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Artigos-->O LENDÁRIO THEATRO MVNICIPAL DE SÃO PAULO -- 14/01/2008 - 11:52 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Iniciando um novo estágio na vida cultural da cidade de São Paulo, há quase um século a Ópera Hamlet, adaptação de Ambrósio Thomas, inaugurava o Theatro Mvnicipal. Idealizado por uma equipe de construtores arrojados, o Mvnicipal logo se transformaria num dos pontos mais freqüentados pela elite paulistana, por abrigar as mais variadas manifestações artísticas, do erudito ao popular, em ópera, dança, música e teatro.



De senhores do café a políticos de expressão, de Nair de Teffé - a segunda mulher do presidente Hermes da Fonseca, que ousou escandalizar a “realeza republicana” ao tocar um maxixe ao violão, um tipo de canto plebeu, em pleno Palácio do Governo – a intelectuais como Oswald de Andrade, todos ali se encontravam para debater os rumos do país e se deleitar das muitas viagens poéticas ao mundo introspectivo do ser humano, que as grandes companhias européias de teatro da época tão bem produziam.



O Mvnicipal, glamouroso no estilo, era palco obrigatório às produções internacionais de vanguarda, o que revitalizava a cultura nacional, de essência tupiniquim, motivando artigos de estímulo à arte nos principais jornais do município, atraindo a atenção até mesmo dos menos avantajados.



Ainda hoje, no limiar do novo milênio, o Theatro Mvnicipal é referência àqueles que amam a arte, que sabem distinguir o belo do duvidoso. Estar em uma de suas poltronas acompanhando uma apresentação é como estar no céu, à direita de Deus, contemplando o coral dos anjos. A emoção logo interrompe a fala, as lágrimas avermelham os olhos, o sorriso emerge na face... Tudo parece perfeito! Ainda mais quando se está no palco, em plena apresentação, a Orquestra Sinfônica Municipal, entoando Aleluia, de Haendel, Nocturne, de Chopin e a espiritualista Tocada e Fuga em Ré Menor, de Bach.



Ecoadas pelas galerias, as notas elevam os presentes ao estágio-mor da inércia física; por instantes, é como se o chão desaparecesse, a realidade cedesse à fantasia e o semblante, retocado por uma altivez metafísica, reluzisse impiedoso em meio à escuridão... Naquele momento, extasiados, não havia pobres nem ricos, brancos nem negros, intelectuais nem ignorantes, todos eram iguais, desafiando, a certa altura, de modo um tanto irracional, as mais exuberantes teses freudianas.



Assim estava Maria, a empregada dos Ferrara – tradicional família paulistana, sentada ao lado dos patrões, assistindo, pela primeira vez, a um show de verdade, que de tão desejado, pensou jamais tornar crível. Não acreditava que, após sessenta anos servindo aos mesmos senhores, na mesma casa, vendo o mundo passar da janela de seu quartinho, lá nos fundos, ou através das festas maravilhosas que só sua senhora sabia tão bem preparar, lá estaria, no Mvnicipal, a convite – era seu aniversário, como gente de verdade, ainda que em trajes simplórios, de um tecido encontrado em qualquer lojinha de esquina; mas com uma alma incólume, de uma valia para lá das centenas de milhares daquilo que o homem acostumou-se a chamar de dinheiro. Sim! Com uma alma vívida, cuja pureza assemelhava-se a de um cristal... Isso que realmente importava!



Para ela e, talvez até mesmo para o Mvnicipal – sempre acostumado à nata da socialite arrogante, os dias vindouros jamais seriam os mesmos, afinal, carregariam para sempre um pouco da emoção que ela agora vivenciava, após esperar décadas por tal feito. E, para a alegria de todos, lá permanecerá o Mvnicipal por mais muitos séculos, aguardando que outras Marias venham e voltem realizadas em seus mais íntimos e profundos desejos, que, de certo, serão tão simples como a dessa empregada...

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