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Artigos-->Eu ouvi -- 28/01/2008 - 12:17 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já se passaram quatro anos desde o dia que, no caminho para o meu trabalho, à altura da Granja do Torto – residência do Presidente da República –, avistei um moço pedindo carona acompanhado de uma garotinha de uns quatro anos de idade. Como já peguei muita carona nos tempos de estudante, não tenho muitas restrições em dividir meu carro com um estranho. Iniciamos uma conversa, e a tônica da fala dele era se queixar da irmã. Ele disse que era pobre, estava desempregado, não tinha dinheiro nem pra pagar uma passagem de ônibus, enquanto a irmã e o esposo eram ricos, tinham bons empregos e moravam no Lago Sul – região nobre de Brasília. Naquele dia, ela se recusara a ajudá-lo com algum dinheiro para a passagem e piorou a situação chamando-o de vagabundo e preguiçoso. A garotinha estava no banco detrás e ouvia tudo calada. Diante da insensatez da malvada irmã, até achei que ela merecia uns pescoções.

Dois anos depois, saí com minha amiga Suzana, angustiada porque descobrira que o seu casamento estava desabando. Segundo ela, o motivo principal era a falta de brilho. Era uma mistura de insosso com fosco. Como estávamos na época de natal, ela disse que era um tal de compro isso e aquilo, mas o casal não tinha nenhum compromisso com as coisas matrimoniais. No dia anterior, ela e o marido visitaram um centro comercial todo iluminado, mas quando chegaram a casa não havia brilho na relação. Embaixo dos lençóis não rolava nada, aliás, há dias não havia “rolação”.

Passando pela torre de televisão iluminada, ela comparou o seu casamento a uma árvore de natal. Ela disse que a árvore de natal é a coisa mais linda do mundo quando está acesa. Mas ela é egoísta, reserva o maior brilho para si mesma, não ilumina ao longe nem ao redor. Se desligarmos as luzes em volta, aí é que ela fica mais egoísta... E linda! Mas não ilumina adiante nem ao redor. Com os olhos marejando ela afirmou que o casamento dela também não iluminava um ao outro nem os seus caminhos. Estava ali, brilhando para os outros, mas sem brilho suficiente para guiar o casal. Prosseguindo em sua divagação, ela sugestionou que ela e o marido fossem duas árvores de natal iluminando a si próprios. E mais calma, ela refletiu também sobre outras luzes. Quem sabe eles não seriam uma tocha, cada qual iluminando muito a si mesmo. Embora seja uma claridade de mais alcance que a árvore de natal, a tocha ainda é insuficiente para clarear o caminho.

Absorta em seus pensamentos, ela disse que o ideal é que o casamento dela, e tantos outros, fossem como uma lâmpada que ilumina tudo ao redor. Mas seu casamento estava longe disso. Era diferente da tocha que ilumina a si e ao redor. Também era diferente do farol que só ilumina longe e à frente. Mas não ilumina os lados nem atrás. Como num momento mágico uma estrela despencou do céu e Suzana finalizou dizendo que o ideal é que o seu casamento fosse igual a uma estrela que de tanto brilho iluminaria todo o universo. Algumas lágrimas caíram juntando-se a tantas outras.

Ouvi tudo em silêncio e a admirei mais ainda porque, em nenhum momento, ela culpou o marido pelo fracasso deles, coisa comum quando um casal está em conflito.

A conversa seguinte deu-se há poucos dias num fim de tarde numa praça na Bahia, enquanto eu espreitava uns pássaros para fotografá-los (você pode conferir as fotos no endereço http://fotolog.terra.com.br/joaorios/). Ao meu lado, sentaram-se duas senhoras já aposentadas e conversamos principalmente sobre futebol e tênis. Impressionou-me o quanto uma delas entendia de futebol, sabia o nome de vários jogadores, acompanhava os jogos brasileiros, mas preferia os campeonatos europeus. Ela ainda estava aprendendo sobre tênis. O outro assunto foi o síndico daquele condomínio onde elas moravam. Elas me disseram que ele já estava no poder há quase vinte anos, era um ‘esperto’ e ninguém conseguia derrotá-lo numa eleição. Mas não fizeram nenhuma acusação à honra e à moral do sujeito. Ambas eram descontraídas e a conversa foi muito animada. Mais ouvi do que falei, porque entendo quase nada de futebol e não conheço o síndico.

Voltando a Brasília.

Ontem eu atravessava o parque da cidade quando avistei um moço pedindo carona acompanhado de uma garotinha de uns oito anos. Iniciamos uma conversa e a tônica da fala dele era se queixar da irmã. Ele disse que estava desempregado e cansado de tantas caronas naquele dia, pois não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus. Ele disse que estava vindo da casa da irmã, que era rica, ela e o marido tinham bons empregos e moravam no Lago Sul. Naquele dia, ela se recusara a ajudá-lo com R$ 80,00 para pagar um curso para entrar no Corpo de Bombeiros. Ele disse que era formado em Educação Física e faixa preta de judô, mas não podia trabalhar porque tinha lesionado a coluna na academia. Ele se mostrou bastante decepcionado com a irmã porque ela o tinha expulsado de casa chamando-o de vagabundo e preguiçoso. A garotinha estava no banco detrás e ouvia tudo calada. Ele não me reconheceu. Ouvi calado e calado achei que ele é quem merecia uns pescoções.

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