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Artigos-->APONTAMENTOS SOBRE ALGUNS PENSADORES MODERNOS -- 22/03/2008 - 18:17 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APONTAMENTOS SOBRE ALGUNS PENSADORES MODERNOS





Paccelli José Maracci Zahler





O entendimento do modo de conceber e fazer Filosofia em alguns pensadores modernos deve passar pela compreensão do seu contexto histórico.

Historicamente, a Filosofia Moderna corresponde ao período da história ocidental que começa depois do Renascimento, a partir do século XVII e costuma ser associado a alguns termos-chaves como razão, ciência, técnica, progresso, emancipação, sujeito, historicismo, metafísica, niilismo (ABBAGNANO, 2007). No início deste período, não haviam normas e critérios para a investigação filosófica e as discussões entre os pensadores do copernicanismo e a Igreja Católica acabaram gerando crises quanto à interpretação dos fenômenos naturais (UCB, 2008).

Entre 1620 e 1650, surgem as obras de Francis Bacon (Novum organum), Galileu Galilei (Diálogo) e René Descartes (Discurso sobre o Método).

René Descartes, nascido em 1596, em La Haye, Toraine, França, estudou no colégio jesuíta de La Flèche, porém, ficou decepcionado com o que aprendeu e concluiu que a filosofia escolástica não conduzia a nenhuma verdade indiscutível. Partiu então à procura de novas fontes do conhecimento, baseadas na experiência de vida e na reflexão pessoal. Praticou equitação, esgrima, foi soldado e preceptor.

Em 1628, Descartes publica o livro “Regras para a direção do espírito”, onde afirma que “a unidade do espírito humano, qualquer que seja a diversidade dos objetos de pesquisa, deve permitir a invenção de um método universal”. Começa então a preparar o “Tratado do Mundo”, a cuja publicação desiste, em 1633, ao tomar conhecimento da condenação de Galileu Galilei pela Igreja Católica, por defender idéias sobre a necessidade da reforma das ciências, idéias estas que muito se assemelhavam às suas. Entretanto, em 1637, decidiu publicar três resumos de sua obra científica: “A Dióptrica”, “Os Meteoros” e “A Geometria”. Tais resumos foram acompanhados por um prefácio que se tornou famoso: o “Discurso sobre o Método”.

Segundo Descartes, o seu método, inspirado nas matemáticas, era capaz de provar rigorosamente a existência de Deus e o primado da alma sobre o corpo. Para ele, “Deus é o único ser perfeitamente sábio, que possui um conhecimento perfeito de todas as coisas, porém, os homens têm maior ou menor sabedoria na medida em que seu conhecimento das verdades mais importantes é maior ou menor” (DESCARTES, 2007).

Em suas obras, Descartes procura demonstrar que nosso espírito possui três tipos de idéias, que se diferenciam segundo sua origem e qualidade (CHAUÍ, 1998):

1) As idéias adventícias: originadas pelas nossas sensações, percepções, lembranças; que nos vêm pela experiência sensorial e que, geralmente, são enganosas porque não correspondem à realidade, visto que nossos sentidos nos enganam;

2) As idéias fictícias: são aquelas inventadas por nós, frutos da fantasia e da imaginação;

3) As idéias inatas: são aquelas inteiramente racionais e que só podem existir porque já nascemos com elas; e, como são colocadas por Deus em nosso espírito, serão sempre verdadeiras e correspondem integralmente às coisas a que se referem, permitindo julgar se uma idéia adventícia é verdadeira ou falsa; e saber que uma idéia fictícia é sempre falsa. São as idéias mais simples que possuímos, ou seja, não são compostas por outras idéias e a mais famosa delas é o “Penso, logo existo”. São também conhecidas como intuição e são o ponto de partida da dedução racional e da indução, que conhecem idéias complexas ou compostas.

A tese central dos inatistas é: se não possuirmos em nosso espírito a razão e a verdade, nunca teremos como saber se um conhecimento é verdadeiro ou falso; não saberemos se uma idéia corresponde ou não à realidade a que ela se refere; e não teremos um critério seguro para avaliar os nossos conhecimentos (CHAUÍ, 1998).

É com base nessa tese, a do inatismo, a de que o conhecimento está dentro de nós e não nos livros que lemos, apesar de Descartes ter afirmado que “a leitura dos bons livros é o mesmo que conversar com as pessoas mais honestas dos séculos passados” (DESCARTES, 1978), que este filósofo apresenta seu método para auxiliar-nos na busca da Verdade.

Dizia DESCARTES (2007) que um conhecimento perfeito de tudo o que um homem pode saber, é necessário ser deduzido das causas primeiras, chamadas “Princípios”, os quais devem obedecer a duas condições:

a) Ser tão claros e evidentes que o espírito humano não possa duvidar de sua verdade; e

b) O conhecimento de outras coisas deve ser tão dependente deles que, embora os próprios “Princípios” possam ser conhecidos separadamente daquilo que depende deles, o último jamais possa ser conhecido separadamente dos primeiros.

Segundo ele, quando fazemos uso de falsos “Princípios”, mais nos afastamos da Verdade e da Sabedoria.

Tomando por base essas premissas, Descartes desenvolveu o seu ‘método universal’, estabelecendo os seguintes critérios para alcançar o verdadeiro conhecimento:

1) Evidência: não admitir nenhuma coisa como verdadeira se ela não for admitida como tal;

2) Análise: dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis;

3) Síntese: começar pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, chegar aos mais complexos; e

4) Fazer desmembramentos tão complexos a ponto de estar certo de que nada foi omitido.

Com esse método fundamentado na razão, Descartes passa a ser reconhecido como o fundador da Filosofia Moderna.

Em contraposição às idéias de Descartes e do inatismo, surgem os defensores do empirismo, para os quais a razão, a verdade e as idéias racionais são adquiridas por nós através da experiência (CHAUÍ, 1998). Os expoentes dessa linha filosófica foram John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776).

Em sua obra “Ensaio sobre o entendimento humano”, de 1690, Locke polemiza com Descartes ao demonstrar, com argumentos extraídos da experiência, a inexistência das idéias inatas. Para ele, as crianças, os loucos e os selvagens não possuem qualquer idéia de Deus, nem dos princípios geométricos fundamentais, ou seja, no conhecimento não existe nada inato, tudo é aprendido com a experiência. Disse que a mente humana, ao nascer, é uma tabula rasa, um papel em branco sobre o qual a prática do mundo externo e a reflexão do indivíduo sobre si mesmo imprimirão aqueles sinais que denominamos conhecimento (NICOLA, 2005).

Para Hume, o princípio basilar de todo o pensamento científico é o de causa-efeito, permitindo que determinados eventos possam ser previstos como conseqüência necessária das causas que o produziram.

É muito interessante a afirmação de Hume, no livro "Tratado sobre a Natureza Humana", que diz:

"Todos os raciocínios que dizem respeito à causa e ao efeito estão fundados na experiência e todos os raciocínios que derivam da experiência estão fundados na suposição de que o curso da natureza continuará a ser uniformemente o mesmo. Nós concluímos que causas semelhantes, em circunstâncias semelhantes, produzirão sempre efeitos semelhantes. Pode ser oportuno agora considerar o que nos leva a formular uma conclusão de tão infinita amplitude."

Para ele, a relação causa e efeito se baseia no hábito ou representa uma simples e não motivada crença psicológica que é muito útil no cotidiano, porém destituída de fundamento lógico; e contesta a validade dos dois pressupostos da Metafísica que diziam:

1) A realidade em si existe e pode ser conhecida;

2) Idéias ou conceitos são um conhecimento verdadeiro da realidade porque a verdade é a correspondência entre as coisas e os pensamentos, ou entre o intelecto e a realidade.

Hume mostrou que o sujeito do conhecimento opera associando sensações, percepções e impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória. Assim, as idéias nada mais seriam que hábitos mentais de associação de impressões semelhantes ou de impressões sucessivas.

Para Hume, "nós nos iludimos crendo que, se fôssemos trazidos de repente a este mundo poderíamos imediatamente deduzir que uma bola de bilhar pode comunicar movimento a outra". Segundo ele, "mesmo depois da experiência vivida, a conexão entre causa e efeito continua arbitrária", ou seja, a causa e o efeito são dois acontecimentos distintos. A previsão seria arbitrária.

Segundo Hume, a relação causal é injustificável e que a crença nela só pode ser explicada pelo instinto, isto é, pela necessidade de viver que a requer.

O critério usado por Hume, para demonstrar a insuficiência da teoria clássica, é o da previsibilidade. A relação causal deve tornar previsível o efeito, mas nenhuma dedução `a priori` pode tornar previsível um efeito qualquer, por isso, a dedução é incapaz de fundamentar a relação causal (NICOLA, 2005).

A repetição, empiricamente observável, de conexão entre dois eventos é o único fundamento para afirmar uma relação causal.

A partir desta exposição, podemos retomar a questão proposta: “Como é possível (ou é impossível) conciliarmos o conhecimento abstrato e objeto (relaciona-se aos juízos analíticos do racionalismo) e o conhecimento concreto subjetivo (trata dos juízos sintéticos do empirismo)?”

Respondendo à questão, podemos dizer que tanto as idéias de Descartes como as de Locke e Hume influenciaram a pesquisa científica e a epistemologia atuais.

A ciência atual passa pelo empirismo de Hume e pelo método analítico de Descartes. Entretanto, existe uma tendência maior para o empirismo. Geralmente, os ensaios científicos são delineados com várias repetições (como disse Hume, “as idéias nada mais seriam que hábitos mentais de associação de impressões semelhantes ou de impressões sucessivas”) aos quais são aplicados métodos estatísticos ou matemáticos de análise (de acordo com o método de Descartes), cujos resultados se apresentam como probabilidades associando causas e efeitos; e o evento mais provável é considerado como verdade científica até ser superado por outro mais elaborado. Aqui, surge o grande problema: se fazemos ciência pela repetição de eventos dentro de determinadas condições controladas, os quais são associados com causas e efeitos, e esperamos que eles obedeçam à curva normal para que possamos tirar conclusões estatisticamente válidas, realmente conhecemos as coisas que nos cercam?

O que se verifica é que a nossa ciência, tal e qual a conhecemos e praticamos, utilizando os ensinamentos preconizados por Descartes e Hume, apresenta-se como útil à sociedade em vários campos do conhecimento, da Medicina à Engenharia, porém, filosoficamente falando, não nos aproximou da Verdade.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

2. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998.

3. DESCARTES, René. Discurso sobre o método. São Paulo: Hemus, 1978.

4. DESCARTES, René. Princípios da filosofia. São Paulo: Rideel, 2007.

5. NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. São Paulo: Globo, 2005.

6. UCB. UEA-03 – O modo de conceber e fazer filosofia de alguns pensadores modernos. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008.

7. http://www.mundodosfilosofos.com.br



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