordar, dar pela falta dos seus instrumentos de trabalho e invadir o quarto do pequeno. FALA COM O PAPÁ! MEU DEUS! – chora desvairado, culpando-se a si próprio pela tragédia.



“Pai... vais bater-me? – rompe o desespero uma voz quase inaudível, amedrontada, como se resgatada do precipício da morte.



A arma não estava carregada. Mas podia e esta história deixaria de ser mais um conto de fadas e heróis norte-americanos para se transformar em capa das páginas policiais.



*E-mail: professorcarlosmota@yahoo.com.br



*E-mail adaptadores: roddymex@gmail.com






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